Capítulo: 04

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Assim que Allyson entrou naquela cela, sentiu calafrios. Era um lugar frio, sombrio. Toda fechada havia apenas uma pequena abertura na porta, onde provavelmente eles usavam para distribuir a comida. E na outra extremidade do pequeno cubículo havia um quadrado de no máximo 40 cm quadrados protegido com barras de ferro, aonde vinha uma luz muito fraca do sol.

Ali não havia cama, apenas um colchão muito fino. E no chão algo que parecia servir como vaso sanitário. Allyson já havia visto celas outras vezes mais aquilo era horrível. 

O som da porta de metal rangendo ao ser aberta, fez com que Allyson voltasse de seu transe. Ela usava sua habitual saia preta justa até os joelhos e uma camisa verde e botões de pérola. Gostava muito daquela camisa, sentia medo de se encostar-se a qualquer lugar que fosse daquele lugar, temia que pudesse sujar sua roupa. Então quando a porta se abriu ela quis recostar-se contra a parede do outro lado, mais desistiu. 

Assim que Dinah entrou e a viu, primeiramente Allyson notou sua expressão de surpresa, e isso já a deixou animada. Mais logo em 
seguida ela voltou a seu estado de desinteresse. Sentou-se no colchão e abraçou os joelhos, e ficou encarando Allyson em pé a sua frente.

Dinah Jane estava exatamente da 
mesma forma que outra vez que a Allyson há havia visto. 

- Olá Dinah Jane. Surpresa em me ver? - Foi à pergunta animada de Allyson.

- Diga o que quer saber Doutora - Disse a outra friamente, agora olhando para as próprias mãos.

- Quero que me conte tudo. Exatamente tudo o que houve no dia em que aconteceu o crime.

- E o que eu ganho se fizer isto? - Perguntou ela ainda olhando para as mãos.

Allyson riu impaciente.

- Ganhará sua liberdade se cooperar comigo, será que não percebe isto?

- Ganho a liberdade agora?

- Pare de se fazer de desentendida Dinah. Colabore, sim.

- Se eu relatar tudo a você agora quer que me dê algo em troca, agora.

Suspirando longamente em sinal de impaciência, Allyson começou a andar de um lado a outro da cela. Com certeza se seus cabelos não estivessem totalmente presos num coque ela já estaria passando as mãos neles repetidas vezes. Então parou novamente em frente à moça:

- O que a Senhora deseja?- Perguntou Allyson olhando, muito irritada.

- Que perfume está usando? - Perguntou ela.

- Quer o meu perfume? Olha não costumo trazer um perfume na bolsa. E mesmo se o fizesse... Não vê que estou sem bolsa? Olha...
- Não quero seu perfume. Quero apenas senti-lo.

- O que? - Disse Allyson assustada.

- Relaxa Dra. Sente-se aqui. - Convidou Dinah apontando para seu lado no colchão. Allyson a olhou intensamente, intrigada
sobre o que ela estaria tencionando.  Talvez ela a quisesse intimidar. Mais Allyson não cairia 
em seu jogo. Sentou-se a seu lado. Ficaram a apenas um corpo de distância.

- Pronta moça. Agora podemos começar?

- Antes deve me dar o que eu quero.

- O que quer Dinah Jane?

-Já disse. Sentir seu perfume.

- Já não o está sentindo? - Allyson começava a ficar intrigada, mais não tinha ideia do que estava acontecendo.

- Onde você costuma borrifar o perfume? A voz de Dinah era quase um sussurro.

- Sei lá! Talvez no pescoço, não me lembro e nos pulsos. Ora Dinah, pare de besteiras, vamos direto ao assunto.

- Deixe-me sentir seu perfume, e digo o que quiser.

Aproximando a cabeça em sua direção agora mais intrigada ainda Allyson mordeu o lábio inferior antes de dizer:

- Ok, ok. Sinta.

Dinah sorriu vitoriosa e aproximou o rosto bem lentamente do rosto de Allyson. Ela manteve-se imóvel mais sua respiração ficou estranhamente mais acelerada. Será que ela estaria com medo?

Dinah aproximou-se do pescoço dela e Allyson involuntariamente voltou o rosto pro outro lado deixando exposta. Dinah tocou a ponta do nariz na pele de Allyson. Esta continuou imóvel.

- Que cheiro bom você tem. Sussurrou ela no ouvido de Allyson, que apenas nesse momento pode perceber o que estaria havendo. 

Imediatamente quis afastar-se. Mas então Dinah segurou seu pulso firmemente e o levou próximo ao rosto. Agora a ponta de seu nariz recostava-se sobre a pele do pulso. 

Allyson a olhava intrigada, num misto de curiosidade e tensão.

Dinah soltou seu pulso no minuto seguinte, e ficou observando a mulher loira, que agora tinha as faces coradas.

- Pronto Dra. Viu como foi fácil?!
Allyson continuou sentada a seu lado, entretanto afastou-se um pouco mais.

- Podemos então agora, falar daquele dia?

-Claro Dra. Agora pode fazer o que você quiser.

Dinah relatou a Allyson tudo o que havia ocorrido há três anos, quando ocorreu o assassinato de Valmir Prada, seu cunhado, marido de sua irmã mais jovem Lara. Dinah contara que naquela quinta-feira tudo corria normalmente em sua vida. 

Acordara bem cedo pra seus exercícios matinais antes de abrir a clínica. Após, atendeu a primeira turma para yoga que durou das nove da manhã ás onze horas. A tarde ela resolvera que tiraria de folga, pois havia poucos alunos e ela estava cansada. Estava tomando sol no gramado que tinha entre a clínica e sua pequena edícula, quando percebeu a presença de seu cunhado a seu lado.

- Ele sempre me perseguiu desde que o conheci. Acho até que se casou com minha irmã apenas pra poder ficar próximo de mim.

Allyson continuava em silêncio, olhando-a nos olhos. Tentava analisar cada palavra juntamente com a expressão no olhar de Dinah.

Então ela continuou seu relato, onde disse que assim que avistou Valmir, tentou levantar-se rapidamente, mais ele partiu pra cima dela, neste momento ela percebeu que ele estava sob o efeito do álcool, como ele estava usando apenas um biquíni, foi fácil para ele tentar arrancá-lo, e foi o que ele fez.

Quando ele já estava sobre o corpo dela ela conseguiu atingir-lhe a virilha com o joelho e ele caiu. Ela correu pra dentro de sua casa mais antes que pudesse fechar a porta ele já estava forçando a entrada, jogando-a para longe. Enfim, quando finalmente pela segunda vez ela conseguiu se livrar dele, rapidamente pegou a arma que se encontrava na gaveta da cômoda próximo a sua cama, e assim que ele tentou novamente se aproximar, ela atirou nele seis vezes.

- Os vizinhos ouviram os tiros, ligaram pra polícia e assim que eu acabei o serviço, fui presa.

- Por que simplesmente não o mandou sair de sua casa?

- Já estava cansada de ter aquele homem todos os dias me perturbando. Ligava-me, ia até a clínica. Eu estava de saco cheio. Adorei acabar com ele.

Allyson ficou por alguns instantes observando a outra que agora parecia mais agitada do que quando havia começado a falar.

Estava em pé encostada-se à parede, com as mãos na cabeça de olhos fechados:

- Acontece que nos dois julgamentos pelos quais você passou. A acusação alegou que você não tem prova alguma de que ele a perseguia. Até mesmo sua família se contradisse! Os alunos jamais o viram perturbando-a das raras vezesem que o viram 
em sua clínica. E mais uma coisa: foi constatado que Valmir já estava morto uma hora antes dos legistas chegarem. Como justifica isto Dinah?

- Não justifico nada. Ele quis me estuprar e eu o matei.

- Você está escondendo algo Dinah. Não sei o que é mais vou descobrir.

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