Anastácia estava pendurada na sua vassoura de sempre.
– Você chegou tarde, hoje.
– Teve reunião depois do trabalho – expliquei.
– Seu Jamesson tá bem irritado contigo.
– Não precisa me dizer. Eu tenho evitado ele há duas semanas. – Fiquei tentando abrir a porta do condomínio, mas minha chave parecia não entrar. – O que você tá fazendo aqui fora, afinal? E por que tá de cabeça pra baixo?
– Tava esperando você, ué. – Ela se ajeitou, girando no ar para sentar com as pernas cruzadas sobre a vassoura flutuante. – E praticando a manipulação da minha própria corrente sanguínea. Seu Jamesson mandou avisar pra você ir na guarita pegar sua chave nova.
Eu demorei um pouco para processar aquilo.
– Como assim? – Virei a cabeça pra ela quando finalmente achei que tinha entendido. – Chave nova?
– Ele trocou a fechadura dessa porta e deu chaves novas pra todo mundo. Menos pra você. Você tem que ir buscar na guarita.
– Depois de todo o trabalho que eu tenho tido pra evitar a guarita? Não é fácil entrar aqui sem ele ver, sabia?
– Eu não saberia – ela retrucou. – Eu voo.
– Tsc. – Olhei desolado para o chão por um momento. – Me dá uma força, Naná. Eu vou ter dinheiro semana que vem, então eu pago o aluguel. Não quero ter que discutir com ele antes disso.
Ela levou um dedo ao queixo.
– Hmmm...
Revirei os olhos.
– Eu faço um acordo com você.
– Eba! – Ela rodopiou no ar. Eu não sei como é que o chapéu não cai da cabeça. Ao terminar o rodopio, ajeitou os cabelos púrpuras que cobriam parcialmente o olho esquerdo e puxou a varinha da manga do robe.
– Espera. O que você vai fazer?
– Calma. Eu não vou te transformar em nada... nojento – ela deu uma risadinha divertida. Mas eu sabia que existia um quê de crueldade lá atrás.
– Eu tava pensando em você só me voar pro outro lado. Sabe como é, na vassoura.
– Daisuke, eu já falei que você não pode montar na minha vassoura.
Dei de ombros.
– Por que não?
– Porque não é assim que a magia funciona!
Ela apontou a varinha para a porta, que destrancou com um clique.
– Obrigado.
Eu abri a porta e entrei na propriedade. Ela veio me seguindo, flutuando atrás.
– Você não parece aborrecido.
– Não estou.
– Por quê? – Ela parecia bastante curiosa.
– Eu deveria estar?
Cruzamos a estradinha de pedra e ela destrancou a segunda porta sem eu pedir.
– Sei lá, com toda essa situação.
– A culpa é minha – expliquei. – Seu Jamesson está no direito dele. Eu só quero evitar o conflito.
Comecei a subir as precárias escadas do nosso condomínio. Anastácia ia flutuando ao meu lado. Eu acho surpreendente como ela consegue conduzir essa vassoura velha num espaço tão apertado.
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Vanitas: uma fatia de morte
FantasyDaisuke é um jovem adulto cheio de ansiedades existenciais, que vive contemplando a morte e a natureza efêmera de todas as coisas. Na sua tentativa de navegar por uma existência aparentemente insignificante, ele tem vários encontros com personagens...