08: Lembra-te que morrerás (Parte 1)

124 6 3
                                    

– Sammy.

– Oi.

– Que porra é essa?

Havia pessoas com cabeças de abóbora andando pra lá e pra cá. Gente carregando lampiões, trajando longas capas pretas e usando chifres luminosos. No pátio do Casarão, garotas com todo tipo de fantasia sexy passeavam com coquetéis: bruxas sexy, zumbis sexy, múmias sexy. A múmia sexy era um caso especial de contrassenso, com faixas brancas de Oxford cobrindo apenas o essencial. Acima do portão principal, adornado com chamas de papel colorido e caveiras perturbadoramente realistas, havia um letreiro destacado, branco e elegante, quase como o de um prédio público:


MEMENTO MORI


– O quê? – indagou Sammy, visivelmente confusa. – A festa?

– Você não me disse que era uma festa temática.

– Não disse? Poxa, mas pudera, né? É Halloween. Ou tu achava que eu viria vestida assim pra uma baladinha normal?

Ela ergueu os braços para exibir os delicados véus pendurados, e balançou os quadris para agitar os penduricalhos dourados na larga calça avermelhada. Apenas uma faixa amarela cobria seus seios. Eu tinha, sim, estranhado a roupa dela, mas não tinha dito nada. Era a primeira vez que eu ia a uma festa com Sammy, até onde eu sabia ela podia ir de biquíni.

– E isso é o quê? – perguntei enfim. – Dançarina do Ventre?

– Claro que não, sua poc. – Ela fechou a cara. E fez uma pose. – Sou uma gênia sexy!

– Eu não saberia que gênios se vestem assim – retruquei. – Minha única referência é o Aladdin.

– Deveria ser suficiente. – Sammy jogou o cabelo pro lado e entrou no pátio a passos largos. Eu a segui, sem jeito. – Ai minha deusa, Dai. Aqui tem cada mulher. Argh. Mas eu tenho que focar! Foco na crush!

– Eu não posso ficar aqui, Sammy.

– Oxe, por quê?! – A voz dela subiu quase como um apito de cachorro.

– Você não me disse que era uma festa de Halloween, Sammy. Eu sou a única pessoa sem fantasia.

– Ah, relaxa. Que besteira! Tu tá parecendo o L.

Olhei para as minhas próprias roupas.

– L?

– De Death Note – ela explicou. Não que eu tenha entendido alguma coisa. – E se tu continuar sem dormir, nem vai precisar de maquiagem pra ficar igual. – Ela falou isso rindo, não sei se de mim.

Atravessamos a estradinha de pedras no gramado e subimos as escadas de madeira do Casarão. Uma garota esguia de cabelo azul e touca esbarrou em mim e saiu xingando. Eu perdi Sammy de vista, e a reencontrei conversando com o atendente no balcão. Tinha gente encostada, conversando, passeando e bebendo por todo lado. A música não estava tão alta, e o ambiente parecia bastante tranquilo.

Sammy acenou pra mim do balcão e apontou para uma mesa livre. Fui até lá e sentei ainda desconfortável. Dois minutos depois, ela chegou com dois copos enormes com algo vermelho dentro.

– O que é isso?

– Coquetel. – Ela já estava engolindo. – Bebe.

Vanitas: uma fatia de morteOnde histórias criam vida. Descubra agora