– Olha, eu já falei. Não liga pra isso.
Sammy desceu mais uma dose.
– Eu não tô ligando.
– A mulher que eu gosto quer te comer. Grande coisa. Quem liga? – Mais uma.
Eu na verdade estava me sentindo meio violado pelo toque daquela mulher. Constantemente olhava por cima do ombro para me certificar de que ela não reapareceria. Havia centenas de pessoas no Casarão, mas quando eu ia ao banheiro, receava topar com ela. De alguma forma, ficar longe de Sammy parecia uma má ideia, como se a presença dela me protegesse da extensão completa da nocividade de Moira.
Sammy, por outro lado, já tinha tomado todas e mais algumas.
– Vou pra pista! – anunciou ela, ao bater com o copo vazio na mesa. – Cuida aqui que eu já volto.
Tive um mini ataque de pânico enquanto ela levantava.
– Eu vou contigo.
– Mas a gente vai perder a mesa! – protestou ela.
– Você quer dançar ou ficar sentada? – rebati.
Ela considerou longamente a mesa cheia de copos e garrafas vazias.
– Okay, vamo lá! – Pegou meu braço e me puxou pela comoção da passarela. Descemos as escadas e demos a volta até a pista.
O DJ já estava tocando há algum tempo, agora, misturando música eletrônica com uns sons de filmes de terror. Gritos, gemidos, uivos, risadas e uns sons guturais. Às vezes a música ficava tão violenta que eu mal conseguia ouvir meus pensamentos.
– Ei! Olha! É uma Chloe! – Sammy gritou apontando o dedo para a garota de cabelo azul que tinha esbarrado em mim no início da festa. – Chloe! Eu te amo!
Ela correu e agarrou a menina, que ficou rindo constrangida, e tentando se desvencilhar. As amigas dela caíram na gargalhada. Eu puxei Sammy e pedi desculpas.
– Você não pode agarrar desconhecidas, Sammy – informei.
– Isso é besteira! – reclamou ela, e deu as costas. – Vamos!
– Você não ia dançar?! – perguntei, seguindo-a escada acima. A música agora estava tão alta que só nos podíamos ouvir gritando.
– Eu vou! Mas não agora!
– É bom você decidir logo, então! Não tô a fim de ficar dando voltas aqui dentro!
– Tu não precisa ficar cuidando de mim! – gritou ela, um pouco agressiva.
– Não tô falando disso!
– Estive em todas as festas sozinha até agora, tu não precisa ficar se não quiser! – Ela me ignorou totalmente. – Vou ao banheiro! Não me siga!
E desapareceu no mar de gente.
Fiquei esperando por ela na escada de acesso à pista por uns bons trinta minutos. Toda vez que alguém se aproximava, eu olhava alarmado. Eu definitivamente não estava no meu lugar. Cada minuto que passei sozinho foi um minuto pensando em como eu podia estar pesquisando meu TCC, ou falando com meus pais. Ou dormindo. Provavelmente dormindo. Eu não tenho dormido muito ultimamente. É, realmente, esse negócio de aceitar vir à festa com Samantha não foi mesmo a melhor das ideias.
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Vanitas: uma fatia de morte
FantasyDaisuke é um jovem adulto cheio de ansiedades existenciais, que vive contemplando a morte e a natureza efêmera de todas as coisas. Na sua tentativa de navegar por uma existência aparentemente insignificante, ele tem vários encontros com personagens...