Contei para a Amanda da regressão na noite anterior.
- Estou te falando Augusto, é a mesma pessoa. – Amanda disse. – A mesma cicatriz, os mesmos olhos.
- Mas não os mesmos cabelos, nem a cor e nem o corte, além do nome diferente. No meu sonho eu o chamei de René. – Eu disse.
- Augusto presta atenção, cor de cabelo, corte e nome tudo é fácil mudar. Mas os olhos e uma cicatriz são muito mais difíceis, principalmente no interior da França pós-revolução francesa. – Amanda disse.
- Faz sentido. Mas tudo isso é tão estranho. – Eu disse.
- É maravilhoso. Você roubou o amante da sua esposa. Será que eu era a sua esposa e você roubou meu amante. – Amanda sorria. - Veja te conheço desde criança, já namoramos, mas não deu certo. Agora vou arrumar um namorado e você vai roubá-lo de mim. Vamos repetir a vida passada.
- Você esta brincando né? – Eu perguntei serio.
- É uma brincadeira Augusto, mas pode ser que nos conhecemos de outra vida. Por que não posso ser a Desiré, isso não é impossível. – Amanda disse.
- Claro que é. Você não é a Desiré, eu sei disso. E não acho que seja uma vida passada de verdade. Apenas uma criação da minha mente. – Eu disse.
- Todo mundo que conheço que fez regressão se convenceu que realmente era outra vida. E essa parte de reconhecer não é como você pensa. Ninguém tem o mesmo corpo. Quando você reconhecer será quando vê a alma da pessoa. - Amanda disse.
- Amanda não viaja. – Eu disse.
- É serio Augusto. O segredo é reconhecer a alma, não à aparência física. Não é novela ou filme que os atores são os mesmos no passado e no presente. Provavelmente Pierre não tem a sua aparência, mas você o vê como se fosse você por que é assim que você se enxerga. – Amanda disse.
- Viagem de mais pra mim Amanda. Chega vamos mudar de assunto. Eu preciso estudar. Essa historia esta me deixando displicente com os estudos. E essa semana nos temos provas. – Eu disse.
- Então vamos estudar. Quer ir lá pra casa a noite? Podemos estudar juntos. Prometo não falar do romance secreto de Augusto e Edmond. – Amanda disse, vendo a minha cara de bravo corrigiu. –Augusto não, Pierre e Edmond.
Após o meu estagio fui para a casa da Amanda que cumpriu o prometido, apenas estudamos sem tocar no assunto. Voltei pra casa tentei dormir, mas não conseguia, uma grande inquietação e um tesão ainda maior. Masturbei-me pensando em Edmond, na sessão do dia anterior, naquele corpo, naqueles olhos azuis, em todos os meus sonhos com aquele desconhecido. Gozei, um prazer enorme, mas depois um arrependimento e culpa. “Estou virando viado”.
A semana passou rápido, com o estagio provas e estudos na casa da Amanda não tive muito tempo para pensar naquela história. Mas todas as noites eu tinha que masturbar pensando em Edmond.
- Deite no divã. – João me pediu.
Estava de volta naquele estabulo, assustado vendo os olhos de Edmond me encarando. Ele não disse nenhuma palavra e voltou a dormir. Eu limpei o rapaz e voltei para o palácio.
- Desiré, vamos consumar o casamento esta noite. – Eu disse. Sabia que ela ainda não estava pronta. Havia se passado uma semana desde o nosso casamento. Era tempo suficiente para o seu luto. Eu estava excitado, precisava dela, precisava de sexo.
- Senhor meu marido, estou nos dias da mulher. – Desiré me disse.
- Quando começou? – Eu perguntei.
- No inicio da lua cheia. – Ela me respondeu. Já tinha dois dias.
-Suas regras chegam sempre no inicio da lua cheia Desiré? – Eu perguntei.
- Sim senhor meu marido. – Ela me respondeu.
- Desiré, quando estivermos sozinhos me chame de Pierre, como sempre fez. – Eu disse. Aquela formalidade me irritava, havia perdido aquela que sempre foi para mim uma amiga.
- Como quiser. – Ela respondeu.
- Iremos consumar o casamento em todas as noites da lua nova. Durante o seu período fértil, quero que me dê um filho. – Eu disse. Desiré abaixou a sua cabeça, não pareceu contente. Não me importei.
Durante a noite voltei para o estabulo, Edmond ainda dormia. Enquanto ficava sozinho com o enfermo criei o habito de conversar, falava sobre minhas inquietações, lia os impressos sobre o que se passava na França e na Inglaterra, falava sobre a minha família, sobre a minha vida em Londres, sobre medicina, os passeios em Paris, sobre Desiré e como ele passou a me perturbar. Edmond era apenas corpo apagado, que me escutava e não me julgava.
- Ele abriu os olhos novamente, falou algo, eu lhe dei um pouco de sopa e ele votou a dormir. Tenho o colocado de lado, como disse as costas dele estavam começando a se ferir, passei um pouco da pasta de ervas. – Maurice me disse.
- Muito obrigado. Pode deixa-lo comigo agora. – Eu pedi.
Troquei mais uma vez a pasta de ervas da sua ferida no peito, os pontos já haviam desaparecido, deviam ter se dissolvido com o preparado das ervas. A ferida estava cada dia melhor.
- Irei consumar meu casamento em breve. Esperarei o período fértil de Desiré. Não quero obriga-la a me dar prazer, apesar disso ser o dever de toda esposa. Mas quero que ela me dê filhos. Havia um tempo em que eu sonhava com um casamento bonito, sem duelos, com Desiré feliz e uma linda noite de núpcias, onde eu a defloraria e lhe daria muito prazer. Eu sei que falo como uma donzela virgem. Acho que li muitos romances quando jovem. Mas eu não sou virgem. Conheço mulheres desde antes ir para a Inglaterra. – Eu disse. Enquanto andava para um lado e para o outro, escutava o relinchar dos cavalos tentava ver algo no horizonte escuro. – Cansei de andar e de me sentar. Deitar-me-ei ao seu lado.
Acabei pegando no sono, acordei com um movimento que Edmond fez. Olhei pra ele, mais uma vez me encarava com aqueles olhos azuis. Ele não dizia nenhuma palavra
- Está acordado? – Eu perguntei como sempre perguntava quando ele abria os olhos. Ele não respondeu, não sabia o que ele sentia, se ele me reconhecia como o homem que tentou mata-lo ou o que havia salvado a sua vida.
Edmond ainda deitado de lado, como Maurice havia o deixado, colocou o seu braço sobre mim. Meu coração disparou. Sentir o seu toque me deixou excitado. Seus olhos ainda estavam abertos me encarando. Ele estaria delirando ou era eu que estava em permitir ou talvez até mesmo provocar aquela situação.
Sem pensar direito no que eu estava fazendo também coloquei a minha mão no seu corpo, seus olhos sem reação me permitiram continuar, desci a minha mão até o seu falo, que já estava acordado, rijo, gostei de senti-lo mais uma vez em minhas mãos. Eu deslizava as minhas mãos sobre ele. Edmond demonstrou prazer num sorriso de canto de boca, por isso eu continuei. Eu olhava para os seus olhos, queria beija-lo, abraça-lo sentir todo o seu corpo colado ao meu. Queria deixa-lo nu. Seu braço estava parado no meu peito. Seus olhos ainda parados piscavam lentamente. Também coloquei meu órgão para fora, me aproximei ainda mais dele, nossos falos se encostavam, eu segurava os dois com a mesma mão e continuava acariciando, simulando os movimentos do coito, nossas faces estavam próximas, minha respiração era ofegante. Não escutava mais nada além do meu coração e respiração. Edmond gozou em minha mão, melando o meu falo com o seu liquido da vida. Após seu gozo ele fechou os olhos e voltou a dormir, mantendo um sorriso no rosto. Eu nos limpei.
- Meu Deus, estou ficando louco. Olha o que estou fazendo. - Eu disse voltando a andar de um lado para o outro.
- Você roubou a minha noiva, interrompeu meu casamento, me desafiou, cuspiu na minha cara, pediu para morrer no aço da minha espada. Eu o salvei, estou te curando, respeitando Juramento de Hipócrates antes mesmo da minha formatura. – Eu berrava com Edmond. - Mas o que é isso que estou fazendo? Permitindo-me levar por tentações que nunca possui. Como posso questionar Desiré ter se deixado seduzir sendo que eu estou na mesma situação com você ainda dormindo. Depois de tudo que me fez. Devo ir embora. E não mais voltar aqui. – Eu disse e tomava o rumo da porta.
- Não. – Edmond respondeu me assustando.
- O que disse? – E perguntei me aproximando dele.
- Não vá. – Edmond disse e voltou a dormir. Eu tentei acorda-lo, mas não adiantou. Passei mais uma noite velando o seu sono, sentado no banco forrado de palhas.
- Água. – Edmond pediu, já era próxima a Alvorada.
- Tome. - Eu disse lhe dando água em sua boca. – Como se sente, tem fome? Consegue se sentar? Sente dor?
Edmond sinalizava que ficou confuso com tantas perguntas. Eu o ajudei a se sentar. Dei-lhe a sopa, que já estava fria, ele tomou todo o pote.
- Sente dor? – Eu perguntei.
- Sim – Ele respondeu.
- Onde dói? – Eu perguntei.
- Tudo. – Ele respondeu levando o braço direito até o seu corte. – Principalmente aqui. Onde estou?
Edmond olhava em volta, percebeu que estava em um estabulo.
- Você sabe o que te aconteceu? Do que você se lembra? – Eu perguntei nervoso.
- Há quanto tempo estou aqui? – Edmond me respondeu com outra pergunta.
- Já completou uma semana. – Eu respondi. – Do que se lembra Edmond?
- Eu me lembro de você, me lembro da luta. – Edmond disse. – Por que você me mantem vivo?
- Eu não queria machuca-lo. Se você não fosse tão estupido. – Eu disse ficando de pé. – Querer acabar com a sua vida assim. Tantos anos pela frente. Preferir morrer a viver, a viajar, a buscar novos amores, a ver o mundo.
- Você não sabe o que é amor. – Edmond disse.
- Se amor for isso, prefiro nunca saber. Um amor onde se escolhe morrer. Por algum momento pensou que poderia ganhar de mim naquele duelo? E se ganhasse acha que o pai da Desiré o deixaria sair vivo com a filha nos braços? – Eu disse e Edmond ficou calado, é claro que ele não havia pensado, ainda mais ébrio como estava naquele dia.
- Se você não a ama por que se casou? – Edmond a perguntou.
- Me casei por dever e honra, da mesma forma que te feri e estou cuidando de você. – Eu disse, não compreendia o olhar de Edmond para mim. - Assim que estiver melhor irá embora para longe, bem longe e sozinho. Para todos Edmond está morto e se você se recusar a permanecer assim eu serei obrigado a mata-lo de vez. – Eu disse.
- Então eu não sobrevivi à luta. Você escolheu me poupar. – Edmond disse.
- É mesmo um tolo. Ninguém sobrevive a um duelo. Era para você ser enterrado assim que enfiei a minha espada em você. Não pense que eu não sei onde fica o coração, eu sei tão bem que consegui não feri-lo com a minha espada, assim como não peguei nenhuma veia importante. – Eu disse convencido.
- Mas por quê? – Edmond questionou.
- Não sou um assassino. Pelo o contrario, pretendo ser um médico, faltava pouco para me formar. Quando tive que retornar. Você foi o meu primeiro paciente, a primeira vida que de fato salvei. – Eu disse.
- Fui a sua cobaia. – Edmond disse.
- Sim. - Eu disse e comecei a rir. Edmond olhava pra mim serio, mas acabou sorrindo também. Ele era ainda mais bonito sorrindo. Peguei-me admirando a sua beleza, enquanto ele sorria de volta pra mim.
- O que foi? – Edmond perguntou a me ver serio novamente.
- Você irá me dar problemas. Providenciarei a sua mudança. Escolha uma cidade da França te deixarei lá com dinheiro suficiente para recomeçar uma nova vida e esquecer tudo que aconteceu aqui. - Eu disse saindo, não permitindo Edmond a dizer mais nenhuma palavra.
- Augusto se lembra do que falamos na primeira sessão? Você precisa confiar em mim. Precisa me contar o que acontece. Não posso deixa-lo lá sozinho. –João me disse.
- Mas eu não sei como isso funciona, eu só vejo a historia acontecendo e sei o que passa na cabeça e no coração do Pierre, eu não sei quando eu estou aqui e o que estou falando pra você. Não escuto sua voz nem a minha quando estou lá. – Eu disse.
- Eu entendo, na verdade com cada pessoa a regressão funciona de uma maneira. Preciso que se concentre em mim também e vá me contando o que estava acontecendo. – João me disse.
Na verdade eu estava satisfeito de mesmo inconsciente não contar tudo que se passava naquela historia, muita coisa era constrangedora para mim. Contei para João os acontecimentos daquela noite, ocultando o sentimento, os desejos e ações de Pierre com Edmond.
Cheguei em casa cansado e confuso. Meus avos me esperavam para jantar.
- Comprei pizza. – Meu avô disse.
- Oba, estou com fome. – Eu disse.
- Sua avó tem novidades. – Meu avô disse.
- Conta ai vó. – Eu pedi a ela.
- Sua mãe ligou. Disse que irá se casar. – Minha avó disse contente.
Meus avôs sempre cuidaram de mim. Tanto financeira como emocionalmente. Minha mãe engravidou jovem com 15 anos de idade. Meu pai era seu namorado. Eles não chegaram a se casar, mas se davam bem. Meu pai morreu bem jovem, um acidente de transito. Eu tinha uns 4 anos de idade. Confesso que quase não tenho lembranças dele. Quando eu tinha uns 7 anos minha mãe decidiu ir embora do país. Meus avós não gostaram muito da ideia. Mas minha mãe se dizia presa em uma vida que não era dela, que precisava achar o seu lugar no mundo. Disse para a minha avó que assim que se estabelecesse me levaria para morar com ela. Esperei toda a minha infância esse convite, mas nunca veio. Já adolescente eu perdi a vontade de ir morar com ela, minha mãe havia se tornado uma estranha para mim, de qualquer forma nunca me chamou para ir. Meus avós que eram meus verdadeiros pai. Minha avó sofria com a filha sozinha em outro país. Tinha medo de algo acontecer e ela não ter ninguém, sempre a incentivou a namorar e casar.
- Nem sabia que ela estava namorando. – Eu disse.
- Ela também não tinha me falado. Disse que irá se casar no final de Julho que o casamento será em castelo no sul da França. – Minha avó disse.
- Por que França se ela mora na Espanha? – Eu perguntei.
- O noivo dela é francês, daquela região. E você sabe que sua mãe sempre teve fascínio com a França. – Minha avó disse.
Era verdade. Quando minha mãe foi embora o primeiro lugar que ela morou foi em Paris, mas não teve muita sorte. Ficou alguns anos em Portugal, depois foi para a Itália que não ficou muito e por fim foi para a Espanha. Mas quem olhasse a sua rede social achava que ela morava em Paris, pois só havia fotos de lá. Ela dizia que era muito barato as passagens de Madri para Paris e passava os finais de semana na casa de amigos. Provavelmente esse noivo devia ser um desses amigos.
- Depois mande aquelas mensagens do celular pra ela, veja tudo certinho para compramos as passagens. Ela disse pra você ir assim que entrar de férias, passar um tempo com ela antes do casamento. – Minha avó disse.
- Pode deixar vó. – Eu respondi.
Fui para a cama, não conseguia dormir. “Será que Pierre mandou Edmond mesmo embora, se mandou quem seria o homem dos meus sonhos? Se Edmond for mesmo René como foi essa transformação.” Eu não me aguentava de curiosidade. Acordei na manhã seguinte, mais uma vez todo melado. Mais um sonho de sexo onde eu chupava e era chupado por aquele homem.
- É uma oportunidade perfeita para você tentar achar algo sobre essa sua vida passada. – Amanda me disse quando falei sobre o casamento da minha mãe.
- Amanda para com essa historia de vida passada. – Eu disse.
-Quero ver o que vai dizer quando for para a França e der de cara com o palácio que era a sua casa. Vai dizer que seu cérebro inventou isso? – Amanda disse.
- Claro que não. Isso seria uma prova que essas coisas existem. – Eu disse.
- Mas toda essa regressão não é prova suficiente? – Amanda me perguntou.
- Claro que não. Quero ver algo real e material. – Eu disse. Amanda me convenceu a contar o que aconteceu na ultima regressão.
- Estou adorando isso. – Ela disse animada. Eu não podia negar, eu também. Mas era angustiante não saber o que vinha em seguida, esperar mais uma semana.
Durante a semana conversei com a minha mãe ela disse que ia se casar com um homem muito bacana, um pouco mais velho que ela, pela foto que ela me mostrou era muito bonito. Ele também tinha um filho, que era um ano mais velho do que eu. Que ela iria conhecê-lo na próxima semana, ele morava em Londres. Minha mãe também estava de mudança, largaria o emprego em Madri e finalmente se mudaria de vez para Paris.
- E por que o casamento em um castelo no sul da França e não em Paris onde vocês irão morar. – Eu perguntei.
- O castelo é lindo meu filho e tem uma história. – Minha mãe disse. Eu me arrepiei todo.
- Qual a história? – Eu perguntei na esperança de ter algo a ver com a minha regressão.
- O Castelo é da família do meu noivo. Ele diz que todos os casamentos da família foram feitos lá. – Ela me disse
- A tá. – Eu disse desanimado, nenhuma historia por trás além de herança.
- Hoje o Castelo é gerido pelo distrito, serve como museu e para eventos. Mas ainda é da família do meu noivo. – Minha mãe disse. Provavelmente dever ser difícil e muito caro manter um castelo desocupado.
- Pensei que queria morar nesse castelo. – Eu disse brincando.
- É a minha cara não é meu filho. Mas não. O Apartamento que ele possui em Paris é maravilhoso você vai ver. – Minha mãe disse. – Mas no mês de Julho o Castelo ficará todo a nossa disposição.
- Legal mãe. – Eu disse.
- Então quando acabam as suas aulas, me fale que já compro a sua passagem. –Minha mãe disse.
- Na ultima semana de junho. – Eu disse – Tá longe. Mais de 2 meses ainda.
- Já vou comprar de uma vez. Fique com Deus meu filho. Beijos. – Minha mãe se despediu.
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O Conde (Concluído)
Historia CortaVenha conhecer a história de Augusto que, após ter sonhos estranhos, decide, com o apoio de sua melhor amiga, a passar por uma terapia de regressão e ajudar a solucionar este problema.