O Convite · 04

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Em todos os momentos que encontrei com esse rapaz sentir uma vontade imensa de dar uns bons socos nele. Nunca vi um empregado tão ousado. Ao entrar no quarto encontro a ama preparando minha cama para dormir.
— Faz bem ama, estou muito cansada. Após conversar com a Duquesa venho direto pra cama.
— Não se der ao trabalho, ela dorme cedo. Disse que vocês poderiam conversar amanhã.
— Amanhã? Quero sair daqui o quanto antes, se eu esperar até amanhã será mais um dia presa aqui.
— Não podemos fazer nada, a Duquesa já está dormindo.
— Tudo bem, ela deu sinais de que aceitará o convite?
— Na verdade não falamos sobre isso.
— Sobre o que conversaram?
— Receitas, ela é amante da culinária.
— Bobagem! Ama, sabe dizer se o charreteiro trouxe o envelope que estava no charrete?
— As coisas que ele trouxe está aqui, mas não encontrei nenhum envelope.
— Deve ter caído quando ela quebrou, não acredito que esqueci o convite na charrete.
— Não se preocupe, amanhã eles irão consertar e trazê-la.
— Você está certa, está dispensada.
— Durma bem Milady.

Durante a noite tive um sonho com aquele empregado irritante, ele não pense que me esqueci, falarei com a Duquesa sobre ele. Não digo que foi um sonho e sim um pesadelo onde ele me fazia de empregada e eu estava feliz por servir a ele. Nunca, jamais ficarei feliz de estar com ele. ⠀
⠀ Barulho de trovões me desperta deste pesadelo, levanto indo até a janela para ver qual era a situação do tempo. Em poucas horas iria chover, preocupada me lembro que o convite está na charrete, se eu não for rápido todo o esforço que fiz para estar aqui será em vão. Preciso pegar o convite intacto. ⠀
⠀ Sem avisar a ninguém corri em direção a floresta, o caminho é fácil, não terei dificuldade em chegar lá. Paro por uns segundos para descansar e tenho a sensação de estar sendo observada, olhei em volta e não havia ninguém mesmo assim continuei a correr. Quando finalmente alcancei a charrete começou a chover, com movimentos rápido coloco o envelope dentro de uma capa e em uma caixa, agora sim ele está seguro.

Entrei na charrete para me proteger da chuva, com muito frio por estar com roupa de dormir. Escuto uns cochichos de homens e desligo lâmpada para não saberem que estou aqui, seja quem for não devem ser boas pessoas para estarem na floresta a esta hora.
— Não precisa se esconder, já te vimos senhorita. – um homem barbudo e bêbado balança a charrete.
— Saiam daqui. – respondo assustada
— Acha que vamos perder essa diversão? De jeito nenhum. – eles começam a subir na charrete, peguei a caixa que coloquei o convite e com força a bati no homem magro que estava com o barbudo. Mesmo sem fôlego para correr fiz o melhor para ficar longe deles, mas tropeçei caindo no chão. – Quanto mais você lutar contra nós mais divertido isso vai ficar.⠀
— Me deixem em paz.
— Segure ela, vou fazer essa mulherzinha pagar pelo que ela fez. – disse o homem magro
— Por favor, me soltem. – choro assustada
— Você escutou a moça, soltem ela. – aquela voz era impossível não reconhecer ⠀
— Não se meta onde não é chamado.
— Você que sabe. – eu estava tremendo bastante, não sabia se era por causa do frio ou por estar com muito medo. Mesmo assim conseguir identificar o empregado arrogante lutando contra aqueles homens, e em seguida os amarrando na árvore. – Vamos pra casa. – ele disse ao me carregar e me colocar no cavalo ⠀

Com muito frio ele era tudo o que tinha para me sentir aquecida ⠀⠀⠀
A caminho da residência adormeci segura no Lorenzo, acordei quando ele me colocou na cama. Antes que ele saísse segurei na sua mão, eu precisava agradecer pelo que ele fez por mim, só não imaginava que eu ficaria tão nervosa.
— Obrigada. – ele balançou a cabeça em confirmação

O que ele estava fazendo pela floresta uma hora dessas? Sei que ninguém da residência me viu sair, seria mais difícil ainda para um empregado. Seja como for perguntarei ao amanhecer.

Logo a ama entrou para trocar minhas roupas, o silêncio dela indicava o quão estava decepcionada comigo. Minutos depois a Duquesa entrou no quarto.
— A senhorita é mesmo interessante, como está se sentindo? – pergunta a Duquesa
— Apesar de está com muito frio estou bem.
— Vai passar logo, é por causa da febre. – diz a ama
— Bem, agora conseguiu minha atenção, a que se deu essa corrida repentina numa noite chuvosa?
— Não se preocupe, está tarde e não quero atrapalhar mais do que já atrapalhei a sua noite de sono. Podemos conversar sobre isso amanhã.
— Por favor eu insisto, para ter se arriscado deve ter sido algo muito importante.
— Eu precisava pegar o convite.
— Convite?
— Para o baile neste fim de semana.
— Você está certa, podemos conversar amanhã. Preocupe se com a sua recuperação. – disse a Duquesa fugindo da conversa
— Ela não vai não é? – pergunto para a ama
— Ela está certa, preocupe-se com sua recuperação, essas coisas são secundárias poderá ser resolvidas depois.
— Perdoe-me por ter te preocupado.
— Só descanse, ficarei bem mais tranquila se fizer isso.
— Certo ama, está dispensada.

A aventura que tive durante a noite foi suficiente para que eu adormecesse sem que ao menos pensar o quão estava preocupada com a decisão que a Duquesa iria tomar. O único pensamento que me veio em mente foi a seguinte pergunta: “O que o Conrado diria se tivesse visto o quanto me coloquei em risco só para evitar casar com ele?” Apesar de não fazer ideia da resposta me sentir triste por ir ao extremo por isso, o Conrado além de ser um homem bom costumava ser meu melhor amigo, acontece que não me sinto pronta para casar. ⠀⠀
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Na manhã seguinte, acordei me sentindo disposta e convicta que seria minha última noite naquela casa. Com ajuda da ama me aprontei para encontrar com a Duquesa, um tempo a sós com ela deve ser o suficiente para a convencer, dado ao episódio da noite passada.

A caminho do brunch escutei a voz do Lorenzo, vê-lo sentado à mesa com a Duquesa tendo uma conversa muito calorosa, me fez perceber que a posição não era tudo naquela família. Jamais desaprovaria essa ideia, amo a Arena, ela é minha​ ama desde que nasci e sou grata por tudo. Mas visto a época em que vivemos se alguém descobrir que esse trato tem sido constante, a Duquesa seria considerada uma família que incita rebelião.

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