Máquina de lembranças

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Nossa história nunca foi a das mais normais, minhas lembranças sempre são das suas besteiras, das suas caretas, das suas piadas sem graça. Eu nunca esqueci de nada, das alegrias, das dores, dos seus sorrisos no final de tudo, de cada momento junto, no parque, praia, rua, quarto, cama. Lembro até da época em que tentamos esquecer um ao outro, foi tão ruim fingir que estava tudo tão bem. Todas aquelas ligações por engano, até que percebemos que ninguém liga por engano três vezes no dia. Todas as vezes que eu via você na janela e você me via na rua porque eu sempre acabava pegando o caminho errado e parando na frente da sua casa. Todas as vezes que ficávamos em silêncio na linha, um esperando que outro falasse o que queríamos ouvir, mas só conseguíamos dar tchau. Realmente não conseguimos esquecer um do outro.

Mas agora acabamos rindo dessas besteiras, deitados, esquecendo do tempo, esquecendo da vida, esquecendo de lembrar de qualquer coisa, acompanhados apenas pelo barulho da chuva que fez com que a luz acabasse e ficássemos com as velas acesas, brincando de fazer formas na sombra sem de fato criar nenhuma forma e você falando o quanto eu sou ruim nessa brincadeira e logo em seguida saindo correndo rindo, eu adorava correr atrás de você, te segurando, rindo, te beijando. Já não consigo ser outro alguém, agora eu só consigo ser uma parte de você, só consigo ser uma máquina de lembranças de cada momento nosso, consigo apenas sentir a paixão que por tanto tempo nos manteve unidos, só consigo pensar em você.

Pensamentos na chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora