Uma Lenda em São Tadeu I

22 4 0
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Mais uma noite em que o caipira abria o velho portão da rua de trás sob as ordens do motorista do maverick preto. Mais uma noite em que ela ficou sentada na calçada vendo-o passar. No começo foi como um círculo vicioso de apreciação à dor. Quanto mais as pessoas passavam ali sem notá-la mais ela se desesperava em tentar chamar-lhes a atenção. Até que percebeu; tudo aquilo era inútil. Então, depois das infinitas vezes em que entrou na frente do maverick ou tentou subir nele para fazer-se notar, simplesmente sentou na calçada. Era o melhor que poderia fazer. Parecia uma ironia do destino que ela, uma estrela das noites são-tadenses, passasse o resto da sua vida despercebida pelo mundo ao redor.

Foi naquela mais uma noite que ele veio salvá-la.

Quando pensou estar sozinha novamente, ouviu seu miado. Se aproximou caminhando em cima do muro com o olhar fixo nela. Com um pulo desceu à calçada e sentou ao lado. Durante a vida ouviu algumas vezes que os animais podiam ver os espíritos, mas nunca imaginou que também pudessem comunicar-se com eles.

— Por que o odeia tanto?

... Não é possível que a brisa bateu só agora...

— Não. Já faz quase um ano desde sua morte e a sua última... brisa — disse o felino.

— Então por que tu tá falando comigo, mermão??? Tu é um gato!

— Eu não sou um gato. Você conseguiu se livrar da espiral de sofrimento, mas seu desejo por vingança não permite que veja nada além do mundo físico. Você teve fé que algo ou alguém viria para lhe vingar, e então eu vim. Sem minha carcaça mundana não me veria chegar.

— Se não é um gato, então o que é?

— Alguém que pode lhe ajudar. Mas para isso preciso saber o porquê de tanto ódio.

— Vou poder me vingar do maldito?

— Se colaborar comigo...

— Começou quando me mudei pra cá...

Todo e qualquer veículo que entrava no residencial precisava de autorização prévia; o que não seria diferente para um caminhão de mudanças. Avistou pela janela a mulher ajudando a carregar caixas para dentro da casa oito e foi até lá. Mesmo usando um sobretudo branco, suas pernas ainda deixavam à vista uma meia calça rasgada e um salto vulgar. Uma aproximação seria desagradável, porém inevitável.

— Boa tarde, minha jovem. Presumo que seja a senhorita...

— Alyssa — ela o interrompeu. — Sou sua nova vizinha.

— Decerto que é. Permita-me que me apresente, sou Gregório Sales. Muitos da nossa família costumam me chamar de pai, mas talvez "síndico" seja uma palavra mais compreensível para novos moradores. Gostaria de lhe introduzir às regras de convivência. — Entregou-lhe um panfleto com alguns tópicos escritos.

São Tadeu (Vol. I) Onde histórias criam vida. Descubra agora