A Última Ceia da Víbora

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Estavam o patrão com seu filho e ele no restaurante à beira da estrada. Já havia passado um pouco do horário socialmente estabelecido com "horário padrão de almoço" na cidade, portanto eram os únicos clientes no self-service. Os outros dois já haviam terminado enquanto Clemente mal chegara à metade da montanha de comida que pôs em seu prato.

— Thiago, quero que vá na frente e saia com o carro. — Entregou as chaves na mão do garoto debiloide. 

Não era difícil deduzir o que aconteceria a seguir. O assunto proibido — pelo menos para qualquer pessoa além dele e Gregório. Tal sigilo era comum sempre que conversavam sobre isso; e a cada vez ficava mais difícil acreditar nas justificativas toscas do pai de família tradicional. Conhecia bem aquele tipo de homem — talvez porque, no fundo, era um deles — e todas as suas cartas na manga.

— E a garota, meu amigo? Como ela está?

— Mal, patrão... — Pausou sua fala para comer o último pedaço de lasanha. — Branca feito um defunto, não come, não fala, não se mexe, tem uns pesadelos estranhos...

— É o jeito dela, Clemente...

— Me desculpa, patrão, mas não é não. Ela tem esse jeitão de bicho do mato, mas quando o senhor mandou ela lá pra casa a danada tinha energia.

— Preciso que fique com ela pelo menos até meados de dezembro. Infelizmente não há outro lugar onde eu possa alocá-la — ou escondê-la. 

— Eu até fico, mas posso ser sincero com o sinhô? Do jeito que tá, essa menina não chega até dezembro não.  — Naquele momento, pôde encarar profundamente nos olhos dele. Não havia nada ali; preocupação, angústia, medo, absolutamente nada disso. Decidiu fazer seu último apelo.  — Patrão, o sinhô me conhece há um tempão, sabe que eu não sou cabrunco de ficar falando da vida alheia por aí. Eu só vou lhe falar uma coisa, não quero que tu se arrependa depois: se essa menina for alguma coisa sua, cuida dela.

— A Regina é diferente, meu velho! Essa menina é especial, vai ficar bem até lá. — Ele levantou deixando sobre a mesa apenas seu prato vazio e a quantia prometida. — Tudo no seu devido tempo!


[MENSAGEM DA FAMÍLIA GOLDEN HOUR]

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São Tadeu (Vol. I) Onde histórias criam vida. Descubra agora