Fobomórfico

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[ALERTA DE GATILHO]

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[ALERTA DE GATILHO]

Desejamos informá-lo que este conto lida com o tema de abuso infantil.
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Estava bem acordada quando ele despertou. Continuou imóvel. Nem precisou de muito para notar aquela respiração pesada chegando mais perto. Sentou-se ao lado dela na cama.

— Bom dia, princesa! Dormiu bem?

Sentiu a pele áspera dos dedos tocarem seu rosto enquanto brincava com seus cabelos trançados.

Imóvel e muda.

— Vou tomar meu banho agora. Por que não levanta logo? Vamos acabar nos atrasando — ele hesitou, mas enfim saiu.

Ouviu os poucos passos descalços até o banheiro da suíte. A luz escapava pelas frestas da porta junto com o barulho do chuveiro fazendo xixi. Olhou de pressa para a janela: nenhum sinal de sol, só a luz amarelo-urina vinda do banheiro. Levantou com todo o cuidado do mundo. A porta do quarto estava encostada, então olhou pelo pequeno vão para não ter que abri-la ainda mais — o corredor estava com as luzes acesas, era seguro. Suspirou. Do outro lado do cômodo estavam o cinto e o jeans surrado que ele quase sempre usava, ambos sobre a poltrona. Passos de pluma caminharam até o bolso da calça.

— Por que não toma um banho também?

Os dedos finos agarraram as chaves com uma força que nunca imaginou que tivesse. Caladas!

— Tô com fome...

— Hm... tem rosquinhas na dispensa... e um pão dormido. Vê se não demora!

Calçou as pantufas da Minnie e seguiu pelo corredor até a cozinha. Aquela era sua chance de passear sem rumo pelo sereno do interior. Parou diante da porta. A encarou com um pedido em seus lábios.

É melhor ficar bem quietinha!

No fundo do armário da dispensa, encontrou algo que poderia ser útil. Não se importou com quanto tempo a embalagem de papel esteve ali, mas seu ruído tinha amadurecido o suficiente para ser mais alto que uma fechadura enferrujada se revirando. Estava com fome. Muita fome. Abriu. Houve um rangido e por um momento, sua alma saiu de seu corpo, mas agora era real — podia dissolver-se em meio a escuridão sem ser notada.

Mas sequer chegou a dar os primeiros passos fora dali.

Do outro lado da rua, mais especificamente no telhado da casa em frente, algo à espreita lhe parou, assim como paramos nossas intimidades quando alguém não familiar as percebem. Dois olhos amarelos brilhavam como faróis de carro em uma estrada deserta. Gradativamente pôde perceber uma silhueta robusta tomar forma. Não era tão grande para ser um lobo, mas definitivamente não parecia ser apenas mais um dos gatos que rompiam o sono do Golden Hour.

São Tadeu (Vol. I) Onde histórias criam vida. Descubra agora