capítulo 9

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- Verdade que você ia me pedir desculpa? – ele me olhou e acenou que sim – E deixou que a sabugosa sentasse em seu colo e ainda me fizesse tudo aquilo comigo. Ela fez de propósito! – eu estava com raiva.
 
- Eu sei que fui um covarde por não te defender, não mereço seu perdão. – Armando pareceu tomar fôlego e continuou – Mas fiquei louco de raiva pensando que você não me queria por eu ser um paraplégico. Pensei que você fosse igual a ela e depois vi que você nunca me olhou com pena desde o primeiro momento que me viu. Nunca abaixou a cabeça para mim e sempre me enfrentava de frente
 
- Como assim? – perguntei intrigada.
 
- Ela só quer meu dinheiro. Ouvi uma conversa dela no telefone com uma amiga. – disse de cabeça baixa. – Antes do acidente saímos algumas vezes, mas depois eu fiquei inseguro e queria saber o que ela pensava de mim. Acabei me decepcionando com a mulher fria e calculista que descobri.
 
- Continue. – disse curiosa quando ele parou de falar.
 
- Ela disse que tinha pena e nojo de mim. Que como preciso de ajuda para coisas básicas devo ser um imprestável na cama e que ela não se preocuparia com isso já que ela tem um amante. – isso me pegou de surpresa, era só com isso que ela se preocupava?
 
Essa garota deve ser burra só pode.
 
- A desgraçada acha que vai casar comigo. – ele me olhou e vi ódio brilhando em seus olhos. – Se antes eu não tinha intenção de me casar com ela quem dirá agora depois de tudo que ouvi. Daquela mulher quero distância e só a aturo porque nossos pais são sócios.
 
- Você disse isso aos seus pais? – ele negou
 
- Você é tão especial. – Armando me fez um carinho, ele adorava fazer isso. - Ela nem se compara a você.
 
Fiquei tão feliz com o que ouvi que o beijei.
 
Depois de um tempo conversando e claro entre um beijo e outro, Armando foi para o quarto e acabei dormindo pensando nele.
 
No outro dia eu acordei feliz, muito feliz. Eu cantarolava e até dançava enquanto limpava um dos quartos. Mais minha alegria acabou quando braços brutos me agarraram prensando-me na parede.
 
- Quer dizer que a putinha conseguiu agarrar o inválido do meu irmão? – o senhor Mário estava possesso de raiva e fiquei apavorada – Mais também com uns peitos desses... – ele passou a mão em meus seios e eu não conseguia abrir a boca, apenas chorava.
 
O grito estava trancado na garganta e eu já estava sentindo falta de ar de tanto medo.
 
- Eu vou adorar chupa esses lindos melões. – o nojento desgraçado lambeu meu pescoço - Você nunca vai ficar com ele. Nunca! – ele me jogou na cama e pulou em cima de mim
 
Uma voz em minha cabeça começou a gritar para que eu lutasse e isso fez com que acordasse do choque. Comecei a lutar com ele apesar de ser mais forte que eu e foi justo quando dona Paula entrou no quarto.
 
- Mais o que significa isso senhor Mário! – Dona Paula disse indignada.
 
- Não é da sua conta. – ele saiu de cima de mim – Saia! – gritou irritado.
 
- Você! Seu moleque inconsequente, - Dona Paula o enfrentou apontando o dedo – saia já daqui antes que eu chame seus pais! E espero nunca mais presenciar uma cena dessas. - seu Mário saiu batendo a porta.
 
- Menina. – dona Paula me chamou baixinho.
 
Sem olhá-la corri para meu quarto e fui em direção ao banheiro despejando tudo que tinha em meu estômago e se fosse possível acredito que ele também sairia pela minha boca.
 
Chorando desesperada sentei ao lado do vaso abraçando meus joelhos e senti alguém me abraçar.
 
- Shiii..., Vai ficar tudo bem. – dona Paula dizia acariciando minhas costas.
 
- Não vai não. – eu tinha certeza de que seu Mário iria aprontar alguma coisa. – Eu sei que não vai.
 
Ficamos sentadas no banheiro por um tempo até que Ana apareceu perguntando sobre o almoço e nos demos conta de que ficamos a manhã praticamente toda ali. Ana quis saber o que havia acontecido, mas dona Paula disse que era para ela não ser curiosa. Ana tentou me perguntar mais fui logo dizendo que não queria falar nada.
 
Dona Paula mandou que eu ficasse no quarto e que ela traria meu almoço até mim. Eu apenas obedeci já que não queria encontrar com ninguém, principalmente o crápula do seu Mário.
 
À tarde resolvi sair do quarto e fui até a cozinha. Dona Paula me contou que os patrões haviam saído e seu Armando estava nos estábulos. Como ela estava sozinha fiquei a ajudando em silêncio e às vezes a pegava me observando com o olhar triste.
 
Depois do jantar pensei que veria Armando, mas seu pai o chamou até o escritório e de lá não saíram mais.
 
Fiquei o tempo todo ao lado de dona Paula na cozinha, trabalhamos em silêncio. Ana e Lívia até perguntaram o que estava errado, mas dona Paula respondeu que estava tudo bem. As meninas entenderam que deveriam ficar quietas e assim fizeram.
 
Quando fui fechar a porta do meu quarto seu Mário me empurrou fazendo com que eu caísse sentada e entrou.
 
- Pode fugir o quanto quiser putinha. – falou se abaixando ao meu lado – É melhor manter essa boquinha linda bem fechada se não quiser que acidentes comecem a acontecer por aqui. – disse me assustando mais ainda.
 
- Do que o senhor está falando? – consegui sussurrar.
 
- Meu irmão está aprendendo a ser mais independente. – me lançou um olhar sínico – Sabe como isso é perigoso em suas condições não sabe? – ele me deu um selinho e saiu do meu quarto.
 
Meu coração quase para quando ele ameaçou o próprio irmão. Meu Deus que espécie de monstro vivia nessa casa? Comecei a chorar de novo e dona Paula me ajudou a levantar colocando-me na cama.
 
- O que ele fez dessa vez? – perguntou.
 
- Ameaçou o próprio irmão. – sussurrei fazendo com que ela arregalasse os olhos.
 
Não sei como nem quando consegui dormir. Dona Paula deve ter colocado alguma coisa no chá que me deu já que não me lembro dela saindo do meu quarto.
 
Quando acordei já era dia e segui com a rotina.
 
Arrumar o primeiro andar foi até fácil só não entendi o porquê de sempre ter uma das meninas arrumando por perto. Ao olhar para as escadas e imaginar subir para o outro andar me dava uma vontade louca de chorar.
 
- Adela venha me ajudar na cozinha e Ana cuide dos quartos. – assustamos ao ouvir a voz de dona Paula.
 
Sem comentários fizemos o que ela mandou e ao chegar à cozinha olhei pela janela tentando adivinhar aonde seu Armando estava naquele momento. Eu estava preocupada com sua segurança já que o louco do irmão o ameaçou.
 
- O menino Armando foi para a cidade com o Fábio. – ela também estava preocupada.
 
- A senhora... – queria saber se ela havia contado algo, mas tinha medo.
 
- Não disse nada a ninguém. – suspirei aliviada – Mas mandei os meninos tomarem conta do Armando. 
 
Não estava aguentando ficar dentro de casa, mas também estava com medo de sair e algo acontecer só que estava ficando sufocada.
 
Mesmo com medo sai da casa e fui até o balanço que tinha na árvore em frente à janela da cozinha de onde pude ver dona Paula e ela me olhava atentamente. Eu precisava de um pouco de ar e o vento me acalmava.
 
Não sei se fiquei minutos ou horas ali balançando até que dona Paula me chamou para ajudá-la novamente na cozinha. Quando fui para o quarto fiquei com medo do monstro aparecer novamente e tranquei a porta.
 
- Quem é? – acordei quando ouvi baterem na porta.
 
- Sou eu Adela, Armando. – meu coração se aqueceu só em ouvir sua voz e corri para a porta. – Querida por que você está chorando? – Armando entrou me olhando preocupado.
 
Como contar a ele que seu próprio irmão o ameaçou e quase me estuprou? Ninguém merece uma notícia dessas.
 
- Não precisa se preocupar eu estou bem. – ele continua desconfiado – Apenas uma cólica irritante. – tentei enrolá-lo – Mas e você? O que fez que não lhe vi o dia todo? – procurei mudar de assunto.
 
- Fui até a cidade com o Fábio e depois fiquei no escritório analisando alguns papeis. – Armando pareceu se distrair e me contou sobre seu dia no escritório e depois com os peões.
 
Com alguma dificuldade Armando saiu da cadeira e se arrastou até a cabeceira da minha cama e ficamos conversando enquanto eu estava sentada nos pés da cama.
 
Dona Paula entrou no quarto e sorriu ao nos ver conversando. Ela havia nos trazido chá de cidreira e acabamos ficando os três conversando até que Armando disse que ia dormir.
 
Percebi que essa não era sua intenção e pelo sorriso que dona Paula deu ao ver a porta se fechar ela também percebeu.
 
- Parece que o menino Armando resolveu voltar a viver. – disse me lançando um olhar malicioso o que fez meu rosto arder de vergonha e ela saiu rindo do meu quarto. 

Um motivo para recomeçarOnde histórias criam vida. Descubra agora