. capítulo 09

354 23 1
                                    

— Vejam quem decidiu dar o ar da graça! — Félix anuncia para todos os outros meninos perdidos que uivam novamente. — E vejo que trouxe um convidado de honra.

Quando ele dá um passo a frente para se aproximar de Michael puxo com rapidez a arma de meu coldre e aponto para o meio de sua cara. Mike aperta minha mão que segurava o tecido da sua camisa atrás de mim. Félix ainda sorri debochado mas recua. Não abaixo minha arma enquanto passo meus olhos pela minha família que formava um círculo no meio com convés, os meninos perdidos me observavam divertidos. Eles sempre gostavam do perigo.

— O chefe quer te ver... — Ele faz o comentário enquanto da as costas e empurra a rampa com o pé, a mesma tomba na areia fazendo um barulho alto. — Por aqui, madame!

— Nos guie, capataz! — Nunca iria perder o dom de provocar aquele verme. Os meninos perdidos tomam frente enquanto fico para trás com a minha família. Me viro para todos eles após estarmos sozinhos no barco. — Vai dar tudo certo, apenas mantenham os olhos abertos, devem imaginar que estamos em território inimigo.

— O pior deles! — Killian responde e toma a mão de Emma com delicadeza mas procurando passar segurança para a mesma.

Sei como aquele lugar era um assunto delicado para toda família encantada, incluindo Regina. Foi ali que todos quase perderam Henry para o maior dos monstros. Meu corpo se arrepia ao me imaginar perdendo Michael.

Michael nota a maneira como estou tensa e me abraça.

— Vai dar tudo certo, vou estar aqui. — Ele sussurra me fazendo sorrir.

— Eu sei que vai, guerreiro! — Sorrio e somos os últimos a descer pela rampa. Smee fica no barco com um sinal meu e vejo como ele agradece por não ter que ir junto.

Quando meus pés tocam a areia eu sinto uma força me puxar para algum lugar. Aquilo me incomoda ao ponto de me fazer recuar. Félix toma frente do grupo mais uma vez e adentra a floresta com facilidade já que conhecia bem o local.

Foram muitos passos até pararmos em meio a árvores negras e medonhas, os meninos perdidos correm para longe uivando e nos deixando sozinhos.

— Ótimo, uma emboscada! — Regina revira os olhos.

— Não acho que seja uma... — Michael ao meu lado sussurra.

Não tive tempo em perguntar sobre o que ele está falando pois uma ventania forte se inicia trazendo junto com ela uma risada estranha porém muito bem conhecida.

— Vejam, meninos! Observem o que a maré trouxe. — Regina, Sophi e Nathan tomaram minha frente enquanto eu me agarro a Mike. — Pais, sempre fracos pelas suas proles.

— Coisa que você nunca vai ser capaz de entender, não é? — Antes que eu pudesse me segurar eu já tinha passado por todos e tomado frente do grupo.

A risada para assim como o vento e sinto novamente aquela força me puxar mas não foi preciso pois seu destino final estava bem a minha frente. O rapaz sai das sombras com um sorriso malicioso como sempre e para a centímetros de mim. Ele analisa meu corpo de cima a baixo para soltar uma risada ao me olhar nos olhos.

— Que evolução...

— Que retrocesso... — Murmuro observando ele com desdém.

Sinto uma mão agarrar a minha com delicadeza e meu corpo instintivamente se acalmar, minha outra mão ainda estava presa na espada da cintura. Viro meu olhar para Michael que observava o rapaz a minha frente sério. Mais uma vez eu sinto medo ao vê-lo com aquela expressão tão madura.

— É ele, mãe! — Ele sussurra para mim e eu sei que ele apenas se refere a visita que o rapaz fez para entregar o cordão.

— É, somos amigos de longa data. — Não consigo segurar o tom de nojo na voz. Mesmo que meu coração esteja batendo como uma bateria em um show de rock.

Amigos? — O riso do rapaz me deixa irritada. — Então não contou a ele? Que gesto de mãe, não é mesmo?

— Fica fora disso, demônio. — Com o passo que dei consigo sentir a respiração dele misturada com a minha. Ele ainda era mais alto que eu. — Não venha querer me dar lição de moral quando você tem mais culpa do cartório do que qualquer pessoa nesse lugar. Você nunca vai poder ser capaz do que eu fui e muito menos ter a coragem que eu tive para fazer o que fiz.

— Fugir é um ato de coragem agora? Esconder algo dessa proporção de quem está envolvido na história? Francamente, Gale, isso é covardia. — Com um impulso acerto seu nariz com meu punho, vejo a cabeça dele virar para o lado e ao mesmo tempo os meninos perdidos tem lanças e flechas apontadas para nós, minha família ergue suas armas enquanto eu ainda mantenho a postura.

— Quem é você afinal? — Michael toma minha frente e me segura para me manter atrás como proteção.

— Oh, eu sempre esqueço os modos... — Ele limpa o sangue do corte que meu anel fez em seu lábio e endireita a postura. — Sou Peter, Peter Pan.

 

• • • •

As próximas horas foram torturantes, Pan nos guiou até seu acampamento com os vários meninos perdidos e tive que aturar  aquela palhaçada de crianças dançando de um lado para o outro. Procurei Tyler por ali mas ele parecia não ter voltado junto aos outros depois da guerra que teve na cidade.

Me sentia agoniada! Ficar parada observando as brincadeiras toscas daqueles garotos estava começando a me tirar do sério, Pan fazia aquilo de propósito e isso estava visível em seu semblante irônico que eu estava louca para socar novamente. Mike não ergueu a cabeça desde que fomos guiados até aqui, ele se sentou ao meu lado e permaneceu observando árvores como se estivesse tudo bem. Ele sempre adorou árvores.

— Okay, já chega! — Me levanto do tronco onde estava afiando minha espada e ergo a mão, um vento forte surge e os meninos apagam, menos Pan e minha família. — Podemos ir direto ao ponto?

— Que ponto, a profecia? — Pan sorria enquanto continua a ajeitar sua flauta. — Ela vem rodando todos os reinos e sinceramente, vocês demoraram muito para descobri-la.

— Olha aqui, você não...

— Eu quero conversar com o garoto! — Ele se levanta ao me interromper, minhas pernas falham.

— Você não vai chegar perto dele!

— Eu tenho meu direito... — Ele cantarola e mais uma vez puxo minha arma do coldre mas Mike se põe na frente.

— Não tem merda de direito nenhum. Mike, sai da frente. — Aperto com firmeza o cabo da arma ainda observando o sorriso sarcástico de Pan.

— Mãe...

— Michael! Saia da minha frente, agora! — Meu grito faz com que ele recue mas minha raiva não me deixa sentir culpa. Não costumava gritar com ele.

Mike não parece abalado com a minha reação. Peter tinha as mãos atrás do corpo e me observava desafiador, esperando para que eu apenas puxe o gatilho em frente ao meu filho. Ele se divertia apenas vendo a desgraça acontecer.

— Está tudo bem, mãe! Eu vou. — Ele tinha um sorriso casto na intenção de me deixar calma. — Confia em mim... — Respiro fundo não querendo quebrar a promessa que fiz a mim mesma de sempre confiar nele.

Ele põe a mão sobre o cano da arma e abaixa a mesma para segurar minha mão, Mike beija a costa das mesmas e sorri docemente, como ele conseguia tamanha tranquilidade?

Peter toma seus ombros com as mãos e o guia para entre as árvores me deixando com a guarda totalmente baixa e o peito exposto para que ele me acerta-se. Doeu ver meu filho ir com o rapaz mesmo que ele nem saiba que aquele ali é o pai cujo nome eu nunca pensei em mencionar.

— Mesmo eu odiando a ideia eu preciso dizer para que se acalme e confie no seu filho! — Regina diz ao meu lado pegando meus ombros e me levando para um abraço. Michael me deixava tão vulnerável que não tinha explicação.

— Eu confio no Michael, mãe... — Sussurro colocando a arma de volta no coldre e afundando o rosto no abraço dela. — Mas eu não confio nele.

ᴛʜᴇ ᴘʀᴏᴘʜᴇᴄʏ • ᴘᴇᴛᴇʀ ᴘᴀɴ [ᴏᴜᴀᴛ]Onde histórias criam vida. Descubra agora