Parte I : A Hora Sangrenta

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— Não acha arriscado?... não acha arriscado deixar isso para o último momento? — disse o rapaz enquanto prendia as longas madeixas em um coque no alto da cabeça.

— Não acha que eu faria diferente se pudesse? — O mais velho enrolava as pontas de seus bigode. — Procuramos por todas as partes com todas as tecnologias disponíveis, algumas das mais avançadas dessa realidade específica; não encontramos nada! O gás fóbico foi a invenção mais astuta desses vermes, algo completamente insondável. A garota deve estar sob os seus efeitos.

— Qual é a garantia que temos?

— Aquela coisa maldita pode ser muito esperta, mas é apenas um lacaio, sempre foi e será inferior aos seus criadores. Já nós... estamos a um passo de trazermos de volta o nosso Senhor. O aparelho pode retardar nossos planos, mas jamais impedirá que A Víbora Rubra volte à Terra.

— Voltar? — A dúvida preencheu os olhos claros do rapaz. Durante toda a vida desde sua infância soube o que estava destinado a ser, a hora em que seria e como seria. Mas Isaque nunca soube o que fora um dia.

— A Víbora Rubra já esteve entre nós uma vez. Digo... ela sempre esteve, está e estará a nos amparar, porém houve um tempo em que ela estava no meio de nós encarnada como um humano. Foi o mais próximo que chegamos de dominar esta realidade antes do atual momento.

— E por que falhamos? 

— Alguém a matou.  Alguém tão poderoso quanto, mas que também morreu para isso...

— Isso quer dizer que o ritual... quantas vezes o ritual foi feito ao longo da história?

— Apenas duas, rapaz. Em sua primeira vinda, A Víbora encarnou espontaneamente. O ritual da hora sangrenta surgiu após sua morte com a necessidade de reerguê-la em todo seu poder e glória. Esperamos um bom tempo para executá-lo com segurança em todas as suas três etapas. Até que isso aconteceu...

— E o que faremos se tudo falhar?

— Eu não sei... definitivamente não sei.

São Tadeu (Vol. I) Onde histórias criam vida. Descubra agora