Na gravadora, os quatro homens sentavam-se todos à mesa da pequena sala de reuniões, aguardando ansiosamente por uma resposta do produtor sentado algumas cadeiras a frente.
— Muito bem garotos, agora que concluímos os processos de composição, podemos começar com as gravações. — Zack anunciou, causando grande euforia nos três.
— Quando começamos? — Ashton perguntou, empolgado.
— É claro que vocês ainda precisam ensaiar 'pra caralho, — continuou, divertindo-se ao ver seus sorrisos murcharem. — Mas felizmente, já temos material suficiente para concluir as demos.
Calum franziu o cenho.
— Demos? — repetiu. — Não vai nos obrigar a sair panfletando o dia inteiro, né?
Luke revirou os olhos, massageando as têmporas.
— Cal... — advertiu.
— É isso ou parar no olho da rua, Hood. — ironizou. — Ah, mais uma coisa. Talvez vocês precisem encontrar um novo guitarrista, pelo menos para os shows.
— Mas já temos o Luke! — Ashton protestou.
— Eu sei, e ele é incrível, — começou, arrancando um sorriso do loiro. — Mas ele não pode fazer todas as partes sozinho, não no palco.
— Nós temos alguns contatos, o avisaremos assim que tivermos notícias. — Hemmings concluiu, trocando olhares com ambos os rapazes sentados à mesa.
— Agora levantem essas bundas da cadeira e voltem para o estúdio. Temos muito trabalho a fazer.
Um coro de risadas preencheu o espaço enquanto os rapazes caminhavam em fila até a porta. Zack apoiou-se na mesa e estreitou os olhos, reparando que Luke parecia especialmente quieto naquele dia. Até mais do que o normal.
— Hemmings, pode vir aqui? — chamou.
O loiro franziu o cenho, caminhando até o mais velho.
— Tá tudo bem? — perguntou. — Cê tá meio quieto demais.
Ele deu de ombros, olhando para o chão.
— Só estou pensando demais, novamente. Ando meio preocupado com o futuro.
— Tem a ver com a banda? — quis saber. — As coisas estão indo bem, vocês são bons. Sei que vão conseguir.
— É mais sobre tudo. — admitiu. — Não sei se estou fazendo as escolhas certas.
Zack se desencostou da mesa e deu um passo a frente, pousando as mãos em seus ombros.
— Concentre-se no agora, Lukey. — disse. — As pessoas passam a vida planejando o futuro e se esquecem de viver o presente. Eles que se fodam! Faça o que sentir que é certo, você terá bastante tempo para se arrepender depois.
Luke assentiu, encarando o amigo.
Zack era apenas mais um produtor contratado pela gravadora, haviam começado a trabalhar juntos há pouco tempo, mas ele já se sentia responsável pelos rapazes da banda, de uma maneira que fraternal.
— Vem cá. — provocou, envolvendo em um abraço apertado.
Em seu apartamento, Michael cantava e dançava pela cozinha acompanhado pela voz magnífica de Alex Gaskarth, que saía pela caixa de som em um volume alto o suficiente para receber reclamações diárias de seus vizinhos.
Quando terminou de preparar o seu cardápio para a noite, agarrou o celular e foi até a sala, discando o número mais recorrente em seus contatos.
— Ei, o que acha de assistirmos um filme? — perguntou empolgado. — Estava pensando em Wes Anderson. Ou talvez Alfred Hitchcock, estou no clima para algum suspense hoje.
— Não vai dar, Mike. Os meninos e eu vamos jogar alguns jogos e pedir pizza. — Ashton explicou, um burburinho de conversa soava ao longe.
— Ah, tudo bem. — suspirou, um pouco decepcionado.
— Você deveria vir, tenho certeza que iria os adorar.
— Obrigado, mas eu passo. Ficarei aqui com meus filmes e a minha cama.
— Cara, sua vida social está por um fio.
— Não é para tanto. — deu de ombros, mesmo sabendo que ele não podia ver.
— Tem certeza de que não quer vir? — insistiu. — Eu posso te buscar.
— Absoluta. — estalou a língua. — E sobre a carona, me pergunte de novo amanhã.
— Você é impossível. — riu-se, negando com a cabeça. — Um dia eu ainda te convenço, Clifford.
— Ed vem tentando pelos últimos dois anos, mas boa sorte, campeão.
Despediram-se brevemente e finalizaram a chamada. Ashton voltou para os dois rapazes que discutiam feito crianças em uma partida acirrada de Mario Kart 8 e Michael voltou para debaixo de seus cobertores, agarrando o pote de pipoca e apertando o play no controle remoto, sua única companhia passará a ser os personagens exibidos na tela.
Horas depois, Michael acordou em um pulo quando um grito soou pela casa completamente vazia. A única luz no cômodo vinha da televisão que agora passava os créditos do filme com uma música de fundo.
"Devo ter pegado no sono na metade", concluiu, procurando pelo celular entre os cobertores a fim de checar o horário. 02h47. Esfregou os olhos, o brilho forte do ecrã dando-lhe a sensação de que estava momentaneamente cego.
Levantou-se e foi até o banheiro, jogando água fria no rosto e deixando a luz acesa para facilitar o caminho até a cozinha.
Serviu-se de uma xícara de café morno e sentou-se na poltrona em frente a janela.
Os únicos sons que podiam ser ouvidos eram latidos de cachorros e carros que passavam em alta velocidade na avenida. As luzes da cidade haviam cessado, visto que a maioria das pessoas encontrava-se em algum lugar distante além do sono.
Bem, exceto por uma.
Michael se perguntava o que ele fazia na sacada em uma hora dessas, com apenas uma manta por sobre os ombros e o violão no colo. Dedilhava as cordas do instrumento de forma quase teatral, mantendo os olhos fixos no céu noturno.
Ele não podia ouvi-lo, mas com toda certeza, aquela estava sendo uma cena interessante de se assistir.
O desconhecido ficou ali por mais alguns minutos, antes de recolher suas coisas e voltar para dentro. Michael deixou a caneca sobre a mesinha de centro e retornou a seu quarto, sentindo o sono lhe atingir novamente.
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- Da Janela. [ muke ]
FanficAquela em que Luke passa as tardes e noites na sacada, entretendo-se com os sons da cidade enquanto Michael o observa da janela de seu apartamento. @nightlywish. 2019. (fanfic inspirada na canção de Terno Rei, intitulada "Da Janela")