– Cadê ela? – Lúcia desceu a escadaria com seus trajes de dormir, aos tropeços – Madican a levou?
– Levou quem? –Anandí fazia a refeição da manhã.
– Paula! Eu acordei e ela não tava no quarto! – Lúcia tremia.
– Calma! – Anandí se levantou apressadamente – Nita deve estar com ela.
Mas não estava. Nem Jadano.
Nem os poucos guardas e os empregados que ainda restavam não se lembravam de nada: Atessa havia desaparecido.
Foram feitos anúncios, prometeram–se recompensas, mas nada surtia efeito. Depois de alguns dias Lúcia parou de sair do próprio quarto e quando o fazia era para caminhar pela cidade e voltar calada. Até que um dia não quis usar sua peruca e não deixaram mais que ela saísse. Madican partiu numa expedição por Antaris em busca da filha e Lúcia o esperava todos os dias na porta do palácio. Quando ele finalmente retornou, bastante abatido, ela soube que não havia mais esperanças. E sequer havia algum Amuleto com algum poder que os pudesse ajudar, porque ela tinha certeza que se pedisse com muita fé, o Amuleto funcionaria.
Às vezes Anandí entrava com Salesh no quarto de Lúcia, para tentar animá-la com a criança que já começava a engatinhar e balbuciar palavras, mas a amiga a olhava distante:
– Atessa deve estar assim já... Quando irão trazê-la para eu dar de mamar?
– Logo. – Anandí acabava respondendo.
– Ela tem que vir, porque em Antaris nada é tão sofredor como em Gaia.
– Não Lú, espero que não... – e deixava que ela segurasse Salesh.
Madican parou de visitar o palácio e dedicava todo seu tempo viajando por Antaris. Aos poucos o nome Atessa só era pronunciado por Lúcia e em seus momentos de delírio.
Anandí a visitava em seu quarto uma vez ao dia, às vezes com muita pressa, então providenciou uma cuidadora para a amiga. Ela não se parecia em nada com a jovem que transformara sua vida e isso era desesperador. Mas Anandí tinha que prosseguir com suas obrigações, estava ciente disso.
E um dia, ninguém mais se importou.
E esse foi o dia em que Lúcia acordou, pouco antes da meia noite. Pegou sua mochila Gaiana, empoeirada no fundo do armário, roubou o Amuleto anil, chamou Lótus e tirou Salesh de seu berço.
Era o último dia das passagens abertas.
Lúcia partiu, levando a última alegria do palácio, para nunca mais voltar.
Anandí abriu os olhos sorrindo, era a primeira vez que dormia a noite toda, sem interrupções com o choro de Salesh. Levantou-se e, descendo as escadas do mezanino, já pôde ver o berço vazio. Abriu imediatamente a porta para pedir ao guarda que chamasse Nita. Quando a governanta compareceu Anandí já estava vestida.
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A Dinastia da Guerra
FantasyAnandí é uma jovem curiosa com as lendas, com os outros mundos e com as pessoas. Ela vai conhecer isso e muito mais quando sair de sua dimensão pela primeira vez. E Salesh, sua descendente e uma híbrida, será uma guerreira crucial na batalha contra...