– Certo – Lúcia ajeitava a peruca loira em Anandí – vamos repassar...
Os três estavam em frente ao arco de árvores que marcava a passagem para Gaia e era quase meia noite. Teriam sessenta dias para conhecer um outro mundo.
Convencer Jadano a permitir a visita tinha sido fácil, já convencer o Conselho de que a experiência ajudaria no amadurecimento da princesa, tinha sido mais difícil. Argumentaram que ela conheceria as outras dimensões mais cedo ou mais tarde e que Madican a acompanharia. Então, finalmente, a viagem foi autorizada poucos dias antes da nova abertura dos portais.
Eles vestiam as roupas menos Antarianas que Lúcia pode selecionar e acreditavam conseguir outras em Gaia. Já as luvas, eles não deixariam de usar e teriam que arrumar alguma desculpa para seu uso.
– Seus nomes?
– Laura!
– Leandro!
Responderam prontamente.
– De onde somos?
– De uma cidade distante, chamada Santa Claudia, estamos passando as férias na casa da nossa avó.
Anandí estava mexendo em sua mochila:
– E cadê o Amuleto anil?
– Estava com você! – Madican se preocupou.
– Está aqui! Achei! Achei! – ela mostrou o Amuleto anil, aquele que tinha o poder de mudar a memória das pessoas.
– Ufa!
– Você tem certeza que não vamos encontrar ninguém que te conhecia Lúcia? – Anandí agarrava a pequena pedra com desconfiança – Não tenho certeza de que sabemos usar esse negócio.
– Não, não vamos não. Podemos ficar na casa onde eu morava antes de ir para o abrigo... Eu sou órfã... Se encontrarmos alguém, será alguém que só me conhecerá de vista, então não teremos que dar grandes explicações. Mas – ela engoliu a seco – Se chegarmos lá e ainda houver lutas, vamos voltar correndo tá?
Anandí concordou com a cabeça.
Meia noite.
Caminharam receosos por entre o arco de árvores. Então o cenário se transformou completamente. Lúcia saiu correndo da pequena caverna, ansiosa para saber o que havia mudado naqueles anos.
Anandí e Madican saíram depois, devagar, observando de todos os ângulos a tal fazenda, mesmo com a dificuldade da noite. Caminharam até a porteira e de lá por uma rua asfaltada, cujo material deixou Anandí e Madican intrigados. Lúcia sorria porque não ouvia nenhum dos sons típicos da guerra que havia presenciado e porque ao final da estrada, o vilarejo ainda existia. Algumas casas visivelmente reformadas e as luzes acesas a fizeram crer que a guerra havia acabado. Mas no dia seguinte, ao ler um dos jornais, soube que não, que estava ocorrendo um cessar-fogo, mas que possivelmente em algumas cidades longe dali as batalhas recomeçariam a qualquer momento.
Quando um cachorro latiu, Laura e Leandro pararam de andar e observaram o animal andando de um lado para o outro num dos quintais.
– Isso é...
– Um cachorro – Lúcia sorriu – Eu prometo que amanhã mostro vários deles para vocês, vamos!.
A casa em que Lúcia havia crescido era um pouco afastada da última rua da cidade, o que era uma vantagem. O local estava vazio, porém sujo e obviamente sem luz e água.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Dinastia da Guerra
FantastikAnandí é uma jovem curiosa com as lendas, com os outros mundos e com as pessoas. Ela vai conhecer isso e muito mais quando sair de sua dimensão pela primeira vez. E Salesh, sua descendente e uma híbrida, será uma guerreira crucial na batalha contra...