Três: conhecendo Gaia

41 3 5
                                    

     – Certo – Lúcia ajeitava a peruca loira em Anandí – vamos repassar...

     Os três estavam em frente ao arco de árvores que marcava a passagem para Gaia e era quase meia noite. Teriam sessenta dias para conhecer um outro mundo.

     Convencer Jadano a permitir a visita tinha sido fácil, já convencer o Conselho de que a experiência ajudaria no amadurecimento da princesa, tinha sido mais difícil. Argumentaram que ela conheceria as outras dimensões mais cedo ou mais tarde e que Madican a acompanharia. Então, finalmente, a viagem foi autorizada poucos dias antes da nova abertura dos portais.

     Eles vestiam as roupas menos Antarianas que Lúcia pode selecionar e acreditavam conseguir outras em Gaia. Já as luvas, eles não deixariam de usar e teriam que arrumar alguma desculpa para seu uso.

     – Seus nomes?

     – Laura!

     – Leandro!

     Responderam prontamente.

     – De onde somos?

     – De uma cidade distante, chamada Santa Claudia, estamos passando as férias na casa da nossa avó.

     Anandí estava mexendo em sua mochila:

     – E cadê o Amuleto anil?

     – Estava com você! – Madican se preocupou.

     – Está aqui! Achei! Achei! – ela mostrou o Amuleto anil, aquele que tinha o poder de mudar a memória das pessoas.

     – Ufa!

     – Você tem certeza que não vamos encontrar ninguém que te conhecia Lúcia? – Anandí agarrava a pequena pedra com desconfiança – Não tenho certeza de que sabemos usar esse negócio.

     – Não, não vamos não. Podemos ficar na casa onde eu morava antes de ir para o abrigo... Eu sou órfã... Se encontrarmos alguém, será alguém que só me conhecerá de vista, então não teremos que dar grandes explicações. Mas – ela engoliu a seco – Se chegarmos lá e ainda houver lutas, vamos voltar correndo tá?

     Anandí concordou com a cabeça.

     Meia noite.

     Caminharam receosos por entre o arco de árvores. Então o cenário se transformou completamente. Lúcia saiu correndo da pequena caverna, ansiosa para saber o que havia mudado naqueles anos.

     Anandí e Madican saíram depois, devagar, observando de todos os ângulos a tal fazenda, mesmo com a dificuldade da noite. Caminharam até a porteira e de lá por uma rua asfaltada, cujo material deixou Anandí e Madican intrigados. Lúcia sorria porque não ouvia nenhum dos sons típicos da guerra que havia presenciado e porque ao final da estrada, o vilarejo ainda existia. Algumas casas visivelmente reformadas e as luzes acesas a fizeram crer que a guerra havia acabado. Mas no dia seguinte, ao ler um dos jornais, soube que não, que estava ocorrendo um cessar-fogo, mas que possivelmente em algumas cidades longe dali as batalhas recomeçariam a qualquer momento.

     Quando um cachorro latiu, Laura e Leandro pararam de andar e observaram o animal andando de um lado para o outro num dos quintais.

     – Isso é...

     – Um cachorro – Lúcia sorriu – Eu prometo que amanhã mostro vários deles para vocês, vamos!.

     A casa em que Lúcia havia crescido era um pouco afastada da última rua da cidade, o que era uma vantagem. O local estava vazio, porém sujo e obviamente sem luz e água.

A Dinastia da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora