Vinte e três: rotinas

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No final do baile Salesh entrou de volta ao palácio e sentou-se na porta do quarto de Anandí. Ela tinha que contar tudo para a mãe e, com certeza, juntas elas decidiriam o que fazer. Ouviu vozes animadas se aproximando e, quando Liam e Anandí surgiram sorrindo de mãos dadas no topo da escada, ela se arrependeu de estar alí. Por que tinha que ser a portadora de notícias ruins?

A imperatriz olhou para a filha e perdeu o sorriso que tinha:

– Está tudo bem Salesh?

– Mãe... Eu... – ela se levantou dizendo com a voz embargada.

Era a primeira vez que Anandí ouvia Salesh chamá-la de mãe e teve certeza de que era algo sério. Liam fez um leve sinal com a cabeça e se afastou. A imperatriz então se aproximou, envolveu a filha num abraço e ambas entraram no quarto, sentando-se na cama.

Salesh respirou fundo e contou tudo sobre a mensagem de Pérola.

– Datemis não morreu? Mas então por que fui libertada? Por que não há mais guerras?

– Eu não sei... Eu não entendo nada disso.

– Você não precisava ter guardado isso com você tanto tempo, eu vou enviar uma esfera para Pérola hoje mesmo. Ela deveria ter enviado essa notícia para mim e não para você. – Passou o braço em torno do ombro de Salesh mais uma vez – Isso é minha responsabilidade... Você só precisa se preocupar com coisas de sua idade, ou no máximo, em como vai lidar com essa história que ela previu do Noah, tá bom?

– Ã hã...

Anandí limpou as lágrimas no rosto de sua filha, que sorriu levemente:

– Como você consegue?

– Consigo o que?

– Fazer parecer que tudo vai dar certo, que tudo vai ficar bem...

– Não sei... Mas eu realmente acredito nisso. Acho que foram os períodos acreditando que você voltaria para mim.

– Ser imperatriz é tão difícil quanto parece? Não consigo me imaginar... Ainda bem que Antarianos vivem centenas de períodos e a minha vez ainda está bem longe.

Anandí riu alto:

– Acho que todas as princesas têm medo da responsabilidade. Eu também tive. Mas quer saber? O Conselho é quem decide a maioria das coisas, não é tudo "culpa" minha sabe?

– Aquele bando de velhos?!

A esse ponto as duas já estavam gargalhando.

– Eles mesmos.

– Olha... Começo a pensar que vou querer ter uma meia dúzia de filhos... Ao menos um deles realmente vai querer imperar.

– Eu vou achar ótimo ter um monte de netinhos correndo pelo palácio.

– É, mas pense que isso ainda vai demorar décadas.

– Claro, claro. Você é minha benção, mas, não recomendo ser mãe tão jovem como fui.

– E olha que você se livrou de trocar muita fralda.

Anandí diminuiu o sorriso e se levantou da cama, começando a retirar seus brincos.

– É.

– Desculpa, eu não quis dizer isso...

– Está tudo bem, as coisas aconteceram como tinham que acontecer e o que importa é que estamos juntas agora.

– Isso.

No dia seguinte, Salesh também contou aos outros guardiões sobre a mensagem de Paradísia, deixando de fora a parte sobre Noah. A princípio eles ficaram assustados, mas depois do baque inicial da notícia, decidiram que de nada adiantava se preocuparem antes de qualquer acontecimento real. Não havia nada mais a fazer além do que já estava sendo feito: Stockeler e Madican procuravam por Atessa e imaginavam que, ou ela estaria com Datemis, ou saberia de alguma coisa. Também estavam alertas para qualquer guerra iminente, mas, tudo parecia bastante sossegado.

A Dinastia da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora