A Dinastia da Guerra

Cinco: realidades

     As luas iam altas no céu, e finalmente era o primeiro dos sessenta com as passagens abertas.

     Anandí enrolou Salesh em dois grossos cobertores e tirou sua peruca.

     – Bem melhor assim. – O bebê pareceu sorrir.

     Ela havia dado um chá com sonífero para seu guarda e saído discretamente do palácio. Já fazia tanto tempo que ele a vigiava, que haviam criado certa confiança mútua. Confiança essa que Anandí não teve a menor dúvida em trair.

     Subiu num flutuador e saiu silenciosamente em direção ao lado Norte do palácio.

     A caverna, em Gaia, não parecia ter mudado desde a última vez; Anandí saiu para a fazenda e fez o caminho de costume. Mal podia esperar para reencontrar Celso, o abraçaria, beijaria e conversariam por horas. Depois, juntos, decidiriam o que fazer, pois, como dizia Madican "O amor supera tudo".

     Não havia movimento de carros na cidade, para sua estranheza, um ou outro transeunte caminhava apressado, mas não havia tempo para ela entender o porquê daquela situação. Tocou a campainha da casa, tremendo. Não conseguiria esperar até o amanhecer e, além do mais, nem sabia onde poderia dormir.

     Após alguns minutos alguém olhou pela janela. A porta foi aberta devagar e o rapaz vestido com bermuda e chinelos desceu a escadinha até a entrada da casa:

     – Laura?!

     – Oi! – O coração de Anandí disparou quando ela o viu ainda mais bonito do que se lembrava.

     – O que você está fazendo aqui a essa hora da noite? – Ele abriu o portão e continuou a olhá-la, descrente.

     – Ué, eu voltei. Não vai me cumprimentar?

     – Eu não tô entendendo...

     – Temos tanto pra conversar... Ela o abraçou, desajeitada, e então lhe mostrou Salesh.

     – De quem é esse neném?

     – Eu não podia te contar antes, mas, resolvi falar a verdade agora: é sua filha.

     – Que? – ele respondeu um pouco mais alto do que pretendia.

     Ela abriu a boca e então todas as palavras lhe fugiram.

     – Laura, isso está muito estranho. – Ele continuou – Você aparece e desaparece quando quer. A gente começou a ficar junto e você nunca telefonou, ninguém sabe onde você mora... Comecei a achar que você era coisa da minha cabeça e agora aparece assim, no meio da madrugada? – Ele apontou um banco no quintal e os dois se sentaram.

     – Eu... – E mais uma vez ela não sabia o que dizer e sequer por onde começar porque tudo que ela tinha para falar parecia absurdo.

     – Você não teve um pingo de consideração. Como você reaparece assim? Pra que?

     – É sua filha! É nossa filha! – é só o que ela conseguia dizer, com a voz embargada.

     – Qual é Laura? Já vi tudo. Você engravida e corre pra mim? Nós ficamos juntos uma vez e usamos camisinha, agora você me vem com essa? Porque não me procurou antes?

     – Eu sei, é que estes métodos não funcionam com Antarianos e...

     – Ãh?

     – É muita coisa pra explicar. Existem oito dimensões cintilantes e...  – Anandí passou a falar sem parar – Pena que não trouxe nenhum dos Amuletos para te mostrar. Eu sou a princesa de Antaris, me chamo Anandí, esta é a Salesh e...