A guerra acaba, acho que já é começo de outubro, e todos os soldados voltam para suas famílias comemorando. Eu sou um deles! Voltei para casa feliz, por ainda estar vivo e por saber que vou reencontrar mamãe! Mas, ao mesmo tempo, triste pelos soldados falecidos. Estou de luto assim como várias pessoas daqui dessa estação de trem...
Ao desembarcar vi várias mulheres e crianças chorando por ter perdido seu marido e pai. Fico triste por isso. Reconheço uma família em especial, uma mulher e sua filha esperam por um soldado que me ajudou, meu amigo de combate. Em uma noite ele me mostrou a fotografia que carregava, estavam eles todos felizes. Mas hoje, não posso dizer que a mulher e a menina vão sorrir, infelizmente, elas vão chorar e entrar em luto. Meu amigo morreu em batalha, mas foi uma morte digna, porque ele me salvou! Se atirou na minha frente e levou um tiro, por mim. Era para mim estar morto agora, junto com papai, mas ele, tendo seu enorme e bom coração, levou a bala por mim.
Naquele dia chorei o quanto não chorava à anos! Chorei pelo luto de meu amigo, chorei por papai, pelo pai e pela mãe de Mayla e pelos vários soldados que morreram na guerra. Naquele dia criei ainda mais forças para lutar e para vencermos, lutei por todos aqueles que perderam a vida, em especial a meu amigo, que me salvou.
Foi difícil contar a notícia à mulher e à criança, elas ficaram aos prantos, assim como eu! No momento em que a mulher pegou a menina no colo, senti um aperto no peito e tive o impulso de abraça-las, tentando passar o máximo de conforto possível, mesmo sendo impossível.
Após passar um pouco o choro, a mulher saiu de meus braços e agradeceu por eu ter contado pelo falecimento de seu marido. Ela disse que ele era um homem bom, que sempre cuidava muito bem de sua filha e que amava muito sua esposa. Disse, também, que era de se esperar que ele faria um feito como esse, ele gostava de ajudar pessoas e que esse seria o melhor jeito de ele morrer, salvando minha vida. Uma lágrima minha escorreu por causa do mini discurso que ela fez, dava para se perceber a dor em sua voz e em seus gestos. Antes de eu ir procurar mamãe, ela me pediu para ir jantar um dia na sua casa, para conhecer melhor o homem que o seu marido deu a vida. Fiquei um pouco emocionado com o pedido e disse que quando tivesse tempo iria lá.
Depois parti à procura de mamãe, parecia impossível acha-lá nessa multidão. Passei por muitas pessoas que reconheceram que eu era um soldado, pela farda que usava, e que parabenizaram pela ótima luta. O que discordo, porque não foi nenhum pouco ótima! Não sei o que essas pessoas tem na mente! Me parabenizar por matar vários homens? É muito falta de respeito e compaixão da parte deles!
Encontro mamãe em uma outra plataforma, muito distante de onde desembarquei, e junto com uma desconhecida. Me parece que conheço ela, mas não sei de onde, nunca vi aquele rosto. Meu coração diz que ela é quem deveria de ser.
Paro de caminhar e entro em pânico. O coração começa a acelerar, de um jeito que não sei se vou ter um ataque cardíaco aqui mesmo. Meus olho se arregalam, minhas pernas ficam bambas, sinto que vou cair a qualquer momento! Mas isso não pode acontecer, eu não posso desmaiar agora!
Ela está ali seu idiota! Vá até ela!
Minha mente me repreendia de todos os jeitos. Eu tentava fazer alguma coisa, mas não conseguia reagir. Eu ainda estava processando de que ela está aqui, a poucos metros de distância! Tão perto, mas tão distante! Ah... Como queria ela em meus braços, dar meu abraço mais apertado que poderia dar! Ela está aqui, e eu não faço nada, não consigo me mover. Algumas pessoas passam pela minha frente, cortando por poucos segundos meu vislumbre, mas mesmo assim mantenho meus olhos nela. Ela da um grande sorriso, o mais do que poderia ver. Ela é muito mais bonita do que eu pensava, seus cabelos castanhos contrastam com sua pele clara e seu vestido simples a faz se destacar.
Um cobrador de trem apita, me despertando de meus pensamentos. Balanço a cabeça, tentando escapar de meus pensamentos e verifico se é verdade o que via. Agora, vejo, que mamãe está sozinha, mas ela fita o trem que está para partir, parecendo ter alguma coisa de interessante. Percebo que aquilo tudo foi minha imaginação pregando uma peça em mim, ela só sabe mexer comigo e me enganar, muito bem ainda por cima.
Começo a correr na direção de mamãe, ela demora para perceber minha presença, mas quando me vê abre os braços e começa a andar. Tendo dar um abraço nela, mas mamãe recusa.
- Você tem que ir até aquele trem. Nele está ela! - Mamãe fala, mas não consigo me mexer. - Vai logo, Asher!
Me viro e corro até o trem. Ele já estava se afastando, mas foi fácil alcança-lo. Passo por várias janelas e não a encontro em nenhuma. O trem começa a andar maus rápido e eu não consigo acompanha-lo. Vou diminuindo os passos lentamente, olhando as janelas e nesse meio tempo tenho o vislumbre de encontrar ela. Dou um enorme sorriso e aperto o passo, me aproximo do vagão e bato na janela. Ela se assusta, mas fica surpresa ao me ver. O trem aumenta ainda mais a velocidade e percebo que já está chegando ao fim da plataforma. Ela se levanta e sai de meu a campo de visão, a plataforma acaba e quase todo o trem entra na floresta. Fico sem nenhuma esperança, me sento no chão desacreditado e começo a chorar.
Alguém coloca a mão em meu ombro e sei que é mamãe. Ela se agacha e me abraça, passando conforto. Mais lágrimas descem, e parece que um rio vai escorrer de meus olhos. O amor de minha vida partiu, e eu não pude fazer nada! Pelo menos consegui a encontrar, só um trocar de olhares, mas estou feliz, contente. Era o que mais queria, encontrá-la e foi o que consegui. A vi, por poucos minutos, mas a vi com meus próprios olhos.
Tenho a sensação de que alguém se agachou na minha frente, mas estou muito abalado para levantar a cabeça e ver quem quer que fosse que esteja na minha frente, além do mais, que meus olhos já devem de estar vermelhos e inchados. A pessoa a minha frente passa a mão no meu rosto, macia como algodão, mas, ainda, um pouco ásperas pelo trabalho. A mão enxuga minhas lágrimas e faz carinho no queixo, delicada como seda. Levanto o rosto e meu sorriso fica de orelha a orelha, ela está na minha frente, ela é quem está fazendo carinho em mim. Ela é quem quero para mim!
- Olá, Asher.
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Correspondente De Guerra
Historical Fiction1939, Segunda Guerra Mundial. Muitos homens são convocados para ir batalhar pela Alemanha e entre eles está o pai de Mayla. A guerra, uma causa muito "nobre" para algumas pessoas, pode mudar várias vidas. Mas uma vida, em especial, vai ser totalmen...