6| Correspondente da Fazenda

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13 de janeiro de 1943

Prezado senhor Kirschbaum,

Aceito seu pedido! Vou sim, querer ser sua correspondente. É bom ter um amigo. Aqui na fazenda, onde moro, não tem muitos jovens da minha idade. E eu também não tenho amigos, nenhum! Eu sei, o senhor pensa que eu sou muito "recatada" e que não falo muito, mas na verdade eu posso passar o dia todo tagarelando.

Mamãe até pensou em contratar uma professora de bons modos, mas até agora não contratou. Sempre quando ela toca nesse assunto eu fico me perguntando: "Por que existe bons modos? Por que se tem que ter bons modos para sentar, andar, etc...?" Eu até que concordo com os bons modos à mesa, mas só isso! Sinto nojo quando os homens mal educados começam a arrotar à mesa. Isso é falta de educação! E nojento! Tenho horror disso, não tolero nenhum homem que faça isso à mesa. Tomara que o senhor não faça isso.

Eu queria saber, como o senhor passou o seu natal? Está tudo bem aí?

E também, antes que eu me esqueça, meus pêsames pelo seu pai! A perda de um ente querido é muito ruim e dolorosa. Principalmente se ele for uma pessoa muito próxima, como o papai. E eu sei que o seu pai está te cuidando de lá de cima.

E dentro do envelope tem, também, um livro! Que eu amo de todo o meu coração. Eu sei como aí na guerra deve de ser solitário, então pensei em te dar esse livro para o senhor se entreter. Ele não é um romance, pode ficar tranquilo, é um livro de aventura. Fala sobre uma garota que viaja ao mundo em seu pequeno barco e conta todos os desastres possíveis que podem acontecer em uma viajem pelo mundo. Ele é muito bom.

E tomara que dê tudo certo com o senhor, nessa guerra horrível! Não quero que nada de mal aconteça com o senhor! Até mais.

Com carinho,

Mayla Ohana Blaschke.

Correspondente De GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora