Capítulo 8/9 - Enfim nós/Pedaço dela, pedaço de mim...

41 17 7
                                    

POV. Miguel

Foi a melhor decisão que tomamos.
Meus pais ficaram felizes e nem um pouco surpresos quando finalmente contei para eles sobre meu relacionamento. A mãe de Carolina disse que ela poderia arranjar alguém com emprego melhor como um médico, porque contador não era o suficiente para minha sogra. Isso acabou criando um atrito maior entre Carolina e a mãe. No final das contas passávamos a maior parte do tempo na minha casa.

Carol e eu já namorávamos há dois anos. Meus pais e a mãe dela se conheceram em um almoço, que minha mãe havia insistido em fazer. Ela achava besteira não sermos próximos de Dona Laura. Bom, ela achou isso até conhecê-la, né?

Minha sogra chegou na minha casa reclamando, falando como era longe e que o bairro parecia meio esquisito. Olhei para minha mãe que segurava o portão para ela entrar. Minha mãe começou a perceber ali a furada que ela tinha nos metido.

E aí foi só ladeira abaixo com ela reclamando da comida, olhando com desprezo para a nossa casa e botando defeito em tudo o que Carolina fazia. Até Bia, a irmã de Carol, que nem estava lá, entrou no meio da história.
Minha esposa teve que se segurar muito para não rebater cada fala da mãe.

Eu já havia almoçado com elas antes e parecia um jogo de pingue-pongue. Uma rebatendo a outra.

Antes de ir embora Carol pediu mil desculpas para minha mãe, que disse que ela não precisava se preocupar e que estaria sempre ali para Carolina. Dona Lúcia não compreendia como Carolina podia ser filha de uma pessoa tão desagradável, egoísta e mesquinha, que não era feliz com o que tinha, e só sabia criticar o que as filhas e até mesmo nós fazíamos.

Neste pequeno tempo, minha tia Maria nos deixou. Na verdade eu penso que ela descansou, porque seus últimos meses foram de muita dor e muita luta. Era duro para ela passar por isso e para nós que não podíamos fazer nada para acabar com sua dor...

Ela cuidava de mim desde que eu era um bebê. Minha tia era como uma segunda mãe para mim. Todos os sábados, quando minha mãe e meu pai trabalhavam, eu ficava na casa dela assistindo desenhos e jogando bola no quintal. No final da tarde ela fazia seu bolo de cenoura com chocolate, que era uma delícia. Depois de comer, jogávamos baralho. Ela havia me ensinado vários truques que me ajudaram a vencer os jogos com meus amigos, mas confesso que ela também roubava um pouco. Eu rio até hoje, de uma forma bem nostálgica, com as lembranças de quando eu percebia que ela havia escondido uma carta debaixo da mesa.

Eram bons tempos. Dói saber que o tempo não volta. Dói mais ainda saber que a pessoa que você tanto amava, não está mais com você.  

Foi uma perda muito grande para toda a família, até para Carol que havia se apegado com minha tia. Ela ficou ao meu lado me dando todo o carinho e força que eu precisava. Eu desabei no momento em que soube da notícia, quando meu pai e minha mãe a levaram para o hospital e o telefone tocou... Eu sei que era algo de se esperar, mas eu não me acostumo com essas coisas, eu simplesmente não consigo me preparar para receber uma notícia dessas.

Eu fui para o terraço de casa e o céu já estava anoitecendo. Não sei quanto tempo eu passei encostado no parapeito, encarando o céu, mas já tinha anoitecido. Foi, então, que senti alguém me abraçando por trás. Eu sabia que era ela.

Eu fiquei um tempo encarando o céu com poucas estrelas, sentindo o abraço quente de Carolina me envolver. Minhas  lágrimas já haviam secado em meu rosto quando finalmente me voltei para Carol e nós nos encaramos. Ela não precisou falar nada, seus olhos me diziam o que eu precisava naquele momento: eu estou aqui. Depois de alguns segundos de um olhando para o outro, ela voltou a me abraçar, me envolvendo em seus braços novamente. Eu abracei de volta e enterrei meu rosto em seus cabelos que cheiravam a coco. 

Saber AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora