Capítulo 2 - Fim em Negócios

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POV. Carolina

Eu sofro de crise de ansiedade, sempre que tenho de resolver algo que duvido da minha capacidade para a solução. Sou muito confiante no que faço, principalmente no que diz respeito ao meu trabalho. Porém, quando se trata de problemas pessoais ou problemas com o meu casamento, nenhum remédio poderia controlar minha ansiedade. Sinto-me tão vulnerável, que sinto vontade de chorar por qualquer coisa. 

Eu estava num edifício no centro da cidade para ter uma reunião com o meu advogado e o de Miguel, antes de assinarmos a papelada. Muita burocracia. Decidiríamos hoje algumas coisas fundamentais.

Eu tenho uma abominação pela palavra divórcio. Tenho mesmo. Sou advogada e atuo na área trabalhista. Não me especializei na vara familiar, pois não suporto essas disputas por guarda de criança. Não preciso ficar ouvindo histórias e mais histórias de casais que não deram certo. Já basta a minha. Já basta as histórias de minha mãe com seus namorados.

Fiquei balançando descontroladamente minha perna, enquanto estava ali sentada esperando. Até que não aguentei e tive que levantar para espairecer minha cabeça.

- A senhora está se sentindo bem? – perguntou a secretária que estava na sala de espera. Eu estava tão absorta em meus pensamentos que nem notei sua aproximação.

- Estou, sim. – respondi com um falso sorriso, tentando demonstrar um pouco da minha sanidade e não parecer a louca desvarrida quase surtando por causa do divórcio.

Ela sorriu gentilmente para mim e retornou ao seu lugar. Eu não devo estar parecendo uma pessoa certa das ideias nessa altura do campeonato. Olhei meu reflexo na porta de vidro do escritório. Louca desvarrida, pensei. Toda descabelada, com olheiras enormes, e mais pálida que outra coisa.

Meu pai e minha mãe, Dona Laura, nunca se casaram, mas ela sempre quis. Meu pai sempre teve o jeito de espirito livre, até hoje ele é assim. E minha mãe queria que ele se aquietasse ao lado dela. Ela pensou que se engravidasse conseguiria segurar meu pai. Então, eu nasci e isso não foi motivo para que meu pai se comprometesse com minha mãe e muito menos comigo.

Eu não fui fruto de uma linda história de amor. Quando eu era menor, eu era a criança mais manipulável do mundo. Minha mãe armava várias peças para conquistar meu pai e me colocava no meio, o que fez com que ele se afastasse de mim.

Se para Dona Laura eu era a chance de chantagear e conquistar meu pai, minha irmã era um acidente. De um dos casos que minha mãe teve, nasceu a Bia, mas ela tem mais sorte que eu, porque o pai pelo menos é bem mais presente.

Voltei a sentar no sofá da sala de espera e organizar minha bolsa e meus documentos que estavam jogados no sofá.  Eu admito que sempre fui uma pessoa impulsiva, que quando toma uma decisão não volta atrás, mas que também se arrepende depois pelas consequências.

Não sou mais a jovem que corria atrás do cara que ela julgava ser o certo para a vida dela. Na verdade não sei direito quem eu sou atualmente, mas identifiquei bem quando o amor de um casal não estava mais presente no meu casamento. 

 A vida já não é mais tão fácil quanto parecia na época em que Miguel e eu nos conhecemos. Eu tinha tempo livre, eu era extremamente manipulável. Dava-me o luxo de ficar arrasada na cama por dias após brigar com Miguel. Nos dias atuais, não importa o que tenha acontecido, eu tenho duas vidas dependendo de mim, preciso levantar para trabalhar de cabeça erguida. 

Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas eu não estava feliz e sei que por mais que Miguel me amasse, ele também não estava feliz. Isso pode ter dado certo um dia, mas hoje, não está mais dando.m Amor não é a únicacoisa necessária num casamento. É o essencial, é claro, mas... Eu estou esgotada de ser a única eu se esforça eque faz tudo dentro de casa. O casamento é uma via de mão dupla e quando ele passa a ter um único sentido, é hora de pular fora. Lembro bem quando saí dessa.

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