Capítulo 16 - Um tempo para mim

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POV. Miguel

Carolina: O que aconteceu??? Ele tá bem???
Carolina: Me diz o hospital que eu já tô indo para aí.

Eu sabia que não devia ter falado nada para ela. Agora Carol vai ficar preocupada.

Eu estava arrumando a mesa com um lanche bem gostoso para Carolina e as crianças quando minha mãe me telefonou dizendo que estava indo para o hospital com meu pai, para eu encontrá-la lá. O pressão dele havia subido. Pelo jeito Seu Otávio não está levando sua dieta e seus remédios a sério.

Cheguei correndo no hospital, desesperado, querendo saber qualquer informação. Meu pai estava fazendo alguns exames e minha mãe aguardava preocupada do lado de fora, e mesmo sem saber o que estava acontecendo ela tentou me acalmar. Eu sabia que minha mãe estava com medo, mas ela jamais deixaria isso transparecer. Meu irmão havia viajado para tocar em outra cidade, ele estava conseguindo ganhar dinheiro com sua banda. Minha mãe decidiu que deixaria para avisá-lo depois para não preocupá-lo.

Depois de uma bateria de exames, o médico veio até nós e disse que podíamos vê-lo, mas que antes queria falar conosco e nos puxou para um canto na sala de espera.

- A pressão dele estava muito alta. Ele se queixou de dor no braço esquerdo. - explicou o doutor. - Vocês sabem o que isso diz de acordo com a saúde dele?

Minha mãe assentia concordando enquanto segurava as lágrimas. 

- Vocês tem que garantir que ele tome os remédios que eu vou passar e controlar o que ele come. Tem que evitar comidas salgadas e evitar o estresse, para evitar que algo aconteça

Senti um arrepio na minha coluna quando ouvi o que o médico disse. Nós sabíamos muito bem o que aquilo significava, principalmente minha mãe, que trabalhava como enfermeira. Era princípio de infarto, quando alguém está prestes a ter um infarto ou ataque cardíaco, o braço esquerdo começa a doer...

Eu tenho que cuidar do meu pai. Ele não pode deixar a gente. Por mais teimoso que seja, ele tem que se cuidar.

- Seu marido é muito cabeça dura, Dona Lúcia.  

Sim. Meu pai era cabeça dura demais. Depois de nos alertar, o médico nos levou até onde meu pai estava. Seu Otávio estava medicado e um pouco impaciente na cama do hospital. 

- Já posso ir embora? - perguntou quando eu, minha mãe e o médico adentramos o quarto.  

- Não. Se o senhor está no hospital tem um motivo. - retrucou o médico. 

- Mas eu já estou me sentindo bem, doutor. - meu pai falou. 

Ele até podia ser casado com uma enfermeira, mas odiava hospital.  O médico apenas decidiu ignorá-lo e nos deixou a sós. 

Aproximei-me devagar da cama, puxei uma cadeira para eu sentar e segurei a mão de meu pai. Ele parecia fraco, cansado e eu não gostava nada de vê-lo assim. 

Quando eu era pequeno, pode parecer um pouco clichê, mas meu pai era um super-herói para mim. Super-herói do cotidiano. Ele tinha a força para aguentar todas as sacolas mais pesadas do mercado, e falava que eu ajudaria ele levando a sacola com um pacote de papel higiênico. Era ele que consertava tudo o que quebrava em casa. Era ele que tinha uma pequena horta dentro de casa e me fazia acreditar que plantava feijões mágicos, que se eu plantasse brotaria um pézinho só meu. E claro, não passavam de feijões normais, mas foi assim que comecei a gostar de ajudar meu pai com as plantas. 

Pra mim ele sempre foi um cara forte e saudável. Queria que fosse verdade...

- Ei, pai. O senhor me deu um susto. -falei acariciando sua mão.

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