POV. Miguel
Se apaixonar é fácil, namorar é fácil, encontrar alguém que você ame e que ame você, é fácil. O difícil mesmo é manter esta pessoa ao seu lado e superar todas as dificuldades ao lado dela.
Ao longo dos nossos quase dez anos de casados, passamos por muitas coisas. Situações boas e situações ruins. Carolina perdeu o emprego no escritório que trabalhava, ficando até seis meses sem trabalho. Passamos por maus bocados, nesse período. Com apenas meu salário, que não era lá essas coisas para sustentar três pessoas, não conseguíamos pagar todas as contas. Nossa luz chegou a ser cortada. Entramos em desespero durante esse curto tempo, pois tínhamos que priorizar tudo o que envolvia a Luísa.
Carolina colocava seu currículo onde podia. E eu também, tentando conseguir um emprego melhor. Vendemos muitas das coisas que gostávamos para conseguirmos nos manter. Carolina teve vender sua câmera e deixou de fotografar, algo que ela amava.
Cheguei a cogitar a voltarmos a morar na casa dos meus pais, mas apenas se não desse mais pra sustentar. Meus pais jamais souberam do que passamos. Carolina tinha proibido de contar para eles, e eu mesmo não queria que eles se preocupassem. Então, sempre que minha mãe me ligava perguntando sobre como estávamos, a resposta era sempre "Bem.".
Enquanto isso, Luísa já tinha quase 4 anos e também já tinha suas próprias vontades. Quando via um brinquedo em uma vitrine e se encantava por ele, ela tentava pedir para nós. Doía dizer olhando naqueles olhinhos inocentes que não dava para comprar. Ela ficava triste, mas não reclamava.
Depois de quase dois meses de puro desespero, Carolina encontrou um novo emprego e tudo foi voltando aos poucos ao normal. Porém, Carol começou a trabalhar freneticamente e ficou anos sem tirar férias. Desde quando a conheci, ela tinha na cabeça que não poderia depender de ninguém, que sempre tinha que se virar sozinha. Até hoje, ela tem medo que todo esse perrengue que passamos retorne e que tudo desmorone. Ficava me perguntando se ela não confia em mim quando digo que estou ao lado dela para o que der vier. Mas isso não tinha nada a ver comigo, era uma questão da Carolina. Uma questão muito antiga por sinal.
Alguns meses depois, eu encontrei um emprego melhor. Não passamos sufoco depois disso, pelo contrário, passamos a ter uma vida melhor. Mas o receio de que tudo desmorona-se outra vez ainda estava na mente de Carolina.
Depois dessa crise financeira que tivemos, quando já tínhamos uma estabilidade, resolvemos ter mais um filho. Estávamos finalmente prontos para isso e essa gravidez seria mais tranquila que a primeira. Luísa tinha cinco anos e sabíamos que ela precisava de um irmãozinho. Nós dois tínhamos irmãos e simplesmente não conseguíamos pensar na ideia de sermos filhos únicos.
Carolina logo engravidou, e nós não poderíamos ter ficado mais felizes. Não tínhamos mais aquele medo e aquela incerteza de como seriam as coisas quando o bebê nascesse. Estava tudo planejado em nossas mentes. Até havíamos começado a comprar algumas pequenas coisas.
Pulguento dormia toda noite conosco na cama, com a cabeça na barriga da minha esposa. Ele parecia escutar tudo o que nosso bebê fazia lá dentro. Ele começou a fazer isso quando Carol engravidou, alguns dias antes de sabermos. Acho que ele soube antes de todo mundo.
Minha esposa estava encantada com a gravidez, assim como eu, ela estava se sentindo mais madura e preparada. Eu amava ficar fitando a Carolina igual um idiota, enquanto ela se olhava no espelho e passava a mão na barriga, tentando notar se havia crescido mais um pouco. Queríamos aproveitar cada segundo daquele momento. Nossa família iria crescer mais um pouquinho, seríamos agora: Carolina, eu, Luísa, Pulguento e o nosso neném.
Quando eu era adolescente, eu sonhava em ter uma linda família e eu não sabia se conseguiria. Agora eu tenho a melhor que poderia pedir.
Porém não vivemos apenas de momentos felizes. De repente tudo desmora novamente de um jeito irreparável. Foi aí que nós sofremos acho que o pior momento em que já passamos juntos.
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Saber Amar
RomanceO amor não basta para sustentar uma relação. Miguel aprendeu isso quando já tinha idade, quando talvez fosse tarde demais... O famoso "último dos românticos", Miguel acreditava muito bem na existência do amor da sua vida e que encontrou-o por acaso...