POV. Miguel
Nosso segundo encontro também não foi lá essas coisas. Pelo menos agora eu posso dizer que estávamos quites.
Daniel havia ficado indignado quando contei não havia acontecido nada, nem um beijo. Ele havia me chamado de... Ah, lembrei! Bocó. Até nos dias de hoje, ainda me surpreendo com os adjetivos que surgem de Daniel.
Eu havia terminado com Fernanda já fazia algumas semanas. Meu amigo falou que eu havia feito bem. Ele não ia com a cara dela assim como minha família e olha que é bem difícil eles não gostarem de alguém. Acho que havíamos ficado juntos, porque numa festa de faculdade eu estava de bobeira e era o cara com um curso considerado "aceitável" para o padrão de Fernanda, que fazia odontologia.
E lá estávamos, Daniel e eu, sentados em uma mesa de madeira, debaixo de uma árvore, próximos a algumas lanchonetes da faculdade.
- Eu só quero que o período acabe. - falou Daniel, cansado de estudar e abaixando a cabeça. - Eu aceito essa derrota.
Balancei a cabeça e ri, enquanto voltava a me concentrar no exercício que eu fazia para uma prova.
- Fiquei sabendo que a Fernanda arranjou um namorado que é do curso de Medicina. - ele falou e revirei os olhos ao ouvir o nome de Fernanda. - Acho que ela viu que eles ganham mais. E tem o nariz empinado igual o dela, então combinam direitinho.
- Não quero mais saber de nada, não. Ela que vá viver a vida com um médico, empresário, engenheiro ou sei lá o que. Não estou nem aí. Só sei que me livrei. - falei, por fim.
- Que bom que você se tocou, né? - disse Daniel, meio irônico e juntando seus materiais. - Olha, já vi que não vou absorver mais nada. Vou logo pra sala e seja o que Deus quiser nessa prova.
- Boa sorte.
- Vou precisar. - ele falou se levantando da mesa e se despedindo. - Até mais tarde.
- Até. - falei, enquanto ele se afastava.
Continuei resolvendo os exercícios que eu já entendia, mas sempre era bom praticar. Eu escutava o barulho das conversas dos outros alunos saindo de suas aulas, indo almoçar e me concentrava. Eu nunca fui fã de estudar no silêncio, porque a falta de barulho me desconcentrava. Estranho, eu sei.
- Não acredito que você é flamenguista! - disse uma voz conhecida atrás de mim. Olhei para minha blusa, e virei para ver a dona da voz.
E lá estava Carolina, com os olhos semicerrados e os braços cruzados, porém segurando um riso. Não pude evitar e ri também. Fazia semanas que eu não a encontrava. Seu cabelo estava mais curto e liso. Ela se aproximou e depositou um beijo em meu rosto antes de sentar-se ao meu lado.
- Esperava mais de você. - ela falou.
- E de que time você é pra falar assim do campeão? - perguntei implicando.
- Vasco.
- Você está brincando, não é?
- Vamos cantar de todo coração. A cruz de malta é meu...- começou ela a cantar o hino do time.
- Já entendi.- respondi, rindo.
- Melhor time de todos. - ela declarou, piscando o olho para mim.
- Vou apenas ignorar esse comentário. - zombei. - Como você está? O que veio fazer aqui?
- Eu estou bem. - respondeu ela, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. - Vim encontrar uma amiga da época colégio, porém ela me deixou pra ficar grudada no namorado. - disse ela, indicando com a cabeça o casal agarrado, sentado em um banco, afastado de nós. Carolina revirou os olhos para a cena.- Não sirvo para segurar vela. Enfim, você sabe de algum restaurante barato por aqui?
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Saber Amar
RomansO amor não basta para sustentar uma relação. Miguel aprendeu isso quando já tinha idade, quando talvez fosse tarde demais... O famoso "último dos românticos", Miguel acreditava muito bem na existência do amor da sua vida e que encontrou-o por acaso...