Havia sido uma noite... longa. Não fazia calor em Velaris, ainda mais naquela altitude. Porém Feyre fazia Rhysand suar como se tivesse atravessado Prythian caminhando. Seis vezes. Ele também não deixava a Grã-Senhora em estado diferente. Deitada de lado, com as elegantes pinturas a enfeitar a pele nua arrepiada pelos ventos frios e as carícias de Rhysand, as curvas de Feyre faziam o grão-senhor perder todo o senso de foco.
Foi uma luta não abraçá-la e brincar com sua orelha até que os olhos da mulher revirassem e ele escutasse a gargalhada que perpetrava todos os pensamentos felizes e sórdidos que tinha. Mas já era dia. Haviam compromissos. Compromissos sérios. Uma batida na porta o tirou dos pensamentos.— Devo mentir e dizer que fico desconfortável demais com vocês nesse estado para entrar... — A voz abafada de Cassian já estava carregada de sarcasmo. — Ou devo parar de enrolar e entrar assim mesmo?
— Fale da porta e rápido, ou juro pelo Caldeirão que vou arrastar sua cara por todas as montanhas da cidade.
— OK, bravinho. Pensei que machos ficassem mais felizes depois de--
—Cassian.
— Certo, certo. Há uma nota de compromisso que não abri. E nossas sentinelas acharam um forasteiro. Mas sugiro que foque na nota.
— Por que?
— Porque vem da corte de Helion.Minutos depois estavam ele e Feyre na sala. Todo o Círculo Íntimo estava reunido. Cassian largado em um dos sofás, Azriel encostado em uma das paredes ao fundo, Mor sentada perto de Cassian e Amren em pé, braços cruzados e olhos atentos. Foi a Grã-Senhora que iniciou a conversa:
— O convite.
— Veio esta manhã. — A voz de Azriel, baixa e firme, se fez ouvida. — Nada além da carta. O mensageiro foi embora assim que a entregou a um dos nossos.
— Alguém já viu o conteúdo? — Ela perguntou, encarando o papel dourado com certo receio.
— Ninguém. — Cassian ajeita a postura. — Estávamos esperando vocês.Feyre quem abriu a nota com o selo solar gravado. Correu os olhos rapidamente e empalideceu. Mesmo assim, tomou fôlego e leu em voz alta:
— Saudações à Corte Noturna. Venho eu, Grão-Senhor da Corte Diurna, comunicar que eventos de força sobrepujante me forçam a escrever esta nota. — Ela respira fundo. — Uma entidade há muito esquecida retornou, e com ela a possibilidade de tragédias maiores do que qualquer coisa que testemunhamos. É por demais perigoso e incansável. Veio a meus domínios, procurando firmar alianças. — A mão de Feyre treme levemente, mas não a voz. Koschei fizera a mesma coisa antes de desaparecer. A conversa havia sido curta demais, mas ela lembrava da presença sufocante. E dos olhos vermelhos. — Estou inclinado a crer que fará o mesmo em todas as outras cortes, utilizando diferentes estratagemas. Sugiro que conversemos à respeito de uma estratégia silenciosa de retaliação. Este mal não precisa andar por nossas terras por muito tempo. Anseio pela resposta o quanto antes. Os saúdo, Grão-Senhor e Grã-Senhora da Corte Noturna. Honrado e grato, Helion.
O silêncio foi opressor. Cassian encarava o vazio. Azriel encarava seus líderes, Amren estava estoica e firme, embora o abalo da mensagem corroesse seu sangue; e Mor parecia querer explodir em milhões de pedaços. Ou explodir Koschei em milhões de pedaços. Rhysand quebrou o silêncio.
— Aceitaremos. — Todos os olhos voltam-se para o Grão-Senhor. — Aceitaremos e chamaremos as Cortes restantes. Para tentar convencê-los antes que Koschei o faça. — Uma sombra cruel e determinada percorreu os olhos violeta. — Revidaremos. Juntos.
Todos assentiram. Rhysand sentiu a carícia suave e acolhedora pelo laço e retribuiu da mesma forma. Voltando os olhos para Cassian, ele interpela:
— E o forasteiro?
— Esperando do lado de fora. — Um sorriso ladino e debochado. — Não preso, mas vigiado. Achei que seria um bom presente.Um aceno de mão de Rhysand fez os quatro sentinelas entrarem acompanhados de um feérico atarracado e enorme. Tão grande quando Rhysand ou Cassian. Seus cabelos prateados alcançavam os ombros, e seus olhos esverdeados encaravam todos os cantos. Não parecia ter medo, mas cautela.
— Onde estou? — A questão era mais para si. — Onde é este lugar?
— Está em Velaris. Minhas terras. As terras da Corte Noturna.
— Corte Noturna?
A pergunta era uma surpresa.
— Não conhece esta Corte?
— Não conheço território algum que se proclame Corte. Mas se lhe serve a informação, pertenço a uma família de feéricos sangue puro de Erilea.Pelo Caldeirão em chamas, pragueja Rhysand. Que diabo havia acontecido àquele feérico? O que era Erilea? E porque o cheiro de seus poderes era tão significativo? Ele exalava força, embora aparentasse ser um ramo mais fraco de sua linhagem. Rhysand considerou alguém mais forte, e o pensamento não foi agradável.
—Não há Erilea alguma.
— Há. Um continente enorme, onde humanos e feéricos vivem juntos e não... separados por barreiras mágicas. Venho de lá.
— É um sangue-puro?
— Sim.
— Qual a sua corte de origem?
— A corte de Whitethorn. — O feérico inspira. — A corte de Rowan Whitethorn, príncipe feérico.
— E quem é seu senhor?
— Servia à Rainha Maeve, senhor. Porém desertei e fugi. Para longe. Para cá.Amren pareceu desconfortável quando o nome Maeve foi mencionado. Mas pode ter sido algo instintivo. Azriel, por outro lado, tornou-se mais sombrio que o habitual. O Grão-Senhor inspira e pergunta, a voz dura e baixa demais para ser apenas uma interrogação:
— Por que confiar num desertor? Me parece apenas um traidor desesperado em fuga.
— Porque fugi de minha antiga senhora por medo. Medo do seu poder sombrio, e fidelidade à meu primo e minha casa. E minha regente.
— Primo. — Rhysand pondera, juntando as poucas peças. Era um membro de uma corte por sangue, qualquer manobra mal feita poderia gerar incidentes, se e somente se o que o feérico afirmasse estivesse certo. — Então você jurou lealdade a uma nova rainha. Quem seria?
— Aelin. — A sala pareceu ficar mais quente. — A rainha Aelin Galathynius.
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Corte dos Sonhos e Outros Contos
ФанфикInspirados no mundo ficcional criado por Sarah J. Maas na série Corte de Espinhos e Rosas, esta série de contos retrata momentos passados ou futuros relacionados aos acontecimentos da trilogia original. Certos elementos do quarto livro entrarão nos...