Sou um conquistador.
A realeza não é apenas um símbolo de poder, é a representação da força de um território. Grandes reis, grandes reinos. Conquisto não por mim, mas pelo meu povo. Mato, não por mim, mas pelo meu povo. Todas as minhas ações, não interessa quão cruéis ou violentas, são para o bem maior de meu povo. É o que sou. Um símbolo, um rei e um conquistador.
Nasci em uma família de força e poder. Meu pai, Alkion, nasceu muito antes de Prythian receber seu nome. Foi um dos maiores de nossa raça, um dos mais fortes de seu tempo. Seu poder e sua visão reuniram nosso povo como um. Destituíram os antigos deuses, sagraram-se supremos nestas terras. Donos e Senhores.
Cresci em força e poder rapidamente. A cada dia, me tornava melhor. Mais forte. Mais capaz. Da aurora de um novo momento, uma nova raça emergiu do oblívio, jovem e curiosa. Humanos. Frágeis, incapazes e patéticos humanos. Animais. Bestas. Inúteis em tantos graus, indefesos em outros mais. Não entendo como a Mãe desperdiçou sua magnífica divindade nestes seres inferiores. Não demorei a os odiar.E como uma praga, proliferaram. Espalharam-se e dominaram terras. Nossas terras, nosso direito. No território de meu pai, eram tratados como deveriam: como animais. Trabalhos braçais, serviços, obras e todo tipo de entretenimento saía das carnes mortais. Nos serviam, silenciosos e obedientes. Eu me deliciava e me festejava nos seus olhares assustados, na dureza de suas carnes tensas e aflitas, a sinfonia de seus gritos era um manjar para minha alma imortal.
O tempo passou, e com ele, a era de força e aço. Alguns feéricos de enorme poder no continente começaram a julgar os atos que fazíamos aos animais. Tomaram posição a favor dos vermes. Sujaram-se. Contaminaram-se. Quem se alia aos vermes também o são, e como tal, merecem ser pisados e esmagados na terra que ousam infectar.
Uma reunião de minha família foi um estopim significativo. Minha irmã, Alissa, repudiava o tratamento aos mortais. Encontrava-se sozinha a pobre Alissa, pois nossos pais compactuavam com o certo. Eram bichos! Nada mais do que bichos! Barro, seco e distorcido e ruim! Imperfeições que a Mãe, tomada do mais profundo tédio, criou para divertir-se e para nos divertir. Nascem apenas para morrer.Nisto dou crédito à minha irmã: sua persistência. Inabalável e irredutível em argumentação era Alissa, e com suas palavras conseguia dobrar a muitos, que se espalhavam pelas ruas, levantando seu estandarte branco em defesa dos patéticos mortais.
"Somos mesmo melhor que todos eles, pai?" Ela ousou dizer, apoiada na grande mesa de madeira e aço que exibia o mapa de nosso mundo, o avanço mortal nas sagradas terras feéricas. "Estamos agindo como as feras que dizem que eles são, exterminado-os como gado!"
"Estamos limpando Prythian, Alissa." Meu tom era calmo, e minhas palavras, corretas. Estávamos fazendo o certo: desitoxicando nossa terra. Mantendo a pureza de nossas raízes. "Nossa reação é natural. Quando há uma praga assolando nossos domínios, o certo a fazer é eliminá-la, sem deixar vestígios. Eles são a praga."
"Ouça sua voz, Gallar! Não vê que é isso que nos torna piores que eles?!" Ela vocifera, encarando meu pai com suplicantes olhos brancos. "Meu Rei, não deixe que prossigam este massacre. Não erga a espada, meu pai. Nosso sangue também será derramado, e em vão. Faça um acordo."
"Acordo?!" Recuo, encarando Alissa com horror, genuíno horror diante de tão patética e ridícula possibilidade. "Hybernianos não acordam. Hybernianos vencem."
"Basta." Nosso pai levantou-se, e com ele, nossa mãe. "Iremos à guerra, Alissa. Venceremos. Purificaremos Prythian. Purificaremos o presente que a Mãe nos deu. Tomaremos de volta o que é nosso por direito."Não demorou até que nossas forças invadissem Prythian. Até que fôssemos para a guerra, não demorou até que o sangue encharcasse aquela terra. Para cada feérico morto eu massacraria cem mortais indignos de vida. Para cada gota de sangue feérico derramado eu abriria rios de sangue humano.
Comandei um regimento especial de guerreiros raskianos, ferozes e potentes. Ao meu lado estavam Amarantha, fiel general das forças hybernianas, e Jurian, o único animal digno de qualquer tipo de reconhecimento. Um desperdício de capacidades sublimes em um corpo mortal decrépito.Detestava comandar de modo confortável. Sem me sujar. Minha liderança era pelo exemplo, e cada cabeça que eu derrubava faziam meus soldados derrubaram dez mais. Eu me encharcava de sangue mortal, o bebia e o derramava a litros. Feéricos que se punham em meu caminho eram eliminados sem distinção. Se vermes defendiam, vermes também o eram.
Do outro lado da batalha, uma cortesia da Corte Noturna, estavam os illyrianos. Bestas magníficas. Um rascunho da magnitude feérica, moldados para a batalha e para a morte. Seja ela contra ou a favor deles.
A minha frente pousa um general. Seus cinco Sifões acinzentados, rochas que concentram seu poder, despontavam da armadura negra como estrelas presas ao corpo. As asas ofereciam maior presença ao bruto. O encarei, enquanto ele movia a arma. Não parecia ser uma lâmina illyriana."Veja esta espada, regente. Eu a chamo de Regicida. Viajou por toda a Prythian até chegar aqui. Era destinada especialmente para a cabeça de seu pai. Mas posso me contentar com a SUA!"
Lento. Terrivelmente lento, teatral e patético. Minha lâmina divide seu corpo em dois antes que o avanço se conclua. O sangue pinta o barro e não perco tempo em pegar sua arma batizada e destroçar seu regimento, que brandiu furioso para cima de mim. Regicida. Feita para matar reis. Erguida por um. Mais guerreiros surgiram, como insetos saídos de um poço.
Rugi. E ataquei.Contudo, nossos esforços foram frustrados. Os legalistas venceram. Em ferrenho combate contra o Grão-Senhor da Noturna, meu pai caiu. Seu poder veio à mim, a brisa e força de um novo domínio, um novo comando.
Executei, à própria mão, todos os mortais que misericordiosamente viviam em meu território. Massacrei todos, os cacei e estraçalhei como gado. Alissa e seus apoiadores foram executados em praça pública, para que todos lembrassem do erro fatal que haviam cometido. Apoiar vermes não era a solução. Nunca foi. A praga não tinha que ser defendida. Tinha que ser exterminada.Amarantha entra na Sala do Trono, onde eu via os mapas das terras de meu povo, agora com um tracejar. Uma Muralha, fruto da porcaria de um acordo patético entre os vermes e os feéricos. Um empecilho, uma falha. Um erro que eu estava disposto a corrigir.
"Meu Rei."
"Uma Muralha. Criaram uma muralha para nos defender de uma praga, Amarantha." Eu ergo o olhar para minha general. Ela entendia. "Prythian abraçou a doença que a corrompe. Abraçou a desgraça e a fraqueza. Hybern não compactua com isso."
"É perfeitamente compreensível, meu Rei. Que medidas serão tomadas?"
"Enviarei você àquele território fracassado como minha voz. Você será Hybern naquelas terras. Transmitirá a mensagem aos seus líderes, jogará o jogo que eles jogam." Me aproximo, encarando os olhos predatórios de minha general. "E vencerá."
"Será feito, meu Rei."E seria. A mão de Amarantha era mais dura que o aço mais forte. Confio em seu poder e sua força sem ressalvas. Ela era uma hyberniana, e hybernianos não fracassavam. Antes de sair, Aramantha voltou-se à mim uma última vez.
"Deseja mais algo, meu Rei?"
"Bränn, Senhor de Rask. Você o conhece."
"Sim, meu Rei."
"Peça para que ele tenha com o Dragão do Norte. Está na hora de medidas ofensivas. Precisaremos de uma arma definitiva para um fim definitivo."
"Será feito, milorde."A realeza não é apenas um símbolo de poder, é a representação da força de um território. Grandes reis, grandes reinos. Conquisto não por mim, mas pelo meu povo. Mato, não por mim, mas pelo meu povo. Todas as minhas ações, não interessa quão cruéis ou violentas, são para o bem maior do meu povo. É o que sou. Mais que um rei. Mais que um monstro. Mais que um titã. Sou meu povo.
Eu sou Hybern.
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Corte dos Sonhos e Outros Contos
FanfictionInspirados no mundo ficcional criado por Sarah J. Maas na série Corte de Espinhos e Rosas, esta série de contos retrata momentos passados ou futuros relacionados aos acontecimentos da trilogia original. Certos elementos do quarto livro entrarão nos...