Ascensão

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Parte I: Justiça Divina

Mesmo que o tempo passe certas coisas não mudam. Em 2030, os países asiáticos com destaque para Coreia do Sul e Japão ainda eram os lugares do mundo onde o crime menos compensava.

Não importa se quem fez algo ilícito foi um faxineiro ou um juiz, todos são julgados sob a mesma lei, e assim não poderia ser diferente para o professor de Yuna, que estava em prisão preventiva desde a festa.

Ele já havia tentado se matar momentos antes de ser preso, seu caso era bem complicado, visto que o acusado dizia coisas estranhas como "Aquela coisa está vindo me pegar, o demônio esverdeado". Em países liberais, ele provavelmente seria internado para sempre em um manicômio.

Seria inimputável.

Mas a lei Sul Coreana tinha sido substituída pela lei chinesa há muito, sendo um território anexado desta assim como Hong Kong, Taiwan, Japão, entre vários outros países que eram obrigados a seguir a mesma "constituição".

Em resumo, pena de morte era aplicada a maioria dos crimes, sem atenuantes para idade e/ou deficiências mentais.

Agora que suas tentativas de suicídio fracassaram, tinha que encarar a justiça e a situação estava bem difícil porque, segundo seus depoimentos preliminares, afirmava que não se lembrava do motivo de suas ações.

Afirmava apenas que fora controlado por um demônio.

Mas, tais coisas não existem, né?

Seu julgamento final estava marcado já para quinta de tarde, graças ao surgimento da automação em processos judiciários utilizando inteligência artificial para resolver pequenas causas, a velocidade para os julgamentos mais complexos terem sentença promulgada ficavam na média de um dia, ao invés de meses, tal como era na década de 20.

O caso do professor Jung era um destes complexos porque ele "supostamente" aliciou uma garota em uma festa da agência YK e coisas desse tipo ainda não poderiam serem julgados por uma máquina, principalmente por causa da repercussão.

Para piorar a situação de Jung, a acusação tinha o laudo pericial obtida por meio das câmeras de segurança do local, a única certeza do fim desse julgamento seria a péssima repercussão que a YK iria sofrer.

Falando em laudo das câmeras, aquelas fitas não filmaram tudo que aconteceu naquele dia, sua gravação foi quase que exclusiva para capturar Jung em suas perversões, alguns minutos depois dele ter tentando aliciar Yuna e foi tentar a sorte com outras garotas.

Poupando-a, então, de sequer ser mencionada neste caso.

O tribunal de Seul ainda seguia a arquitetura tradicional sendo um enorme prédio onde vários julgamentos históricos aconteceram, havia mesas longas de madeira do século passado sendo cinco na direita e outras cinco na esquerda com um amplo corredor no centro.

Ali ficava o espaço para a imprensa, já os familiares dos envolvidos eram acomodados na parte de trás. O juiz estava vestido a altura, ficava no centro, era um homem de idade e muito vivido, com experiência em todo tipo de caso.

Por fim, em duas cadeiras mais baixas, ao lado da do juiz ficavam réu e vítima. Separados, mas próximos.

O julgamento tinha completado mais ou menos uma hora de duração e tudo estava se encaminhando para a decisão magna do juiz, mas, antes disso era hora das declarações finais das partes envolvidas.

Começando pelo réu que estava muito inquieto e já usava a roupa laranja de presidiário. Seus olhos não focavam em ninguém em particular e ele dizia, olhando para os lados tal como se tivesse com medo de ser escutado pelo demônio que ele afirmava ver:

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