Alma podre

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Parte I: Descida

Enquanto caía no buraco sem fundo daquele mundo sombrio, de volta ao limbo, tal como quando entrei no pesadelo.

Mesmo sem conseguir enxergar o meu corpo eu conseguia imaginar o que poderia vir em seguida.

Sabia que, com certeza, estava sendo presa em uma espécie de labirinto pela Sorte, onde tudo que tinha passado durante minha vida seria mostrado para mim, como uma verdadeira punição e meus medos iriam ser meus carrascos ali.

O único problema da minha teoria era saber qual era o tal objetivo daquele demônio em fazer eu passar por tudo aquilo, a única certeza que eu tinha era que tudo que estava acontecendo estava relacionado com aqueles números que ele falava enquanto a realidade se alterava...

Pensando bem eu já tinha visto aquela sequência de números em vários lugares, como no elevador, nos sonhos e até mesmo o número do meu apartamento era essa sequência...

"3, 1, 0, 9,7" — Pensei, essa deve ser a chave para algo.

Meus pensamentos foram interrompidos bruscamente pela batida do meu corpo contra o chão, que de alguma forma não doeu nada apenas levei um susto com o baque.

Era ilógico pelo tempo de queda não ter tido nenhum arranhão sequer.

Mesmo assim, levantei-me sem dificuldade e olhei para cima, havia um pouco de luz, como a abertura lá em cima era circular imaginei que estava em um poço, quando olhei para o chão vi que a mesma imagem era refletida, criando uma ilusão de ótica.

Bati o pé no "chão" e caí para além do fundo daquele poço, e parei apenas quando caí em outro lugar, e este era impossível de confundir.

Aquele lugar era, de alguma forma o meu apartamento na agência.

Imediatamente corri para a minha antiga sala, esperando encontrar um ambiente familiar, só que aquela era a versão pesadelo da agência.

Isso ficou óbvio quando vi a televisão borbulhando sangue por rachaduras em sua tela, de onde também saía fumaça escura, era um cheiro insuportável de queimado e de sangue.

Estava assim em todos os pontos da sala, inclusive em meu sofá onde o estofado estava completamente coberto de sangue, caía tanto líquido pelo teto que parecia uma grande chuva.

Aquele botão para pedir ajuda nem existia mais, apenas havia no seu lugar um imenso buraco na parede, o mural da rotina era onde ainda estava escrito aquelas mesmas coisas horríveis, como tortura e trocas forçadas de cordas vocais.

Quando fui procurar ver a marcação escrita, encontrei a primeira diferença, ao invés de "SEXTA-FEIRA", estava escrito em letras garrafais a seguinte frase: "O QUINTO DIA". Mas o resto ainda continuava igual, como os dos riscos das paredes que serviam para contar os dias.

Porém, desta vez, eu sabia de mais coisas do que quando comecei a semana, essa semana maldita...

Ao olhar para os cantos da minha pequena sala, vi que além do sangue tinham pedaços de corpos, dos quais não dava para saber se eram cabeças, troncos ou coisa do tipo.

Os detalhes no cenário refletiam no que eu tinha me tornado, todavia eu iria apenas ignorar aquelas coisas porque o que importava naquele momento era encontrar a Sorte e o destruir em socos.

Abri a porta de saída do meu apartamento, parei no corredor das cinco garotas.

As portas para os apartamentos das outras garotas, que matei de forma direta ou indireta continuavam com as mesmas marcações, me lembrando de meus crimes, aquela era a minha história de vida que mesmo que fosse bem amarga, continuava sendo a minha.

Absoluta SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora