Encurralada

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Parte I: Espelho Quebrado

O Governo Sul-Coreano entrava em pânico quanto a grande epidemia de comas que se espalhava em todo o país.

Mas ainda não era algo sabido pela população geral, naqueles dias a preocupação das pessoas comuns ainda eram as mais diversas e corriqueiras possíveis.

Na prática, as massas nunca pensavam se poderia haver uma doença se espalhando pelo mundo agora mesmo ou se uma guerra fosse estourar no próximo dia.

Havia se tornado parte dos dizeres populares que se preocupar com a morte sufoca a vida e é desperdício de energia, então pensar nisso era uma besteira.

Tanto que havia poucos, mas dedicados médicos tentando entender o que estava acontecendo, o governo queria fazer o que governos autoritários gostam: Que é esconder uma epidemia misteriosa com todas as forças.

Ainda mais pelo fato de já estar lotado de pessoas que conheciam a Sorte nas hierarquias mais altas da sociedade.

Existia uma parte do pacto com a Sorte que ele contava para todos, menos para Yuna, que era que as oferendas para ele serviam não só de forma benéfica para vida das pessoas, mas o fortalecia.

E ele sempre deixava claro que o alimentar com oferendas ia, um dia, trazer o fim do mundo e o recolhimento de todas as almas.

Ou seja, as pessoas mais bem sucedidas do mundo seriam as responsáveis por trazer o apocalipse, de bom grado.

Sabendo disso, a alta casta da sociedade se desesperava ao saber que a hora tinha chegado. Já a classe mais pobre, que era composta por pessoas que nunca conheceram a Sorte, não sabiam o que estava acontecendo, mas a morte viria até eles em breve também;

Saber do seu destino derradeiro ou morrer na ignorância, o que poderia ser pior?

Porém, Yuna tinha uma preocupação a mais: Aquela foto no jornal dizia muito mais coisas do que parecia, ela teve certeza de que era uma ameaça daquele maldito demônio.

Um lembrete de que a sua história de terror não havia terminado, na verdade, nem sequer havia começado.

Tentando confirmar o que viu anteriormente, ela novamente olhou para o jornal que havia deixado cair no chão, porém, a imagem da Sorte não estava mais lá.

"Claro, é bem do feitio dele fazer esse tipo de coisa".

O que mais lhe deixava nervosa era que a imagem da Sorte no jornal a fez lembrar daquela energia horrível que sentia quando cometia seus crimes.

Ela achava que podia usar a alegria do seu sucesso para esquecer o que tinha feito até agora.

Para não chamar atenção, a enganadora pegou o prato na parte de cima da mesinha e esperou a empregada chegar, para comerem juntas. E nesse interim escondeu o tablet.

Hyun não demorou muito e logo chegou com o prato em mãos ainda envergonhada com toda aquela liberdade que sua patroa lhe dava, mesmo assim, sentou-se um pouco menos distante da pequena:

— Nossa... Você até mesmo me esperou para comer... Nunca imaginei que alguém passando pela transição para a fama fosse tão humilde!

— Ah, eu sou assim mesmo. Trato todas as pessoas muito bem, se não fosse dessa forma eu nunca teria chegado tão alto assim. — Yuna mentia com mestria, não mostrava nenhum sinal de linguagem corporal de que estivesse faltando com a verdade.

— Isso é verdade, tudo é alcançado por uma mistura de esforço e humildade. Eu acho, na verdade... — A empregada parecia estar desconfortável com aquele assunto, pois reclinou sua postura e colocou a mão sob a testa. — Eu quero acreditar nisso, mas mesmo que eu me esforce para me tornar uma cantora nada nunca deu certo... Nunca!

Absoluta SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora