Espiral da insanidade

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Parte I: O Mundo segundo os meus olhos

Por mais arriscado que fosse, não tive escolhas além abraçar o meu plano maluco, eu bem sabia que não poderia enfrentar a Sorte com apenas o poder dos meus olhos.

Até porque eu já o olhei muitas vezes e senti que a escuridão daquele demônio estava muito acima do meu nível. Então, fingi-me de idiota e me deixei ser enviada ao inferno vermelho, local em que todas as outras almas humanas também foram lançadas.

O simples sucesso que tanto almejei não era mais meu objetivo, até porque todas as pessoas do mundo estavam presas no inferno, ou seja, não haveria ninguém para me assistir.

Eu tenho mesmo que te falar que quero salvar essas pessoas apenas para esse objetivo?

Sinceridade machuca.

Sendo assim, o que eu queria era o poder do outro relógio que a Sorte possuía, se eu o tiver em mãos, tenho certeza de que poderei seguir em meu plano de controlar todas as realidades!

Sim, admito que é algo um pouco diferente do que eu queria no começo de tudo e continua não sendo um objetivo nobre, mas é o que temos para hoje.

Ainda recapitulando, quando a Sorte mostrou aquele relógio para mim eu senti tudo se desfazendo, assim como a dor da pancada no chão que dei com a cabeça. Tudo estava escuro, muito escuro, até pensei por um curto tempo que minha estratégia tivesse falhado e eu teria enfim, um fim digno para minha vida de assassinatos e de crimes.

Afinal, com tudo que havia feito até então eu não merecia nem mesmo ser enterrada em um caixão.

De qualquer forma, nada parecia ter valido a pena na minha vida.

Como um mero sucesso poderia me ajudar se eu nem estava mais no mundo dos vivos? A pessoa que eu me apaixonei se voltou contra mim, exatamente pelo motivo de eu não merecer o amor de ninguém, aposto que nem mesmo meus pais iriam querer me olhar nos olhos.

Porém, mesmo dentro do abraço da morte eu decidi não desistir, eu nunca iria deixar aquele demônio continuar com seus planos. Aquele monstro destruiu a minha vida e a de todos os outros humanos na Terra, fazendo todo mundo ser obrigado a entrar em seus joguinhos.

E por isso, eu não o deixaria em paz, não tão cedo.

Quando acordei daquele estranho limbo senti o brilho de uma luz em cima de mim e com meus sentidos de volta percebi que estava em uma sala estranha, mas pelo menos eu estava viva.

Até o momento.

Levantei-me com dificuldade, minhas pernas não estavam muito firmes já que provavelmente fiquei muito tempo no chão. Eu ainda conseguia sentir o gosto de sangue daquela poça em que fui submersa, era nojento e repulsivo sentir aquele gosto metálico na boca.

Quando consegui me erguer, olhei para todos os lados e o que pude constatar era que essa sala que eu estava mais parecia com uma solitária.

"Um cubículo de concreto, parecido com uma prisão... Eu não estou mais no meu mundo mesmo". Pensei.

Tudo que iluminava o lugar era uma lâmpada fluorescente sustentada por um pequeno fio metálico, tão curto que parecia que iria arrebentar a qualquer momento.

A lamparina estava piscando e emitia um estranho zumbido enquanto balançava.

Procurando me orientar, me arrastei até uma das paredes que estava à minha esquerda e me apoiei nela.

Senti que estava fria, tocar a parede me fez perceber que não era um sonho, mas era um lugar muito diferente do que eu estava acostumada.

Coloquei as duas mãos na parede e me apoiei nela, tentando recobrar todos os meus sentidos, ainda estava tonta, cansada e com a vista ruim por usar por tanto aqueles "olhos do ódio".

Absoluta SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora