Capítulo 6 (A música final)

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"Narra Ana"

Víctor estava lá, e minha cabeça dava tantas voltas que eu não conseguia organizar meus pensamentos. Thiago segurou minha mão, e depois de me convencer que era melhor eu encarar esse problema e não adiá-lo, pois seria pior depois, descemos, ainda segurando forte a mão dele, pelo meu nervosismo.

E lá estava ele, me olhando com os olhos lacrimejados, olhando atentamente pude perceber que estava arrependido. Um silêncio macabro dominava aquela sala, ninguém se atrevia a dizer nada, como se não houvesse mais ninguém no local além de mim. Víctor desviou seu olhar do meu até se encontrar com a minha mão e a de Thiago entrelaçadas, uma mistura de ciúmes e confusão foi transparecida no seu olhar.

- o que significa isso? - ele questionou Thiago.

Thiago demorou alguns segundos para entender do que Víctor estava falando, mas quando percebeu não fez questão de separar nossas mãos, continuou calmo, como se meu namorado não o estivesse acusando de nada.

- significa que eu estou aqui para apoiá-la, nada mais além disso, não precisa se preocupar - sua resposta foi tão tranquila, que eu me perguntei se ele estava tentando irritar o Víctor, mas ele era assim, calmo, e eu admirava isso nele.

- não se faça de bom samaritano, sei das suas intenções - Víctor rebateu perdendo a paciência.

- a única intenção que eu tenho é a de vê-la bem, nada mais importa pra mim - Thiago continuava calmo...nem pareciam que estavam na mesma conversa.

- Helena podemos conversar? - ele disse irritado.

- Ana... - Thiago o interrompeu - o nome dela é Ana.

O olhar de Víctor à Thiago me deu a certeza de que se não fosse pela cadeira de rodas, ele o mataria ali mesmo. Bia, Manuel e Pietro permaneciam em silêncio, tensos, só observando.

- não estou falando com você - Víctor elevou um pouco a voz - podemos conversar? - ele disse se voltando a mim novamente - por favor.... a sós - ele disse olhando para o Thiago.

- tudo bem pra você? - Thiago me perguntou, atencioso, como sempre.

- tudo bem - eu menti, não estava pronta para ter aquela conversa, mas Thiago tinha razão, adiar não mudaria nada.

Bia, Manuel e Pietro já não estavam mais lá, e eu nem sei em que momento tinham saído.

- estarei na cozinha se precisar de mim - ele disse depois de olhar para o Víctor profundamente e antes de sair deu um último aviso - por favor não a machuque.

Thiago deixou a sala e o silêncio dominou novamente. Eu tentava dizer alguma coisa, mas nada saia da minha garganta.

- Hele... Ana...- Víctor quebrou o silêncio se corrigindo e soltando um suspiro - eu não sei o que está acontecendo com nós dois - sentia agonia na sua voz, como se estivesse se segurando para não chorar - a única coisa que eu sei é que nunca quis te machucar, o que eu disse.... - ele engoliu o seco e olhou para o chão - eu nem sei por que eu disse aquilo.

- eu sei - eu o interrompi, tentando tirar o nó da minha garganta, ele olhou pra mim curioso - não estamos conseguindo entender que mudamos, não somos mais as mesmas pessoas.

- como assim?

Eu mexia no meu bracelete, nervosa, como sempre fazia, tentando encontrar as palavras certas.

- eu não sou mais uma adolescente, eu amadureci, e você também.

- eu ainda sou o mesmo de sempre, eu amadureci, é verdade, mas eu continuo o mesmo, eu ainda te amo.

Eu senti meu coração bater rapidamente, queria abraçá-lo e dizer que também o amava. Mas tinha muita coisa errada nisso, se uma pessoa não está te fazendo bem, a solução não é simplesmente fingir que nada está acontecendo, esse foi nosso erro. Estava claro que ainda nos amávamos, mas se não estava funcionando não havia por que insistir, e por mais que doesse pensar nisso, eu sentia que era o melhor. 

- por favor, me perdoa, aquilo que eu disse...não é verdade, eu estava com ciúmes - ele parecia desesperado - não que isso justifique, eu não tinha o direito de te chamar daquilo, se eu pudesse voltar atrás.....

- você não teria feito diferente - eu o interrompi e ele me olhou com confusão.

- o que você está dizendo? eu...

- você diria aquilo de qualquer maneira...- eu me esforçava para não chorar - o que você disse foi por causa de ciúmes da minha roupa, uma roupa que eu no passado não usaria, eu sei disso, eu nunca pensei que usaria, mas essa, agora, sou eu.

Engoli novamente o nó na minha garganta e respirei fundo, ele só me escutava, também contendo suas lágrimas.

- eu mudei Víctor, você mudou, eu não sou mais a sua Helena, e você também não é mais meu Víctor - uma lágrima caiu dos olhos dele, e eu me contive, tentando manter a calma - eles morreram no dia do acidente, somos novas pessoas agora.

Ficamos alguns minutos em silêncio, pensando, suportando a dor, assimilando a ideia de que nossa história estava por ter um final, um final não tão feliz. Eu sempre fui do tipo que não deixava meu coração dominar a minha cabeça, mas naquele momento ele doía tanto, que tive que me esforçar a fim de não deixá-lo ganhar.

- você ta terminando comigo? - ele sussurrou me olhando com os olhos vermelhos, o que foi suficiente para eu não aguentar mais e deixei minhas lágrimas caírem.

- é o melhor pra nós dois - eu disse sem o olhar nos olhos, era demais para mim - eu sinto muito Víctor...

Ele me olhava como se não me conhecesse, e eu me perguntei se ele me conhecia de verdade.

- se é o que você quer.... - ele disse virando sua cadeira de rodas em direção a porta - perdão, eu nunca quis te machucar...

Assim que ele fechou a porta eu desabei, sentei no sofá e desafoguei toda a angústia que estava dentro de mim, minha cabeça girava, e eu sentia meu coração apertar fortemente me causando falta de ar. Senti alguém se ajoelhar na minha frente e segurar meus ombros. Levantei a cabeça e meus olhos se encontraram com os do meu amigo.

- Thiago - eu disse soluçando e ele me abraçou forte.

- eu to aqui, vai ficar tudo bem - ele disse acariciando meu cabelo - tudo bem.

"Narrador Universal"

"É evidente que todo relacionamento é marcado de bons e maus momentos, é maduro saber que quando os maus momentos tomam mais tempo que os bons momentos, é porque chegou a hora de cada um seguir seu próprio caminho. Mesmo que ainda haja amor." - Borgys

No momento que ela decidiu a música final do relacionamento, nada a fez voltar atrás afinal, a vida dela sempre por trilhada por músicas agora não seria diferente.

EAI ?? O QUE ACHARAM?? EU CONFESSO QUE CHOREI UM POUCO.

YO QUISIERAOnde histórias criam vida. Descubra agora