14. Harry

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Entrei naquele ônibus escolar imundo e sentei do lado de um menino estranho que não conhece, e que me ofereci um pedaço de seu sanduíche integral.

Aguentei chegar até a escola com todo mundo me olhando, cochichando sobre o que eu to fazendo aqui sendo que sempre vou com meu carro. O motorista anúncio nossa chegada com um pisão no freio, e no mesmo momento todo mundo se levando e saiu do ônibus. Me assustei com brutalidade das pessoas ao saírem, até o garoto do meu lado já tinha descido e nem percebi. Fui o último a sair e a motorista ainda resmungou:

"Vai sair ou não moleque?", dou um sorriso falso e desço.

***

Depois de um tempo caminhando até meu armário no corredor, vou lembrando aos poucos meus compromissos: preciso conversar com Kelly pra acabar logo com isso; também preciso ir para o clube do livro cheio de nerds, mas só tem de quarta e sexta o clube, então hoje me livrei.

Toca o sinal pra primeira aula e vou andando até a sala. Entro na sala de química, e como sempre Cassandra já está presente. Ela me fez lembrar algo estranhamente familiar, mas não lembro o que é. Sento na última mesa onde ninguém sentou. Depois de um tempo o professor entra na sala fechando a porta e com isso um aluno qualquer senta ao meu lado.

O resto da aula foi completamente tediosa. O menino do meu lado ficou conversando com o garoto repetente que sentava na mesa da frente. Eles ficaram procurando garotas semi-nuas em site pornô. Aí, é sério isso?! Aqui no meio da aula?!

O sinal barulhento soa e saio da sala.

As outras aulas passam devagar e, infelizmente, o almoço chega e preciso conversar com Kelly sobre tudo isso. Caminho sozinho até o refeitório e a primeira coisa que vejo é Kelly rindo e conversando numa mesa com as suas amigas, fico poucos segundos encarando-a, ela se vira e me vê. Fico sem jeito quando ela me olha, sem saber como agir, mas logo ela se levanta e vem na minha direção:

"Olha, não é o que parece, Harry. Eu sinto muito, mas...", interrompo-a com um sinal para ela parar de falar. Preciso dizer tudo que penso a respeito porque toda essa história tá se revirando dentro de mim.

"Eu não sei o que aconteceu entre vocês nas férias, não sei como, nem onde tudo isso começou, mas eu estou bem. Eu sei que você tá muito preocupada sobre o que eu estou pensando agora, porque eu te conheço, mas eu estou bem!" Ela parece confusa com a minha resposta calma, eu costumo me estressar fácil, mas eu não vou deixar a traição de Kelly acabar com minhas aulas. "Não posso te perdoar, mas a gente pode ficar tranquilo. Tudo bem?", pergunto da forma mais tranquila que posso. Ela fica boquiaberta com a minha forma de falar, falei de uma forma mais calma possível, não quero gastar muito tempo com isso, até porque sei que uma hora ou outra vou ter que superar. Claro que eu ainda amo a Kelly, mas isso não impede o fato de eu estar muito furioso com ela e principalmente com aquele babaca do Will. Nossa! Como eu tenho raiva desse garoto!

"Eu não sei o que dizer...", ela diz sem nenhuma expressão, "eu esperava que você gritasse ou ficasse bravo... eu não sei".

"É sério, tá tudo bem", digo. A gente fica sem o que falar depois de um tempo que ela tomou para tentar entender o que aconteceu comigo.

A verdade nua e crua é que já estou cheio de problemas, e ficar enfurnando minha cabeça com mais confusões só vai piorar a situação. Sim, eu estou muito, mas muito bravo com os dois novos pombinhos da escola e muito magoado com Kelly, pois confiei nela, sempre confiei. Acho que só não estou tão abalado porque enchi a cara ontem.

Então ela toma partido e diz:

"Bom, obrigada por dizer tudo isso é espero que um dia você me perdoe". Sem me esperar responder ela se vira e volta em direção à mesa de suas colegas.

Hallie - A outra versão do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora