Hoje sai o resultado dos exames da mamãe, e iremos saber o que vai acontecer. Durante a manhã tentei não pensar muito no assunto, mas a cada minuto que se passava ficava mais aflita por não estar em casa. Sei que Cass também gostaria de estar em casa agora.
Tentei evitar o Harry pelo resto da semana, mas às vezes sentia-o me seguinte pelos corredores, embora nunca me chamasse.
Luke me encontrava em alguns intervalos das aulas, e até chegou a sentar do meu lado na aula de física. Todas essas vezes ele insistia em me levar pra jantar, mas nunca dei uma resposta concreta.
O sinal anunciando o final da última aula do dia me fez dar um pulo na cadeira. Então, levantei e segui até o corredor principal me misturando com a multidão. Pensei em procurar Cass antes de ir para o lado de fora, mas não a achei. Apertei o passo, assim que passei pela porta de entrada que levava ao jardim da frente do colégio. Quando cheguei na calçada, dei uma rápida olhada para a fila de carros parados, mas novamente, não vi nenhum sinal de Cass.
Depois de 10 minutos esperando, decidi ir com o ônibus da escola que já estava prestes a sair. Subi, e vi Harry sentado no único banco vazio. Ele ainda não tinha me visto, estava distraído olhando para a janela. Não tinha mais opções, então sentei ao seu lado, relutante.
Ele levou um susto ao perceber a presença de mais alguém do seu lado. Quando viu que era eu, abriu a boca para falar, esperando que eu tenha vindo até aqui para falar com ele.
Para poupa-lo de constrangimento, apenas digo um "oi" com um leve sorriso, e me ajeito no banco desconfortável.
Ele responde com outro "oi", perdendo suas esperanças de conversar comigo. Harry se contorce e arruma sua postura voltando a atenção para a janela.
Já tínhamos passado por três pontos de ônibus, quando Harry se vira para mim e fica me encarando. Meu estômago começa a ganhar vida própria, e tento esconder com os braços cobrindo a barriga, apesar de ninguém conseguir notar. Me retraio, demonstrando desconforto, mas ele não tira os olhos de mim.
"Harry! O que foi?!" Digo querendo explodir, mas controlando a voz, para que ouvidos alheios não escutem.
Então a única pergunta que não esperava é feita:
"Como está a sua mãe?" Ele não muda sua expressão interrogativa.
"Doente, e a sua?" Me viro para ele desafiante. Não sei porquê estou sendo arrogante desse jeito. Ele só está perguntando da minha mãe. Mas não volto atrás com minha resposta. Harry faz uma careta expressando dúvida, e nojo.
"Caramba, Allie. Só estava querendo ser educado." E novamente se vira pra janela.
Fico pensando por alguns segundos se valia a pena ter sido rude, então decido pedir desculpas.
"Sinto muito" faço uma longa pausa esperando até que me olhe de novo "Hoje sai o resultado dos exames e estou meio nervosa". Olho para baixo, esperando que me entenda minha vulnerabilidade nesse momento.
Surpreendentemente sinto seus braços em volta do meu corpo. O ônibus inteiro olha para nosso banco por um segundo, mas retribuo o abraço, e meu Deus! Como é bom. Ficamos assim por um bom tempo. Até ele se afastar e me olhar nos olhos.
"Sinto muito, também, por ter agido daquela forma com você. E-eu estava com ciúmes por você estar falando com Luke. E eu sei que você não acha isso, mas ele é um babaca. E só quero que tenha o melhor." Ele solta como uma bomba tudo em cima de mim, mas não acabou. "Sei que desde que a gente começou a se falar eu tenho altos e baixos, mas tudo que quero agora é que a gente volte a se falar. E se você também quiser, eu estou disposto a mudar." Harry fala inocentemente, pousando a mão na minha coxa nua sem perceber, mas não a tira. Seu olhar espera qualquer resposta.
O ônibus para no meu ponto, então me aproximo de Harry, que está com uma expressão curiosa, e dou um selinho. Me levanto e desço do ônibus sem olhar pra trás.
Mas o que eu acabei de fazer?! Olho para trás, e o ônibus escolar já se foi. Paro na porta de casa com minha cabeça a mil. Será que eu compliquei tudo? Por que eu beijei Harry? Não é possível! Não quero acreditar que eu tenho sentimentos pelo Harry. E-eu gosto do Harry Bingham! Passo minha mãos no cabelo, pousando-as na nuca, com um sorriso no rosto que não sei explicar o porquê.
Viro a chave na fechadura revelando a casa aconchegante, na qual vivi minha vida inteira, apesar de hoje ela estar mais colorida do que o normal. De repente meu dia ficou mais radiante e sinto que nada pode piorá-lo.
Vou até a cozinha, mas meu sorriso desaparece assim que vejo Cass, mamãe e papai envolta da ilha do cômodo. Na hora me lembrei dos exames, e pelas suas expressões, já tinham visto o resultado.
Me juntei a eles que estavam com o olhar pesado num envelope marrom no meio da bancada. Abracei mamãe que estava distante com os olhos e não reparou na minha presença até me abraçar de volta.
"O que diz aí?" Aponto com a cabeça, voltando a encarar o envelope igual todos faziam, com suas expressões tristes. Ninguém responde ainda, ninguém quer me contar. "O QUE DIZ AÍ?!" Digo perdendo a paciência, sei que ninguém quer me falar por medo.
"A sua mãe... vai ser transferida para um hospital em Londres" meu pai suspira fundo. "Os médicos daqui, não são o bastante para o tratamento que precisarão fazer".
"E aonde a mamãe vai ficar? No hospital?" Pergunto ainda com mil questionamentos na cabeça.
"Não só a mamãe, nós todos vamos para Londres" Cass responde, e perco o chão.
Não, não, não! Não podemos nos mudar. Por mais egoísta que seja, eu preciso ficar aqui, preciso terminar meus estudos. Cass sempre esteve pronta pra qualquer decisão que nossos pais tomassem, mas eu nunca acreditei que isso realmente fosse acontecer. Só de pensar na ideia de ir para uma cidade nova, sair do colégio, e recomeçar tudo do zero em um lugar que estou despreparada, me sinto perdida e furiosa. Não é justo o que estou fazendo, por isso, continuo com uma expressão vazia.
"Filha..." meu pai cruza a cozinha e vem em minha direção. Mas me afasto, quando tenta me abraçar.
"Por que Cass já estava aqui?" Tento controlar minha raiva, mas já está óbvia. Todos ficam boquiabertos com a minha pergunta, e ficam se entreolhando.
"Nós achamos melhor ela saber antes" meu pai percebe que me ofendeu, tendo preferência de contar tudo à Cass primeiro.
Não tenho a intenção de causar mais nada que estrague mais meu dia. Então subo para meu quarto, e fecho a porta querendo estar em qualquer outro lugar a não ser aqui em casa.
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Hallie - A outra versão do mundo
FanfictionUma vez Allie disse para Harry "Às vezes eu me pergunto se há outra versão deste mundo em que somos amigos", essa história conta a outra versão do mundo deles