Capítulo 20

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19:38

— Entregue — disse ao parar na frente da casa de Cosima. 

40 minutos de silêncio. Olhares, sorrisos, mas sem palavras. Talvez tivessem medo de falar sobre. Era uma explosão. Qualquer palavra levaria a uma destruição. Essa era a palavra que rondava a cabeça de Cosima. "Destruição" 

— Quer entrar ? — perguntou um pouco nervosa

— Acho melhor eu ir, preciso organizar algumas coisas para amanhã e já fiquei bastante no seu pé — riu. Queria ficar. A vida toda. Mas precisava pensar, precisava colocar a cabeça no lugar e tomar uma decisão sobre tudo. Queria estar com Cosima, mas não sabia se ela queria o mesmo.

— Nesse caso então vou entrar — sorriu tirando o cinto — Obrigada por tudo, por ter cuidado de mim, pelas risadas — pausou sorrindo — Eu não me sentia bem assim a meses.

— Eu que agradeço. Me diverti demais e... — mordeu o lábio inferior fechando os olhos — Eu me sinto bem perto de você — abriu sorrindo fraco, não sabia a reação de Cosima sobre suas palavras. Sorriu aliviada quando recebeu um sorriso forte dela. Se aproximou e deu um selinho demorado nos lábios da morena, que segurou seu rosto retribuindo. Theo começou reclamar.

— Hmmm não — falou ainda com os lábios colados — Theo você me paga — falou quando se afastou de Delphine, que riu balançando a cabeça — Obrigada — sorriu e saiu do carro. Abriu a porta para Theo descer e ficou parada na calçada, olhando para Delphine. "Eu não posso me entregar, é arriscado demais. Preciso me distanciar, vou ser quebrada novamente" deu um ultimo sorriso, abaixou a cabeça e entrou. Estava decidida a tomar um tempo, alguns dias longe de Delphine para ver o que fazer.

Putain — segurou no volante deitando a cabeça sobre o mesmo. "Eu preciso saber o que ela sente, não posso ficar assim. Eu demonstro e ela não parece retribuir". Desejo carnal. Cosima sente apenas isso?

Cosima entrou e correu para o banho. Precisava pensar sobre tudo, sua cabeça explodia. Deu graças a Deus quando Felix mandou mensagem perguntando se poderia devolver o carro na manhã seguinte, assim já garantindo a carona. Deixou Theo solto pelo pátio, era fechado então não corria riscos. Arrumou a casinha dele, colocou ração, água e entrou. Foi direto para o quarto, deitou na cama, ligou a TV e se permitiu viajar em pensamentos.

...

Holt's Café, segunda-feira 09:04...

— Me fala tudo, passou o caminho todo quieta— revirou os olhos— Transaram ?

— Nós não transamos — colocou a xícara sobre a mesa, observando a expressão de bravo do amigo — Fee, eu acho que as coisas tomaram outro rumo.

— Você está apaixonada, é apenas isso — bufou bebericando o café — Não julgo, por ela até eu ficaria se gostasse daquela fruta.

— O problemas que não sei o que ela sente e... — passou a mão pelo rosto suspirando — Tenho medo.

— Comunicação, darling. É sempre o melhor caminho.

— Vou esperar mais uns dias, preciso de um tempo — fechou os olhos na esperança daquilo passar, abriu em seguida respirando fundo— Não posso falar com ela sobre isso agora, vou evitá-la ao máximo para colocar a cabeça em ordem. Só então vou conversar.

— Só não se machuque, Cos — segurou em sua mão — Não perca o possível amor da sua vida por orgulho — sorriu fraco, voltando a pegar sua xícara.

— Quais as novidades ? — perguntou ignorando a fala do amigo. Falar sobre sentimentos e Delphine a faziam entrar em um marasmo sem fim.

— Tem um evento da agência amanhã, em Chicago — bebericou o café sorrindo — Vou viajar hoje à noite. Precisava de uma carona sabe — pigarreou fazendo Cosima sorrir.

— Eu te levo — deu um leve tapinha nele — Que horas ?

— Devo estar lá às 17:00

— Ótimo, saio da empresa às 14:30 e te levo em casa — sorriu fraco. 

....

Dyad Institute. Segunda-feira, 10:30...

— Megan, vou sair mais cedo hoje — disse chegando perto, nem um simples bom dia. Estava irritada demais com a vida. Já tomou a liberdade de chegar mais tarde, não queria viver aquele dia — Se a doutora Cormier me procurar, diga que não estou — sorriu fraco.

— Tudo bem, Senhorita Niehaus ? — perguntou intrigada.

— Está — sorriu forçado — Vou entrar, qualquer coisa estarei a disposição.

Sem mais palavras, entrou em sua sala. Se permitiu respirar fundo antes de prosseguir o caminho até sua mesa.

Delphine passou a manhã toda pensando nos acontecimentos do fim de semana. Queria poder correr para sala de Cosima e dizer tudo que sentia, mas algo a prendia. Talvez orgulho, medo. Não sabia. Preferiu ficar na sua, Cosima com certeza abordaria ela em algum momento, se não o fizesse era sinal que sua mente solitária tinha criado coisas onde não existiam. As coisas não deveriam ser assim tão complicadas, deveriam ?

O dia passou de arrasto para Cosima. Não viu Delphine, apesar de sentir saudade do toque dela sabia que seria melhor assim, precisava pensar bem antes de falar sobre isso. Não viu Leekie, o que a preocupou pois não sabia o que estava planejando. Megan disse que ele tinha viajado, voltaria na quarta-feira. Passou o dia em sua sala, conversou com alguns funcionários que apresentaram novas idéias, fechou com um DJ para festa de sábado e assinou papéis. A PAPÉIS. Não aguentava mais. Queria seu jaleco, laboratório, pequisas. Essa era sua vida.

14:17

—  Estou indo. Qualquer problema pode me ligar —  parou ao lado da secretaria que digitava algo —  Ela me procurou ? —  perguntou pausando a respiração. Tinha medo da resposta. 

—  Não —  sorriu fraco —  Nem vi ela hoje.

—  Okay —  sorriu sem mostrar os dentes —  Vou indo. Até amanha, Meg —  deu as costas indo para o elevador.

Segunda-feira acabou para ela. Finalmente. Deu graças quando conseguiu se livrar dos papéis, pessoas de gravata, todo processo burocrático diário e o principal: francesa loira. Buscou Felix na agência e o levou para casa. Ficou com ele até dar o horário de irem ao aeroporto. Também o fez companhia lá. Não tocaram mais no nome da loira, era como se ela não existisse.

19:48

Estava quase chegando em casa. Um longo caminho, silêncio que antes parecia perturbador, agora era tudo que mais desejava. Sentir tudo sem medo. Se permitiu ligar uma música, das mais tristes. Permitiu que a melancolia tomasse conta, se entregou as lágrimas. Sabia que sentia, sabia onde queria ir. Mas não poderia, não queria se arriscar.

 'Cause I don't wanna fall in love

If you don't wanna try

But all that I've been thinking of

Is maybe that you're mine

Baby it looks as though we're running out of words to say...

Porque eu não quero me apaixonar
Se você não quer tentar
Mas tudo o que eu estive pensando
É que talvez você seja meu
Baby, parece que estamos ficando sem palavras...

— Eu não posso estar apaixonada, não agora — repetia, tentando tornar verdade.



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