Acordei assustada com um solavanco da carruagem e através da pequena janela, pude ver que ainda estava escuro. Provavelmente eu não devia ter dormido mais do que três horas, apesar da dor nas minhas costas e minhas pernas dormentes dizerem o contrário. Minha cabeça latejava como se eu tivesse passado um dia e uma noite inteiros bebendo e meus pensamentos estavam confusos. Demorei algum tempo para me lembrar do que estava acontecendo.
--- Estamos quase chegando. --- Iori disse com ar cansado. --- Graças aos deuses.
Ele tentou esticar os braços para cima, porém o espaço pequeno da carruagem o impediu. Ele olhou para o teto baixo irritado.
--- Maldita carruagem.
--- Chegando onde? --- perguntei confusa.
--- Você vai ver. --- ele respondeu com um sorrisinho idiota.
Minhas pernas começaram a formigar e eu tentei esticá-las, porém o espaço era pequeno demais. Aquela carruagem estava me irritando.
--- Pode colocar as pernas no meu colo, se quiser. --- Iori se ofereceu ao perceber minha intenção, sem desmanchar o sorriso irritante.
--- Não precisa. --- Eu resmunguei.
Eu me concentrei no céu do lado de fora e tentei esquecer o formigamento nos músculos que parecia aumentar a cada minuto. Depois de um tempo, eu me irritei e tirei os malditos sapatos. Ao inferno com a ameaça daquelas mulheres loucas. Não havia forma dos deuses me castigarem mais do que já vinham fazendo.
Iori riu quando eu joguei os sapatos O mais longe que eu consegui. Eu lhe lancei um olhar raivoso enquanto me inclinava para massagear meus pés doloridos e cansados. O incômodo em minhas pernas diminuiu um pouco quando meus calcanhares tocaram o chão, mas eu ainda precisava urgentemente esticar as pernas. Estavam começando a doer.
Mais alguns minutos se passaram e, quando o céu começou a clarear, a carruagem parou. Iori murmurou um agradecimento aos deuses e suspirou. Eu calcei novamente os malditos sapatos e enquato eu lutava para fechar a correia, Iori abriu a porta da carruagem e saiu. Quando eu me levantei do banco, ele estendeu a mão para me ajudar a descer e eu a aceitei apenas porque minhas pernas estavam doendo demais para eu confiar que elas aguentariam o meu peso. Eu me concentrei no chão abaixo e em firmar meus pés nele antes de reparar no que estava a minha frente. Era incrível e lindo.
Eu não sabia ao certo o que eu estava esperando, mas com certeza não era um lindo e enorme palacete da cor de marfim com telhados pintados de azul claro e um pequeno jardim com muitas espécies de flores na frente. Era magnífico e exótico. O sol estava começando a nascer e a manhã fresca prometia um dia quente. A carruagem seguiu vazia pela estrada de pedras claras que levavam até a parte de trás do palacete, revelando que atras de onde ela estava havia um portão enorme prateado e muros maiores ainda. Impossíveis de se escalar.
Além de nós dois, não avistei nenhum dos outros em lugar algum. Continuamos caminhando pela estrada de pedrinhas claras, que cortava o jardim no meio e levava para a entrada do palacete. Eu não conseguia desviar meus olhos da beleza do lugar. Eu ainda não tinha soltado a mão de Iori e tinha certeza de que, se eu soltasse, quebraria a cara naquelas pedrinhas no chão. Ele me guiou em direção à entrada, mantendo os passos curtos e lentos, como se estivesse me concedendo tempo tanto para que a cãibra em minhas pernas passassem e eu pudesse caminhar sozinha, quanto para analisar tudo ao redor. E assim eu fiz. As pedrinhas da estrada brilhavam com os raios de sol; ouvi pássaros diferentes cantando, um som lindo e exótico; não havia árvores na parte da frente do palacete, mas as flores eram maravilhosas, a maioria delas desconhecida para mim.
Depois do jardim, havia um espaço entre as plantas e uma escada de uma pedra que lembrava marfim, mas eu não tinha certeza se era. Os corrimãos eram apoiados em pequenas colunas finas que se ligavam a duas maiores e mais detalhadas no topo da escadaria, que abriam passagem para a duas portas de madeira escura alguns metros atras das colunas. Enquanto subíamos as escadas, as dores em minhas pernas se aliviaram o bastante para que eu não precisasse mais me apoiar em Iori, então soltei sua mão.
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Ully - O Despertar
Fantasy"Quando ouvi meu nome ser chamado naquele terrível dia, eu senti medo como nunca antes. Vi todas as minhas esperanças de ter uma vida melhor sumirem como água descendo por um ralo e eu soube que talvez nunca mais voltaria a ver minha família. Mas qu...