Seis

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Acordei assustada com um solavanco da carruagem e através da pequena janela, pude ver que ainda estava escuro. Provavelmente eu não devia ter dormido mais do que três horas, apesar da dor nas minhas costas e minhas pernas dormentes dizerem o contrário. Minha cabeça latejava como se eu tivesse passado um dia e uma noite inteiros bebendo e meus pensamentos estavam confusos. Demorei algum tempo para me lembrar do que estava acontecendo.

--- Estamos quase chegando. --- Iori disse com ar cansado. --- Graças aos deuses.

Ele tentou esticar os braços para cima, porém o espaço pequeno da carruagem o impediu. Ele olhou para o teto baixo irritado.

--- Maldita carruagem.

--- Chegando onde? --- perguntei confusa.

--- Você vai ver. --- ele respondeu com um sorrisinho idiota.

Minhas pernas começaram a formigar e eu tentei esticá-las, porém o espaço era pequeno demais. Aquela carruagem estava me irritando.

--- Pode colocar as pernas no meu colo, se quiser. --- Iori se ofereceu ao perceber minha intenção, sem desmanchar o sorriso irritante.

--- Não precisa. --- Eu resmunguei.

Eu me concentrei no céu do lado de fora e tentei esquecer o formigamento nos músculos que parecia aumentar a cada minuto. Depois de um tempo, eu me irritei e tirei os malditos sapatos. Ao inferno com a ameaça daquelas mulheres loucas. Não havia forma dos deuses me castigarem mais do que já vinham fazendo.

Iori riu quando eu joguei os sapatos O mais longe que eu consegui. Eu lhe lancei um olhar raivoso enquanto me inclinava para massagear meus pés doloridos e cansados. O incômodo em minhas pernas diminuiu um pouco quando meus calcanhares tocaram o chão, mas eu ainda precisava urgentemente esticar as pernas. Estavam começando a doer.

Mais alguns minutos se passaram e, quando o céu começou a clarear, a carruagem parou. Iori murmurou um agradecimento aos deuses e suspirou. Eu calcei novamente os malditos sapatos e enquato eu lutava para fechar a correia, Iori abriu a porta da carruagem e saiu. Quando eu me levantei do banco, ele estendeu a mão para me ajudar a descer e eu a aceitei apenas porque minhas pernas estavam doendo demais para eu confiar que elas aguentariam o meu peso. Eu me concentrei no chão abaixo e em firmar meus pés nele antes de reparar no que estava a minha frente. Era incrível e lindo.

Eu não sabia ao certo o que eu estava esperando, mas com certeza não era um lindo e enorme palacete da cor de marfim com telhados pintados de azul claro e um pequeno jardim com muitas espécies de flores na frente. Era magnífico e exótico. O sol estava começando a nascer e a manhã fresca prometia um dia quente. A carruagem seguiu vazia pela estrada de pedras claras que levavam até a parte de trás do palacete, revelando que atras de onde ela estava havia um portão enorme prateado e muros maiores ainda. Impossíveis de se escalar.

Além de nós dois, não avistei nenhum dos outros em lugar algum. Continuamos caminhando pela estrada de pedrinhas claras, que cortava o jardim no meio e levava para a entrada do palacete. Eu não conseguia desviar meus olhos da beleza do lugar. Eu ainda não tinha soltado a mão de Iori e tinha certeza de que, se eu soltasse, quebraria a cara naquelas pedrinhas no chão. Ele me guiou em direção à entrada, mantendo os passos curtos e lentos, como se estivesse me concedendo tempo tanto para que a cãibra em minhas pernas passassem e eu pudesse caminhar sozinha, quanto para analisar tudo ao redor. E assim eu fiz. As pedrinhas da estrada brilhavam com os raios de sol; ouvi pássaros diferentes cantando, um som lindo e exótico; não havia árvores na parte da frente do palacete, mas as flores eram maravilhosas, a maioria delas desconhecida para mim.

Depois do jardim, havia um espaço entre as plantas e uma escada de uma pedra que lembrava marfim, mas eu não tinha certeza se era. Os corrimãos eram apoiados em pequenas colunas finas que se ligavam a duas maiores e mais detalhadas no topo da escadaria, que abriam passagem para a duas portas de madeira escura alguns metros atras das colunas. Enquanto subíamos as escadas, as dores em minhas pernas se aliviaram o bastante para que eu não precisasse mais me apoiar em Iori, então soltei sua mão.

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