Quinze

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Acordei no meu quarto, deitada na cama. Olhei ao redor, mas não havia ninguém além de mim. Me sentei e cocei a cabeça, mas esses pequenos movimentos fizeram disparar dores por todos os músculos do meu corpo, e então me lembrei do que tinha acontecido. Passamos a manhã toda treinando e quando entrei no palacete, me sentei para descansar antes de subir as escadas, mas não me lembro de tê-lo feito.

--- Como vim parar aqui? --- Sussurrei falando sozinha com a testa franzida, mas então a porta se abriu e Iori surgiu com o que parecia ser um pote preto nas mãos.

--- Que bom que acordou. --- Ele disse parando no batente ao me ver sentada. --- Te encontrei desmaiada no sofá da sala de recepção, então te trouxe para cá. --- Iori sorriu me examinando. --- Você está acabada.

Bufei e revirei os olhos.

--- Nada como um homem sincero para jogar na cara as verdades duras. --- debochei jogando as pernas para fora da cama para me levantar e o incômodo nas coxas me fez soltar um chiado. Mas então percebi uma coisa e parei meus movimentos. --- Você me carregou até aqui?

Ele moveu os ombros largos sorrindo de lábios cerrados como se aquilo não fosse nada.

--- Fui incumbido de cuidar e proteger você. Então estou fazendo meu trabalho. --- ele respondeu e eu abri a boca para agradecer, mas ele me cortou. --- Sem contar que entrar no palacete e se deparar com uma pessoa babando no sofá pode não ser muito... agradável. Fiz um favor a todos te trazendo para cá.

Arqueei as sobrancelhas. Ele só podia estar de brincadeira.

--- Que gentil da sua parte poupar as pessoas da terrível visão de me encontrar babando no sofá. Muito obrigada.

Eu tentei me alongar, mas a dor me fez parar. Os exercícios me esgotaram com certeza. Consegui chegar à cômoda para pegar roupas íntimas limpas e uma toalha. Meu corpo estava meio pegajoso por conta do suor e aquilo estava quase me enlouquecendo. Precisava muito de um banho. Me arrastei até o guarda roupa e consegui achar uma camisa grande e folgada (mas um tanto transparente) que alcançava minhas coxas e peguei também uma calça de tecido leve. Não tinha nada a ver uma com a outra, mas eu não me importei. Não sairia do meu quarto até o almoço então não seria problema.

Durante todo o tempo, senti os olhos de Iori sobre mim, mas tentei ao máximo ignorá-lo. Talvez um banho quente relaxasse meus músculos tensos e doloridos.

Me arrastei até a porta e Iori abriu passagem. Continuei me arrastando até o banheiro e não segurei o gemido quando entrei na água. Depois de longos minutos, eu saí um pouco melhor e vesti as roupas estranhas mas confortáveis.

Aquele lugar era quente como o inferno, mas uma brisa fresca invadiu a sala pela grande janela quando saí do banheiro, e avistei Iori sentado no sofá de forma relaxada, com os olhos fechados. Eu me sentei na poltrona mais distante e ele abriu os olhos, me analisando e observando também minhas roupas. Então sorriu e fechou os olhos novamente encostando a cabeça no encosto do sofá.

--- Você é... estranha, Ully. --- Iori disse ainda de olhos fechados.

--- Você realmente sabe como elogiar uma mulher. --- Murmurei desembaraçando meus cabelos molhados com os dedos, mesmo sentindo meus braços reclamando de dor.

--- Você parece estar tão... tranquila. --- ele respirou lenta e profundamente. --- Eu consigo ver o medo, a tristeza, a desconfiança e a desolação nos olhos de todas as outras, mas você... É como se... estivesse passando o verão em algum lugar calmo. Até em suas novas... amigas, eu vejo todas essas coisas, mesmo que em uma escala muito menor em relação às escolhidas de Ciro, Gael e Liam. Mas você se comporta com tanta... naturalidade. --- ele abriu os olhos e me encarou. --- Seja sincera comigo, Ully. Você não sente medo de nós?

Ully - O Despertar Onde histórias criam vida. Descubra agora