Doze

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Demorou um certo tempo até que eu voltasse ao normal. Pensei no tal jantar e só de lembrar de Liam minhas pernas ficavam momentaneamente bambas. Será que ele estaria lá?

Caminhei até o guarda roupa e o abri. Estava cheio de roupas extremamente diferente da moda usada em meu país. Não havia vestidos nem espartilhos nem saias rodadas.

Bom, havia vestidos sim, mas muitos deles mais pareciam camisolas. Os que não eram curtos possuíam decotes ousados e profundos ou eram justos o suficiente para parecer uma segunda camada de pele. Parecia que os Suli não gostava de gastar tecido com roupas decentes.

Também havia calças de couro ou de um tecido extremamente leve e elástico, alguns shorts de algodão ou feitos de um outro tecido que Eu não sabia o nome mas que era muito leve e fino. Havia também muitas camisas e regatas. Todas as peças eram leves e confortáveis, feitas para não atrapalharam nenhum tipo de movimento e para aliviar o calor, porém todas estavam com o mesmo defeito: foram projetadas para mostrar os dotes de um corpo feminino. Tudo era justo, ou curto, ou decotado ou ainda transparente. E tudo, absolutamente todas as roupas eram pretas. Tudo. Tudo.

Seria mais fácil me mandar caminhar nua pelo palacete.

Eu abri o pequeno armário ao lado do guarda-roupa e me imprecionei com a quantidade de sapatos que havia nele. Coturnos, botas, tênis, sandálias, saltos, chinelos e até algumas sapatilhas, todos de diversos modelos diferentes, porém todos da mesma cor: preto.

Estão me obrigando a ficar de luto por alguma coisa?

Caminhei até a cômoda e abri a primeira gaveta. Nela havia dezenas de calcinhas, algumas de renda, outras de seda e outros tecidos finos, algumas mais simples e outras mais ousadas, mas todas eram pretas. Todas. Na segunda gaveta estavam algumas dezenas de sutiãs, alguns decorados com renda, outros com alças e fechos diferenciados, alguns apertados, outros mas folgados mas todos com uma coisa em comum: eram pretos. Na gaveta de baixo havia camisolas de todo o tipo, mas todas eram pretas. Na gaveta seguinte, meias de diversos tamanhos mas ainda assim, todas pretas. Na última gaveta havia toalhas de banho. Essas eram brancas.

Estalei a língua e coloquei as mãos nos quadris. Tudo era indecente e preto.

--- Mas que inferno! Ninguém gosta de cores nesse clã?!

Abri o guarda-roupa com raiva e peguei um vestido comprido sem decote nem fendas, mas que tinha a parte das costas aberta até o fim da coluna. Peguei um salto, uma toalha e fui até o banheiro.

Notei que agora havia um cesto de palha onde, provavelmente, deveria ficar minhas roupas sujas. Também reparei em um pequeno armário ao lado da pia e descobri porque nao o tinha visto antes. Era da mesma cor que a parede. Era dificil de ver. Nele havia sais de banho, cremes de corpo, óleos, shampoos e coisas do tipo. Me equipei do que julguei necessário e parei perto da banheira.

Eu apenas pendurei as roupas limpas em um dos ganchos fixados na parede, tirei aquele vestido infernal e as roupas de baixo e as coloquei no cesto antes de entrar na banheira. Demorei um tempo até aprender como funcionava, mas a enchi e fiquei submersa por um tempo, pensando em meu pai.

Eu não sabia como iria suportar tudo aquilo sem ele, sem seu semblante sério e firme, nem sem suas piadas e seu senso de humor peculiar. Ele era um homem forte como uma roxa, mas era amoroso e carinhoso e eu... Estava sentindo falta dele. Por muito tempo da minha vida ele foi minha única companhia. Aquele que nunca se afastava, nunca tinha vergonha de andar comigo, que sempre estava ali, me dando apoio, broncas e castigos, quando necessário. Como eu conseguiria suportar tudo isso sem ele? Eu iria conseguir? Será que, quando ele me disse para ser forte, estava dizendo que queria que eu sobrevivesse ao Despertar? Ou apenas queria que eu não me dobrasse diante daquelas criaturas?

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