--- A quanto tempo está aí? --- Perguntei. Meu corpo estava travado.
Mal conseguia respirar graças a descarga de adrenalina que afiou meus sentidos, tentando captar cada ínfimo movimento ou sinal de perigo. Minhas pernas estavam prontas para uma corrida.
--- A alguns minutos. --- ele se sentou jogando as pernas para a lateral da cama e se levantando. Meu coração acelerou quase que incontrolavelmente. Ele olhou na minha direção. --- Eu posso ouvir, sabia? Posso ouvir seu coração pulsando. --- Ele deu um passo na minha direção e eu senti que meu peito ia se abrir. --- Por que está tão agitada? --- Aquela voz macia me causou agonia.
Ele se aproximou mais um passo. Eu recuei dois e senti a parede fria contra minhas costas. Ele tinha conseguido me incurralar. Infernos!
Eu respirei fundo. Honre o nome que sua mãe lhe deu. Seja forte. Seu nome significa poder. Inspirei o ar pelo nariz e o soltei pela boca, sem tirar os olhos dos de Liam. Ele sorriu ao ver minha tentativa de me acalmar e deu mais um passo na minha direção. Meu coração deu um salto. Inspire. Apenas você pode decidir o que te destrói. Expire. Seu nome significa poder. Inspire. Honre o nome que sua mãe lhe deu. Expire.
Mesmo sabendo que a morte estava a menos de dois metros de mim, eu fechei os olhos por alguns instantes. Meus instintos berraram para que eu fugisse, mas aprendi caçando com meu pai que havia certos predadores que gostavam de quando a presa fugia. Era como um jogo para eles. E não era diferente com Liam agora. Ele queria fazer de mim a sua presa. Queria me assustar. Eu não daria esse gostinho a ele.
Apenas você pode decidir o que te destrói. Seu nome significa poder. Honre o nome que sua mãe lhe deu. E seja forte.
Quando abri os olhos, seu rosto estava a um palmo de distância do meu. Ele havia se aproximado tão silenciosamente que eu não percebi. Porém eu não me assustei. Já imaginava aquilo, de qualquer modo. Eu apenas encarei aqueles olhos estranhos.
--- Você é uma das criaturas mais belas que eu já vi, sabia? E seu cheiro está mexendo comigo desde que saímos daquele palácio. --- ele aproximou o rosto do meu pescoço e passou a ponta do nariz sobre minha pele. Meu coração ameaçou disparar de novo, mas repeti as palavras sagradas mentalmente para que se acalmasse. --- Me deixe provar o seu sangue. --- ele sussurrou. O hálito quente provocando arrepios em minha pele.
--- Saia já do meu quarto. --- Eu rosnei imóvel quando meu coração finalmente voltou ao seu ritmo normal.
Liam parou seus movimentos e ficou imóvel por alguns instantes, como se estivesse tentando ouvir algo. Então ele se afastou o suficiente para me encarar. Suas narinas se dilataram e ele inclinou a cabeca para a direita, aquele sorriso aumentando.
--- Uma criatura diferente, com certeza. Me diga, o que a faz se sentir tão calma em minha presença? --- ele ergueu a mão direita e acariciou minha bochecha. E aproximou a boca da minha. --- Ou será que se esqueceu de que tipo de criatura eu sou?
Senti meu corpo formigar. Ele estava conseguindo me provocar. Tentei lembrar a mim mesma de que eu precisava ter auto controle, que precisava resistir, mas aquele rosto tão belo, tão, mas, TÃO perto do meu... Eu inspirei profundamente, tentando me conter. Eu olhei para seu sorriso e uma onda de desejo me atingiu e eu engoli em seco.
--- Vá embora. --- tentei soar ameacadora, mas minhas palavras saíram mais como um sussurro. Liam riu.
--- A sedução é uma arma que nós já nascemos sabendo empunhá-la. Lembre-se disso, Ully. --- ele sussurrou e roçou os lábios levemente nos meus. --- É difícil resistir a você, Ully. --- ele olhou para minha boca. Eu não tinha certeza se estava respirando. --- Seu sangue me chama, me atrai. Você está me deixando louco.
--- Então é melhor recuperar a sanidade, irmão. --- Iori rosnou de repente e quando dei por mim, ele estava parado no batente da porta nos observando. --- De preferência, faça isso antes que eu me canse de esperar e acabe te matando.
Liam sorriu e me olhou nos olhos.
--- Continuamos mais tarde. --- ele ronronou, piscou um olho para mim e se afastou.
Iori abriu espaço para ele passar, encarando-o durante todo o tempo com uma raiva afiada. Eu ouvi a porta se abrir e se fechar, e Iori continuou encarando-a por um tempo.
Só então eu percebi que tinha prendido a respiração. Soltei o ar em uma lufada e inspirei profundamente, colocando uma mão na testa. Mas que inferno! Você acabou de cair na artimanha mais antiga usada pelos vampiros! Sua idiota, idiota, idiota, idiota!
--- Você está bem? --- Iori me despertou de meus pensamentos e me fez voltar à realidade.
Minha respiração estava descompassada. Passei as mãos pelos cabelos e os prendi em um coque apertado, sentido calor de repente.
--- Não. --- respondi simplesmente e sai de onde eu estava encostada na parede.
Iori me analisou da cabeça aos pés. Percebi que não havia segundas intenções além de avaliar se eu estava ferida fisicamente ou não. Ele suspirou e mexeu nos cabelos, bagunçando-os. Ficamos algum tempo nos encarando, buscando palavras para serem ditas mas sem encontrar nenhuma.
--- O que ele queria? --- ele perguntou depois de um tempo.
Eu caminhei até a cama e me sentei nela antes de responder.
--- Pediu para beber meu sangue.
Os olhos dele se arregalaram.
--- Ele quis morder você?!
--- Ele não especificou como iria fazer para beber meu sangue, ok? Só falou para eu deixar ele beber. --- comecei a levar as mãos ao rosto, mas percebi que estavam tremendo e as abaixei. O que diabos estava acontecendo comigo?! Senti o olhar de Iori pesar sobre mim.
--- Você está assim porque foi seduzida. É um pequeno efeito colateral. Vai ficar assim por mais alguns minutos. --- Quando olhei para ele com cara de duvida, Iori explicou. --- Ser seduzido por um vampiro não é como ser seduzido por um humano. É totalmente diferente. Creio que Ciro vai explicar para vocês do que se trata. --- Eu fiquei apenas fitando minhas mãos tremendo, meu corpo formigando e minha pele arrepiada com a sensação do nariz dele em meu pescoço. Iori se abaixou na minha frente para me encarar. --- Se ele pedir para morder você, não deixe até que você suporte, pelo menos, a segunda lua cheia. Não deixe que ele faça isso antes. Em hipótese alguma. Entendeu?
--- Por... por quê?
Céus! Até minha voz está trêmula! Que merda o Liam fez comigo?!
--- Porque nosso veneno pode atrapalhar e muito a Transição. Porque ele... dá uma... sensação... que deixa muitos humanos viciados. E se você estiver viciada no nosso veneno, ou com vestígios dele na pele ou no sangue ou qualquer coisa do tipo, a lua pode te rejeitar pois seu corpo foi corrompido pela substância. Você pode morrer, entendeu?
--- Mas eu vou morrer de qualquer forma. Estar corrompida ou não, não vai fazer diferença nenhuma. Não vou sobreviver à Transição. --- eu respondi, a voz aos poucos voltando ao normal. Suspirei audivelmente. --- Já me conformei com isso. É apenas uma questão de tempo.
--- Bom, é uma possibilidade. Mas acho que você vai sobreviver ao Despertar.
Iori se levantou e começou a caminhar até a porta.
--- Eu não vou sobreviver ao Despertar. Já faz 50 anos que ninguém sobrevive. Se já aconteceu com todo mundo, por que seria diferente comigo?
Iori parou no batente da porta. Mexeu nos cabelos e olhou para mim de forma intensa, como se conseguisse enxergar minha alma.
--- Você alguma vez na vida foi como todo mundo? --- ele perguntou de forma suave. Eu tentei pensar em uma resposta, mas sempre fui singular em todos os sentidos. Iori sorriu. --- Você vai sobreviver, Ully. Eu sinto isso.
--- É algum tipo de intuição vampírica? --- Perguntei erguendo a sobrancelha direita. Ele riu.
--- É apenas um palpite.
Então ele saiu. Eu suspirei novamente e olhei para o guarda-roupa.
Precisava me arrumar para o jantar.
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Ully - O Despertar
Fantasy"Quando ouvi meu nome ser chamado naquele terrível dia, eu senti medo como nunca antes. Vi todas as minhas esperanças de ter uma vida melhor sumirem como água descendo por um ralo e eu soube que talvez nunca mais voltaria a ver minha família. Mas qu...