Capítulo 3

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Tracy...

Faz um dia que cheguei a essa enorme casa e não vi o patrão, fico pensando que espécie de homem, contrata alguém para cuidar de sua única filha de apenas cinco anos e nem se dá ao trabalho de verificar, sabe eu já assisti à mão que balança o berço, minha mãe com certeza, havia assistido porque nunca me deixou com ninguém, que não conhecia, nesse caso eu tenho muita pena por Crystal, ela fica muito tempo, calada observando as coisas e não tem o típico agito de toda criança, isso é triste porque na idade dela eu subia até em árvores, se minha mãe não estivesse olhando, eu tenho algumas cicatrizes para provar isso, mas essas são recordações de uma infância feliz, e não essa que tenho na lateral do corpo, essa é mais cicatriz, que me lembra o dia em que perdi tudo.
Olho para a pequena menina sentada a minha frente, esta mexendo um biscoito, mas seus pensamentos sempre parecem distantes.

— Gosta de biscoito, linda?

Ela ergue aqueles enormes olhos azuis.

— Papai também gostava.

Uma pontada no coração me faz lembrar, cadê esse pai que nunca esta por perto, enquanto sua filha fica aqui vagando triste, Senhora Marie parece escutar meus pensamentos, porque balança a cabeça na mesma hora.

— Que tal brincarmos um pouco no jardim, está um dia lindo.

Ela abre o primeiro sorriso feliz e seus olhos ganham um brilho, que antes não estava ali.

— De verdade??

— Claro, sou sua nova melhor amiga.

Seu sorriso falha por um tempo, até que ela fala, sua voz sai quase rouca, de tão baixa.

— Não tenho outra amiga...

Aí, aquilo doeu fundo na alma... como uma criança que vai à escola não tem amigos, isso é estranho e muito deprimente.

— Mas, e seus amiguinhos de escola?

Ela baixa os olhinhos e mexe no cabelo, nervosa.

— Eles... não gostam de mim.

O quê? Como assim? O que essas crianças, tem contra essa anjinha.

— Isso só pode ser um engano, linda.

Ela enrola o dedinho, numa mecha de cabelo.

— Eles... dizem que matei minha mãe... e meu pai... me odeia.

Fecho os olhos, como podem ser tão cruel com uma criança e pior, porque o pai permite isso, de repente eu já quero confrontar esse cara e gritar poucas e boas para ele, esta deixando a filha passar por tudo isso e nem dá as caras, olho em direção a Marie que esta com os olhos fechados, consigo ver a umidade em volta deles.
Sinto minha boca ficar amarga e meu estômago se contrair em dor.

— Você não matou sua mãe linda.

— Matei sim... papai me odeia.

Aquilo era como farpas, enviadas direto ao meu coração, eu me vi ali naquela menininha, perdida, sozinha e se sentindo culpada pela perda dos meus pais, mas tive sorte de encontrar tio Clarck em minha vida, já essa menina só tinha os empregados a sua volta e culpa, muita culpa por algo que ela não fez, sinto vontade de levantar e ir em direção aquele maldito escritório e gritar com aquele babaca sem coração, mas em vez disso decido me dedicar a pequena a minha frente.

— Que tal irmos, dá uma volta?

Ela abre um sorriso e pula da cadeira.

— Vamos, o dia está lindo lá fora e você pode me mostrar o jardim.

A Fera ( Esse Livro, Poderá Ser Retirado Em Breve, Então Aproveitem)Onde histórias criam vida. Descubra agora