Guardei o meu tablet de trabalho no saco de desporto que trazia ao ombro. Esperava que o elevador chegasse ao piso onde me encontrava, quando Samaris aparece ao meu lado. Olhamos um para o outro, mas nada dissemos. Revelei-lhe demasiado de mim... mesmo sem lhe dizer o que quer que seja. Se a noite anterior foi difícil, o dia foi ainda mais complicado. Há dias assim. Parece que estou sempre a reviver cada minuto. Cada lágrima. Cada grito.
Entramos no ascensor e assim que as portas se fecham, o ambiente tornou-se ainda mais denso.
- Continuamos de bom humor, portanto.- O grego comenta, num murmuro, fazendo-me revirar os olhos.
Quando me preparava para lhe responder, o elevador simplesmente pára. Deixa de funcionar. E a minha respiração falha por uns instantes.
- O que é que aconteceu?- Questiono, ao mesmo tempo que carrego em todos os botões, numa tentativa falhada de resolver o problema.
- Foda-se... ficar preso no elevador contigo é mau demais...- O jogador profere, carregando várias vezes no botão que, supostamente, seria para abrir as portas em caso de avaria.
- És muito idiota...- Resmungo e deixo escapar um suspiro de frustração.- Nós temos de sair daqui...
- A sério? A minha ideia era mesmo ficarmos aqui presos durante horas e horas...- O moreno responde num tom repleto de ironia. Mais uma vez, exibo um revirar de olhos.
- Deixa de ser estúpido! Nós temos de sair daqui!
Algumas gotas de suor percorriam o meu rosto e a minha respiração tornava-se inconstante. Acho que estava oficialmente a entrar em pânico.
- Mas será que ninguém ouve a merda deste alarme?- Andreas reclama, depois de tocar várias vezes no botão que alertava para alguma avaria no elevador.
- Não acredito nisto...- Murmuro. Levo ao mão ao meu peito que sobe e desce de forma demasiado rápida. Queria manter a calma, mas isso tornava-se praticamente impossível.
- Estás bem?- A questão de Samaris faz com que eu o encare. Pela primeira vez, não encontrei o olhar que tanto me irritava. Encontrei verdadeira preocupação. Não lhe respondi. Não o conseguia fazer. No entanto, o jogador não desistiu. Pegou na minha mão e encontrou-a a tremer.- Calma, Luz. Mais cedo ou mais tarde, alguém nos vai tirar daqui.
- Eu não consigo respirar...- Acabo por confessar num sussurro, devido à pouca capacidade que tinha para falar.
- Calma.- O atleta benfiquista larga a minha mão e leva a sua ao meu rosto. Fecho os olhos ao sentir o contacto da sua pele com a minha. Por incrível que pareça, ele estava a conseguir domar o meu pânico.- Respira devagar. Estou aqui contigo, sim?
Abri os olhos e deixei-me levar pela intensidade com que o do sexo masculino me olhava. O meu peito continuava os seus movimentos inconstantes, mas desta vez, contra o peito de Samaris. E só aí percebi o quão próximos estavamos.
- Não irias querer estar comigo.- Respondi ao que o grego havia dito anteriormente, no entanto, a minha resposta foi ao encontro de outro sentido da frase proferida pelo moreno.
- Porquê? O que é que há de tão errado em ti, Luz?
Tudo. Quis responder-lhe.
- E o que é que tu tens de tão certo para que eu te posso responder a essa pergunta?
- Talvez seja isso que nos une. Somos demasiado errados.
Não desviamos o olhar um do outro. Não nos afastamos um único milímetro. Há algo mais que me faz ficar presa a ele. Tinha mil e uma razões para me afastar e sair dos seus braços. E nenhuma para ficar.
- Diz-me quem és.- Ele pede, num sussurro, acariciando os meus lábios com o seu polegar. Não lhe respondo. Não sou capaz de o fazer.
O rosto de Samaris vai-se aproximando cada vez mais do meu e eu tinha a plena noção de quais seriam as suas intenções. Quis que ele avançasse. E em poucos segundos, o jogador levou os seus lábios aos meus. As nossas bocas moviam-se numa sintonia perfeita e, naquele instante, senti que o meu mundo se resumia àquilo. A ele. A nós. Senti a calma de que precisava. No meio do caos que tenho dentro de mim. As minhas costas embateram contra o espelho do elevador, enquanto as mãos do grego seguravam firmemente a minha cintura.
Afasto os meus lábios dos seus e a mistura das nossas respirações ofegantes fez um arrepio percorrer cada milímetro do meu corpo. O cheiro do seu perfume estava entranhado em mim. E eu detestava o friozinho na barriga que isso me fazia sentir.
- Porque é que fugiste quando eu vi a fotografia? O que é que estás a esconder, Luz?- O grego questiona, quebrando o silêncio que se havia instalado.
- Há coisas que devemos guardar só para nós.- A minha voz saiu num sussurro. O olhar do jogador sobre mim despoletou todas as minhas emoções. Apesar de o tentar evitar, as lágrimas começavam a percorrer o meu rosto.
De repente, o elevador volta a funcionar e sou rápida a afastar-me de Samaris. Deixo escapar um suspiro de alívio e respiro fundo. Rapidamente, chegamos ao piso que nos era destinado e quando estava prestes a sair do elevador, o atleta agarra na minha mão.
- Nós temos de falar, Luz...
- Esquece o que aconteceu aqui.- Respondo e saio do ascensor. Ambos somos abordados pelos diversos funcionários do centro do treinos, a fim de perceberem se ambos nos encontrávamos bem.
- Nós estamos bem. Apenas estejam mais atentos para que uma situação como estas não se volte a repetir.- Assim que proferi tais palavras, encaminhei-me para a saída do edifício, sendo seguida por Andreas que gritava o meu nome com o objetivo que eu olhasse para trás.
- O que é que queres?- Questiono, deixando escapar um suspiro.
- Porque é que estás a agir como se nada tivesse acontecido? Nós beijamo-nos!
- Foi apenas um beijo que, sinceramente, nunca deveria ter acontecido. Agora deixa-me em paz.
Fui embora sem lhe dar hipótese de responder. Em poucos instantes, já me encontrava no interior do meu carro. Inicialmente, o meu destino seria ir para casa. Mas, agora, o meu coração pede-me para ir a outro sítio. Cemitério.
Espero que tenham gostado!Houve beijo e não houve nenhum estalo pelo meio... grandes progressos, verdade? 😂
Aos poucos, a Luz vai revelando um bocadinho mais daquilo que é... e o Samaris parece querer ajudá-la a fazer isso mesmo.
Até ao próximo capítulo!
Beijinhos
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Luz ||SAMARIS||
FanfictionEla era o caos na vida dele. Ele apaixonou-se por viver no caos.