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Samaris pára o carro em frente à entrada do prédio onde fica localizado o meu apartamento. Ficamos em silêncio por alguns instantes. Como se ambos não soubéssemos como agir um com o outro. Foi um jantar simplesmente incrível e acho que nenhum de nós estava à espera de algo tão bom. Conversamos, rimos e acima de tudo, estivemos um com o outro. Apenas nós.

- Queres ir até minha casa?- Questiono, sentindo-me um pouco atrapalhada. Arrependi-me de ter feito tal pergunta numa questão de meros segundos, assim que vejo um sorriso provocador no rosto do grego.

- Se não tivéssemos bebido sumo durante o jantar, eu diria que não estavas propriamente sóbria...- Reviro os olhos ao ouvir as palavras do jogador.

- Foi um convite inocente, ok?- Profiro, arrancando uma gargalhada a Samaris.- Mas se não queres aceitar, tudo bem...

- Estou a brincar contigo, miúda. Eu aceito o convite... sendo ele inocente ou não.- Dou uma ligeira palmada no braço do moreno após ouvir estas últimas palavras.

(...)

Entramos em minha casa e após fechar a porta da mesma, conduzo Samaris até à sala. O grego tira o seu casaco e coloca-o em cima do sofá, antes de se sentar no mesmo.

- Queres alguma coisa?- Pergunto.

- Não, obrigado. Estou bem assim.- Sorrio e sento-me ao seu lado.- Aliás, acho que hoje abusei no jantar e na sobremesa... a minha sorte é que amanhã estou de folga, caso contrário teria a preparadora física a massacrar-me.

Ambos gargalhamos após o benfiquista ter proferido tais palavras, mas logo o meu sorriso desvanece ao deparar-me com o confronto entre o olhar de Samaris e a moldura que decora a pequena mesa instalada perto do sofá.

Eu e os meus filhos. Verão de 2017.

- Queres dizer alguma coisa?- Pergunto, fazendo com que Andreas me encare.

- Talvez sejas tu a querer fazê-lo...- Solto um suspiro e respondo com um encolher de ombros.

Olhar para aquela fotografia funcionou como um valente encontrão com a realidade. Realidade essa que eu não pensei por um único segundo durante todo o jantar com o Samaris. Aquelas breves horas que passamos juntos foram fora do normal... voltei a sentir-me a mulher que era antes.

- Tu sabes que eu não sou sempre a pessoa divertida, sorridente, tranquila que viste hoje... e o único medo que eu tenho é que tu te afastes... eu compreendo-o se o fizeres, mas a verdade é que, apesar de tudo, tu tens sido um dos meus suportes. Foste tu a única pessoa com quem eu tive coragem de falar sobre o que aconteceu...

- Achas que se eu me quisesse afastar, estaria aqui? Luz, eu não desisto de nada... muito menos daquilo que eu sei que vale a pena lutar.

Sorrio e pego na moldura que se tornou o centro desta conversa.

- Esta foto foi no Algarve. Foram as nossas primeiras férias. O Afonso estava sempre a tirar-nos fotos... o telemóvel dele estava constantemente cheio de fotos minhas e dos gémeos...

- O Afonso?- Engulo em seco e respiro fundo antes de prosseguir. Ia ser difícil. Eu sabia-o. Mas precisava de o fazer.

- O Afonso era o meu marido. E o pai dos meus filhos.- Revelo. Samaris não diz qualquer palavra. Mantém-se em silêncio, com toda a sua atenção depositada em mim.- Eu amava-o tanto e quando fiquei grávida foi a nossa maior alegria. Até que as coisas começaram a mudar...

- O que é que aconteceu?- O grego questiona e, inevitavelmente, algumas lágrimas começam a percorrer o meu rosto.

- Quando o Rodrigo e o Miguel nasceram, a nossa vida deu uma reviravolta enorme. Tinha dois bebés a dependerem de mim para tudo... e a verdade é que deixei o nosso casamento para segundo plano. Estava focada a 100% nos meus filhos, em cuidar deles. A partir de certa altura, sentia-me a perder o meu marido cada vez mais... e tive a certeza disso quando descobri que ele me traía quase todas as noites. Quis divorciar-me, mas o Afonso não deixou. Ameaçava que nunca mais iria ver os meus filhos. Ele era advogado, tinha imensos conhecimentos e eu sabia que, em caso de divórcio, eu não teria qualquer hipótese no que tocava à guarda dos gémeos.

- O que é que fizeste?- Samaris questiona.

- O que é que eu poderia fazer? Voltei atrás na minha decisão... não podia perder a única coisa boa que tinha na minha vida.- A esta altura, o meu rosto já se encontra lavado em lágrimas que caem quase de forma descontrolada. Estava a recordar a minha maior dor, mas eu sabia-o que essa dor não poderia estar melhor guardada, se não com o Samaris.- Foi no dia 30 de Janeiro de 2018. O Afonso chegou completamente bêbado a casa... agarrou-me à força... tentou forçar-me a estar com ele... mas eu recusei-me. Dei-lhe um estalo. E disse que não ia ceder mais a qualquer tipo de chantagem. Ia embora e os gémeos iam comigo. Ele não me deu tempo para dizer mais nada e a única coisa que me disse foi "Vais arrepender-te do que me estás a fazer quando estiveres no funeral dos nossos filhos."

Comecei a chorar descontroladamente. Tinha a terrível sensação de estar a ouvir a voz do Afonso na minha cabeça. Num ato inesperado, Samaris envolve-me no conforto do seu abraço. Pela primeira vez, sentia-me segura. Tinha encontrado nele o abrigo de que precisava.

Afasto-me ligeiramente do grego e respiro fundo.

- O Afonso levou-os com ele à força... eles choravam tanto e eu não conseguia fazer nada... uma mãe conhece cada tipo de choro do seu filho... e eu tinha a certeza que eles sentiam que estavam em perigo. Ali, eu tive a certeza que nunca mais os ia ver. Cerca de duas horas depois... recebo uma chamada... os meus filhos tinham morrido num acidente de carro com o próprio pai. Tiveram morte imediata. E eu só conseguia pensar que não fui capaz de salvar os meus filhos... que merda de mãe é que eu fui?

- Tenho a certeza que foste a melhor mãe para os teus filhos. Não tens culpa da morte deles. Não irias conseguir evitar o que quer que fosse, Luz. Pelo que percebi, o Afonso iria fazer tudo para se vingar de ti... e se não fosse com esse acidente de carro, seria de outra forma qualquer. Amaste e amas os teus filhos... e acredita que aguentares tanta coisa por eles, foi a maior prova de amor que lhes poderias dar. Tiveram um mau pai... mas para compensar, tiveram uma mãe de outro mundo. Vou guardar comigo cada lágrima e cada palavra que partilhaste comigo... mas a partir de agora, quero que guardes cada sorriso que eu te vou proporcionar.

- Obrigada... por estares aqui.- Sussurro antes de voltar a ser rodeada pelos fortes braços do jogador. Um aconchego inexplicável preencheu cada pedaço do meu interior. Afasto-me alguns milímetros, apenas para que posso encarar o moreno. O meu olhar desce até aos seus lábios e Samaris afasta alguns fios de cabelo do meu rosto. Ambos tínhamos a mesma vontade. E não foi preciso dizer nada para entender isso.

Unimos os nossos lábios num beijo que, ao início, se revelava calmo, mas que logo se intensificou. As nossas línguas entraram numa dança frenética numa demonstração de um enorme desejo. Afastei-me por breves segundos. Precisávamos de ar.

- Dorme comigo.- Falo, com um notável descontrolo na respiração.

Espero que tenham gostado!!

Ai, estes dois... eles precisam tanto um do outro! A Luz revelou-se totalmente... e o Samaris mostrou ser tudo aquilo que ela queria! 🥰

Até ao próximo capítulo!
Beijinhos

Luz ||SAMARIS||Onde histórias criam vida. Descubra agora