A agente penitenciária abre a van, fria como desde o princípio da viagem. A motorista não é mais simpática. Leram da sentença o trecho em que eu era declarada culpada (de quê?), e condenada a viver em uma das novas Casas Correcionais por tempo indeterminado, até que esteja curada de minha conduta doentia e atípica (qual?!?). Depois disso, regalaram-me com tão poucas palavras quanto foi possível, além de me acuarem, com um olhar que assustava de duro e ao mesmo tempo inexpressivo que era.
Desço da van um pouco contrariada. Naturalmente, pois não faço ideia do que me espera, neste lugar. A verdade é que temos afundado continuamente em incertezas há quase dois anos. Como tudo pode ter mudado tão rapidamente? Ainda não estou convencida de que fiz qualquer coisa merecedora de condenação. O que fiz de errado? "Lá, você compreenderá. Terá a chance de se arrepender e mudar", foi o que disseram. Baboseira! De qualquer modo, aqui estou, para ser corrigida como uma prova de escola. Aderir ao programa, segundo me disseram, é a minha última esperança de voltar à sociedade. Preciso ser curada(?).
Olhei em volta. Então é isso? Depois de tanto chacoalhar na estrada de barro cheia de lama, só poderíamos estar num fim de mundo, mesmo! A mata que nos acompanhara nos últimos quilômetros da estrada muda desde a entrada na propriedade formando então um polígono bem definido. Exceto por árvores frutíferas ainda pequenas que tentam fazer sombra do portal de entrada à fachada do discreto edifício, nenhuma outra árvore pode ser vista dentro do tal polígono. Que tipo de lugar é esse? Uma chácara? Uma fazenda?
De repente, vejo uma garota vir ao meu encontro. Seu sorriso aberto, encantador de tão franco, contrasta com a seriedade das minhas captoras. Veste uma bermuda jeans que não é exatamente curta, mas, deixa ainda ver parte das pernas bem cuidadas, e uma blusa folgada, de botões fechados e amarrada à cintura, sem deixar ver mais que dois dedos de um abdômen delicado. Jovem, com certeza! Talvez, demais. A tez alva dispensa maquiagem, adquirindo um rubor róseo ao menor sinal de sorriso, e seus cabelos lisos divididos em duas tranças loiras caem sobre seus ombros, como cascatas de ouro caindo sobre o leito de rubi de sua blusa. À medida que ela se aproxima, a franja esvoaçante me permite ver melhor seus olhos grandes e expressivos, brilhando à luz do sol que ilumina seu rosto.
— Ah! Que bom que você chegou! - exclama a bela jovem, sem perder o sorriso no rosto - Raíssa, não é?
— Raísa. - respondo meio constrangida por não conseguir retribuir a simpatia - Com som de "z".
— Me perdoe pelo engano! - é praticamente impossível não gostar dela, com tanta doçura e simpatia - Deixa eu me apresentar: sou a Rosa - estende-me a mão direita -, também tem som de "z" - soava mais como cumplicidade do que como ironia - e estou responsável por acomodá-la por aqui.
Atrás de mim, fecha-se a porta da van e o motor é ligado. Minha atenção é roubada por um instante, e olho para trás para ver o veículo dando a partida. Tarde demais para alimentar esperanças: Não há mais chance de retorno. Antes que eu olhe para frente e estenda também a minha mão, sinto um caloroso abraço me tomar. O abraço é forte, mas, não sufoca. Na verdade, passado o susto inicial, sinto acolhimento, conforto... O abraço quebra minha tensão em pedacinhos e me mergulha numa sensação de profundo relaxamento.
Retribuo o abraço.
Entramos no edifício diante do qual a van me deixou. Ele parece ficar exatamente no centro do polígono, e, por dentro, parece muito maior do que sua discreta entrada nos deixa perceber. Recém-construído em madeira forte, esse lugar parece ser cuidadosamente decorado para parecer algo familiar e acolhedor como uma casa no campo, mas, algo não deixa esquecermos que é sóbrio e organizado como um hospital.
— Você é a única da terceira leva de garotas, sua privilegiada! - revela Rosa - As meninas estão em suas atividades, mas, logo chegarão para o almoço. Venha, seu quarto fica nesse corredor. Então, você poderá ser apresentada... Esse é o seu quarto. Você poderá ser apresentada a elas muito em breve. São todas muito receptivas! - abriu a porta de um quarto - Você pode se acomodar, agora. Tome o tempo que precisar. Daqui a pouco, venho lhe chamar para um tour na nossa Casa.
"Correcional!", pensei. Casa Correcional! Fale sem omitir nada: aqui é um Casa Correcional, para onde são mandadas mulheres que foram sumariamente condenadas sem julgamento por um crime que ninguém ousa dizer explicitamente qual é! Mas, nem toda revolta que sinto posso expressar contra uma moça que me recebe tão bem, que é só simpatia para mim e, aparentemente, também não passa de outra detenta, uma outra vítima do sistema.
Rosa encosta a porta ao sair, e me deixa à vontade para me estabelecer.
O quarto é pequeno, mas, é suficiente. Uma cama encostada na parede à esquerda de quem entra, uma cômoda na parede oposta e um criado-mudo entre ambos, ao lado da cama, é o que cabe. Duas pessoas não conseguiriam dividir o espaço, mas, uma pessoa transita com conforto.
E o que eu poderia fazer para "me acomodar"? Chegara sem bagagem. Abro a primeira gaveta da cômoda. Meticulosamente arrumados, conjuntos de roupa para vestir se apresentam. Bermudas com blusas, no estilo que Rosa está usando; também calças, moletons e outras formas. Tudo bem composto, socialmente aceitável. Maravilha! Eu estou farta de usar aquela farda horrível que me obrigaram a usar desde que vinha da detenção na cidade, e então começo a me despir e escolho um conjunto parecido com o de Rosa.
Escolho uma camisa de um conjunto e a bermuda de outro, e me visto. Detesto que digam como tenho que me vestir!
A chegada foi tranquila. Tranquila demais, talvez.
E aí? O que você está esperando que aconteça? Algum palpite ou opinião? Conta pra a gente!
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Correcional
RomanceA jovem Raísa é presa sem razão aparente, julgada e condenada sem direito de defesa. A pena? Tratar-se para "curar" sua homossexualidade. Claro que ela não ficará passiva! Poderá Raísa sobreviver ao tratamento que lhe é dado? P.S. 1. Este Thrill...