Estou perdida! Mas, não vejo tanto sangue quanto quando foi a Samara. Eu vou viver. Puxo uma peça de roupa na minha bolsa, e amarro na ferida, tentando estancar o sangue. Não adianta. E, claro, não coloca meu fêmur no lugar.
Aaaaaiiii! Quanta dor!
Eu não acredito que nadei tanto para morrer na praia. Vou me arrastar até um dos carros. Espera. Deixa eu fazer uma coisa.
Desmonto o cano da espingarda, e pego a calça de moletom de dentro da bolsa. Tento improvisar uma tala com uma parte da espingarda de cada lado. Não consigo. E a escolha se demonstra estúpida, quando ouço ruídos vindos da mata, e tento me deitar no chão na vã esperança de não ser percebida.
— Mãos na cabeça!
Não! Eu não posso acreditar! São os soldados da mineração. Certamente, ouviram o tiroteio e vieram checar. Ele vem se aproximando de mim com uma arma apontada para meu rosto, e, quando menos espero...
Abro os olhos. Eu sou só dor. Estou sendo arrastada pelos cabelos! O corpo batendo nos obstáculos. Terra entrando na ferida da perna partida, que mais parece uma peça mole de borracha, exceto pela dor — látex não dói. Jogam-me na traseira de uma camionete. Sinto muito frio, e ligeiramente dormente. Devo estar perdendo bastante sangue! Não quero mais viver. Entrego-me.
Agora, estou novamente naquela sala ou seja lá o que for onde havia adquirido as escaras. Estou amarrada, novamente, ao leito. Já vi esse filme. Refletores queimando minha pele novamente. Eletrodos. Um bipe insuportavelmente regular...
— Ei! Alguém!!! — grito — Apareçam, seus covardes! Eu já estou morta! Venham terminar o serviço, ou terei que mostrar o como uma morta se vinga de quem a matou! Vou ser uma assombração na vida de vocês! Vocês não fazem ideia!
Percebo alguém passando com uma bata atrás dos refletores à minha direita. As luzes não me deixam ver nada. Mas, diferente da outra vez, eu não estou dopada. Não sinto minha perna direita, nem meu ombro e braço esquerdo, mas, consigo me mover um pouco. E, pelo menos, consigo erguer a cabeça o suficiente para olhar em volta.
— Seus covardes! Venham! Aproveitem e me estuprem novamente! Vilipêndio a cadáver, é esse o nome! Cadê os necrófilos? Sapatão é falta de rola? Continuo sapatão, seus imbecis! CONTINUO SA-PA-TÃO!!! SEUS PAUS PEQUENOS!!!
Algo em mim não está normal. Não consigo conter meus impulsos. Claro que estou revoltada! Mas, é mais do que isso. É como se eu tivesse bebido. O que vem à mente, eu digo, faça sentido ou não. Outra bata passa por trás dos refletores.
— Cadê? Não vão aparecer? Está aqui uma mulher que é mais macho do que vocês!
Duas pessoas se aproximam, uma de cada lado, vestidas de batas, máscara, touca e uns óculos com uma espécie de lupa pendurada. Não dá nem para identificar se são homens ou mulheres.
— Ah! Finalmente vieram dar o ar da graça! E agora? Qual é a próxima tortura?
— Você poderia ser mais específica no que diz sobre estupros?
Era uma voz feminina. Falou com uma suavidade que, em outros momentos, me tranquilizaria, me demonstraria que vinha com boas intenções. Mas, eu sei que é só protocolo. Como Rosa.
— O que houve? — ela insiste com a mesma suavidade — Estava tão falante, até agora. Explique o que quer dizer com estupros.
— Dois caras entram à noite, não é? Deixam aqueles envelopes estúpidos, com instruções sobre o que vosmecês sinhô e sinhá querem da gente? Andaram passando o rodo entre as mulheres da tão idolatrada Casa. Saem estuprando as mulheres, e chamando um ao outro de necrófilo, e respondendo que nossas carnes ainda estão quentes.
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Correcional
RomanceA jovem Raísa é presa sem razão aparente, julgada e condenada sem direito de defesa. A pena? Tratar-se para "curar" sua homossexualidade. Claro que ela não ficará passiva! Poderá Raísa sobreviver ao tratamento que lhe é dado? P.S. 1. Este Thrill...