Chegada

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Meses se passaram.

Assumiu nova direção na Casa Correcional e ela foi substancialmente modificada. O fracasso absoluto dos antigos dirigentes não foi aceito pelo Presidente. Esta Casa deveria ser uma vitrine de seu bem-sucedido Programa de Restauração Sexual, e esta vitrine agora está rodeada de tapumes! "Inaceitável!", disse o ministro da saúde, que veio pessoalmente ver o estado da Casa. "Agora devo eu ceder as Casas Correcionais, onde curamos nossos filhos e filhas do desvio, para o Ministério da Defesa?!". Como, afinal, ele poderia explicar à sociedade o que aconteceu com seu programa mais querido?

Mas, ainda bem que não vivemos mais em uma democracia! Não! Em democracias, o governo tem que prestar contas à população, ser transparente. E aí tudo fica lento, travado. A opinião pública encerraria este programa de restauração sexual e cairíamos novamente na "ditadura gayzista"! Não, de forma alguma, o nosso magnífico governo poderia fazer isso! O Programa se recriou! O Programa se reinventou! "Essa garota é o seu estudo de caso.", disse o Ministro, o indicador apontado para mim "Resolvam o caso dela, e poderão reabrir a Casa, com os novos métodos!". Sua determinação era séria, e foi assim levada adiante pelos funcionários.

Agora, não se usa mais o gás para nos fazer dormir: Apostam em hipnose, que é muito mais versátil para nos programar com um alguma eficácia, nesse e em outros aspectos de nossa reprogramação cerebral. Sob efeito da hipnose, acabamos fazendo tudo o que desejam, sem resistir. A nossa uniformização agora seguirá andando em frente, e as divergências serão eliminadas sem o uso de violência!

Há outras mudanças igualmente bem-vindas: Não há mais homens trabalhando aqui, em qualquer horário. Ah! e o gerador finalmente foi substituído.

Eu, quem diria, estou viva! E... bem, Raísa também foi reformada. Aquela Raísa que vocês conheceram... bem, a Raísa violenta, insubordinada e que gostava de meninas... é, Raísa morreu, não existe mais. O novo programa funcionou para mim, uma nova mulher, e assim há de funcionar para todas, a partir de agora. Sou um caso de sucesso. Sou finalmente o exemplo que elas podem — e devem — seguir. Sou a prova viva de que o sistema funciona!

Mas, espera. Eu posso ter dado a impressão de que há mais garotas aqui. Não, no momento sou só eu. Ao menos, por enquanto.

Estou na porta da entrada, ansiosa após algumas horas de espera. Vejo quatro Vans entrarem pelo portão. Espero as passageiras desembarcarem, e as agentes penitenciárias as ordenarem em filas.

Saio de dentro do imóvel, claudicante, com minhas pernas desiguais. Está mais difícil de andar, afinal, já quase ultrapasso a barreira dos nove meses de gravidez! Barriga, peso, inchaço nas pernas... tenho tudo o que uma grávida pode ter nessa fase da gestação, mas eu não sinto nada. Nem a dor, nem o peso, nem qualquer emoção. Nem pela gestação, nem pela vida. Sou um caso de sucesso. Sou finalmente o exemplo que elas podem — e devem — seguir. Sou a prova viva de que o sistema funciona. Sigo firmemente para cumprimentá-las, estampado no rosto o meu sorriso mais simpático.

— Ah! Que bom que vocês chegaram! Meu nome é Raísa. Sejam bem-vindas à nossa Casa! Vocês são a quinta leva de garotas a participar do programa, não é uma maravilha? Chegaram na nossa melhor fase: São umas privilegiadas! Venham, irei mostrar onde cada uma poderá se acomodar, e então poderemos fazer um tour, para conhecer todas as dependências do seu novo lar!

Não sinto atração por nenhuma delas, nem por mulher alguma. Não quero sair da Casa. Sou um caso de sucesso. Sou finalmente o exemplo que elas podem — e devem — seguir. Sou a prova viva de que o sistema funciona!

Acabou. Mas, espera: tem mais!

Não esqueçam de ler o epílogo!

Nem de votar, comentar, e divulgar o livro para os(as) amigos(as), se gostou. Ou para os(as) inimigos(as), se detestou!

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