Ataques

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Onde estou? Não me recordo muito bem como vim parar aqui. Estou numa espécie de ambulatório, ou algo parecido. Uma sala diferente, que não parece com nada na Casa. Será que aqui é lá? Ou me transferiram? Estou numa sala... não, um ambiente que não consigo enxergar. Há diversos refletores de todo lado voltados para mim, e não consigo ver nada além deles. O calor gerado pelos refletores briga com o frio intenso ar condicionado gelado, provocando enorme desconforto físico. Talvez, isso explique meu suor gelado. Talvez, não.

Sinto eletrodos em meu peito, ouço o bipe constante de uma máquina marcar meu batimento cardíaco. Há uma bolsa cheia de soro do meu lado, mas, o soro mais parece água de piscina, com um tom azulado... a cada gota, me pergunto o que estão colocando no meu organismo. Tento me mover, mas, não tenho forças. Não. Eu me sinto fraca, sim, com o corpo pesado, mas, há algo me segurando. Estou com braços e pernas atados. E o corpo. Essa posição está desconfortável!

Vamos, Raísa, você consegue! Qual é a sua última lembrança? Qual é a minha última lembrança?

Não lembro de nada. Meu coração se acelera, inquieto. Minhas costas doem. Toda pele debaixo do meu corpo dói, enquanto sinto que a pele exposta à luz arde.

Bip...

Bip...

Bip...

A sala parece estar rodando, e um enjoo me toma.

Bip... Bip... Bip...

De repente uma imagem me invade a mente. Uma senhora de boca aberta, sem a língua nem os dentes.

Bip... Bip... Bip... Bip...

E agora eu recordo toda a cena, inclusive o ataque de pânico que eu tive, do grito ensurdecedor que dei. As mulheres que avançaram sobre mim, e eu não sabia se me atacavam ou se vieram me acudir, e eu tive tanto medo que perdi o controle do meu corpo, que tremia como se fosse uma convulsão.

Bibibibibibibibibibibi!

Não consigo suportar a sensação do meu coração querendo sair pela boca, da pele queimando, das costas doendo, a lembrança das mulheres sem dedos, dentes, línguas e AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!!

Esbravejo um urro até exaurir o ar dos pulmões. Uma máscara é colocada no meu rosto.

Acordo novamente.

Do meu lado, um soro comum está acabando. Devo ter ficado apagada por horas! As luzes estão menos intensas. Abro mais os olhos. Melhor: os refletores não estão mais aqui. O corpo está meio dormente. Sinto-me calma... calma, não. Entorpecida. Estou... espera! Estou no meu quarto!

A porta se abre lentamente. Alguém entra, mas, o corpo dormente não me deixa me virar para a porta. Ouço uma voz falar:

— Parece que alguém acordou! — era a voz de Rosa. Ela veio ao meu campo de visão — Eu já estava preocupada. — saiu novamente do meu campo de visão — Você sente isso?

— Não. — a voz sai baixa, com dificuldade.

— Tudo bem. A dormência vai passar. Quer que eu fique aqui com você?

— O que está acontecendo?

— Você teve alguns ataques de pânico. Levaram você para... — ela respira fundo — Trataram você, e então a trouxeram de volta.

— Levaram-me pra que? Pra onde?

— Esqueça. É melhor!

Ela sabe. Está claro que sabe! Mas, faltam-me forças para insistir agora. Decido que esse assunto deverá ser retomado depois.

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