Comecei a escrever esse texto muitas vezes na minha cabeça, antes mesmo de te perder. Sempre me cobrando te escrever algo, como fiz uma vez quando criança. Um poema antigo; o tempo provavelmente o esqueceu numa gaveta sua, mas ele te fez feliz. Desde aqueles versos me cobrei te escrever mais. Nunca consegui. Talvez não tenha tentado o suficiente. Achei que teria mais tempo pra te amar. Acontece que agora nosso tempo na terra acabou e o tempo dos poemas também. Eu engulo soluços e as lágrimas escorrem, mas eu queria que lágrimas fossem palavras e queria que você pudesse ouvi-las. Eu te amo, tanto tanto. Muito muito. Eu me culpo agora por todas as vezes que, com medo de chorar, evitei te dizer isso. Você merecia ouvir o quanto era amada o tempo todo, porque você própria era feita de amor. Eu devia ter te abraçado mais, te feito sorrir mais, eu devia ter aprendido mais. Agora não me resta mais tempo, só saudade e um vazio enorme, no peito e na casa, que parece ter virado lar quando você chegou e mudou tudo. E esse tudo, ele lembra você, ele tem seu cheiro e seu bordado. O que ficou de você na terra é um abraço em ponto de cruz, no qual eu me enrolo e me perco de tristeza, porque sei que nunca mais vou te ver. Vó, eu vou viver de saudades de você. Me desculpa não ter sido mais presente, me desculpa não ter te procurado mais, me desculpa não ser forte igual a você e me desculpa não poder ter te escrito nada enquanto você podia ler. Hoje eu leio alto pra vc ouvir do céu.