Come Together

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Paul me guiou até sua casa. A chuva caindo sobre a gente fez com que todo o sangue que havia em seu rosto escorrer. Agora só os cortes eram visíveis.

Entramos e fomos diretamente para a cozinha, fazendo o mínimo de barulho. Não estava em nossos planos alguém ver dois jovens molhados e um deles com o rosto visivelmente machucado.

— Fique aqui, já volto — Paul disse, me dando um leve beijo na bochecha antes de sair do cômodo.

Agora era só eu, sozinha, e o barulho da chuva caindo do telhado. Apesar de estar molhada, não sentia frio, meu pensamento na verdade estava em como encarar Jim depois de seu surto. Nunca mais o tinha visto depois de me expulsar dali. Nem ele e nem Paul...

"Por que Paul não procurou por mim?"

Olhei para o lado e ele já tinha voltado. Paul trocara de roupa, agora a única coisa que estava molhada era seu cabelo. Olhei para suas mãos, ele trazia uma toalha e um kit médico.

— Então você estava falando sério em eu ser sua enfermeira, é? — soltei uma risada, enquanto ele colocava a toalha em meus ombros.

— Para mim você é muito mais do que só uma enfermeira... Também é o amor da minha vida — ele soltou um sorrisinho.

"Meu Deus, que flerte ruim."

— Pare quieto e deixa eu cuidar da sua cara antes que alguém veja.

Arranquei o kit de suas mãos e comecei a pegar o necessário. Abri um pacotinho de toalha umedecida e passei no seu rosto. Os cortes até que não eram tão profundos.

Coloquei uma mão em seu rosto para ter mais estabilidade, enquanto com a outra eu limpava ao redor das feridas. Percebi que Paul não parava de me olhar, tirando a minha concentração.

— Alguém alguma vez já te disse o quão bonita você é? — palavras saíam de seus lábios — Não consigo acreditar que eu te namoro. Um fracassado como eu namorando uma garota extraordinária como você — Paul olhou para o chão, envergonhado.

— Você não é um fracassado, tenho certeza de que no futuro você se dará mais do que bem. Paul, você é um homem brilhante — disse, enquanto terminava de limpar o resto de sangue ao redor da ferida — Eu não conseguiria me imaginar namorando outra pessoa além de você.

— Mas olha para mim, eu só faço merda. Além de fazer com que você fosse expulsa de casa, ainda consegui brigar com o meu melhor amigo — ele me olhou — Anna, me desculpe.

— Paul... Você sabe que não foi sua culpa.

— Tudo é minha culpa — seus olhos lacrimejavam.

Sem pensar duas vezes, ergui sua cabeça e o beijei na boca. Foi um beijo calmo e aconchegante.

— Nada acontece por um acaso, Paul — disse, me separando de seus lábios.

Ele sorriu, sem desgrudar seus olhos dos meus meus.

— Anna? — uma voz veio do corredor.

Eu e Paul demos um pulo de susto.

— Jim?!! — disse, chocada.

Jim parecia estar mais assustado que eu. Provavelmente tinha acabado de ver seu filho querido e uma vagabunda se beijando em sua cozinha.

— J-Jim, eu queria te pedir desculpas por- fui interrompida

— Não, Anna — ele se aproximou de nós dois — Eu que me desculpo. Não foi certo fazer aquilo com você.

Olhei para o chão, com um ar desapontado.

— Eu estava com a cabeça cheia naquele dia — continuou — Lembro que quando tinha acabado de dar a notícia que Angie e eu íamos nos casar, Paul não aceitou muito bem e saiu chorando, e claro, na minha cabeça isso foi tudo culpa sua — ele suspirou — Talvez porque vocês estavam tão próximos e esse menino — apontou para Paul — nem ligava mais para mim. Então, o melhor jeito era fazer com que você saísse da vida dele...

Não acredito que isso tudo passou por sua cabeça naquele momento.

— Pera aí, então quer dizer que o meu PRÓPRIO PAI, que já sabia que eu GOSTAVA de uma garota, fez com que ela fosse EMBORA só porque eu não passava tanto tempo com ele do que antes?! — Paul disse, exaltado.

Eita, então desde aquele tempo ele já gostava mim? Como eu era tão cega?

— Sim... E eu sinto muito, me desculpe... — Jim falou — Desculpe-me aos dois. Prometo que não acontecerá de novo...

Eu e Paul aceitamos.

— Então quer dizer que vocês dois estão juntos, é? — Jim disse soltando uma risada provocadora, enquanto se encostava na porta.

Eu e Paul nos olhamos. Fiquei vermelha.

— Agora eu sei o que você e mamãe sentiam enquanto estavam juntos — Paul disse, pegando na minha mão.

Eu o olhei, abrindo um sorriso.

— Então quer dizer que VOCÊ vai se CASAR?! — falei — Achei que o senhor já estava velho para essas coisas — ri.

— Epa, epa, senhorita. Tá querendo ser expulsa de novo? Sempre fui um galã, independente da idade — ele falou em um tom irônico — Para a sua informação nos casaremos em breve, e a senhora está totalmente convidada, viu?

— Pode deixar — ri.

Ele olhou em silêncio para a parede.

— Queria que Mary pudesse ver isso... — Jim disse em voz baixa — Ou a Pati... Faz tempo que não a vejo.

— Quem? Aquela que te abandonou? — Paul perguntou.

— Ela não me abandonou — Jim falou, parecendo tentar enganar a si mesmo — Ela só saiu de férias...

Eu e Paul nos olhamos, entrando em consenso que o pai dele era iludido.

Fomos logo interrompidos pela campainha. Nós três nos olhamos com cara de que não fazia ideia de quem era. Jim falou para irmos atender, que ele tinha outras coisas para fazer. Dito e feito. Paul e eu atravessamos o corredor e ele abriu a porta. Nenhum de nós dois conseguia acreditar no que estava na nossa frente.

Era George e Ringo. George segurava um balão escrito "Ela aceitou!" enquanto Ringo segurava uma caixa de bombom em forma de coração escrito na tampa "Feliz Dia Dos Namorados, XOXO".

Paul começou a rir.

— Eu sei que não é dia dos namorados mas... Estava na promoção... — Ringo disse.

Não sabia se ria ou chorava.

— O que está acontecendo?? — perguntei, alternando meu olhar nos três.

— Anna, esqueci de te contar... — Paul segurava a risada — Não só Dorothy, como George e Ringo também concordaram em me ajudar — ele os encarou — Mas eu com certeza não esperava eles virem com isso.

George pareceu incomodado.

— Cê queria o que? Dia dos namorados foi semana passada, é óbvio que a gente iria pegar o que sobrou na prateleira.

— O único proveito disso foi que a moça do caixa era uma gatinha — Ringo disse, soltando um sorrisinho de lado.

Ergui as sobrancelhas, espantada. Ele riu.

— Mas e aí, Anna? — George perguntou — Aceitou ou percebeu o quão melhor eu sou do que ele?

— HÁ! Como se ela fosse namorar com você, até o sem-teto da esquina é melhor que isso, George — Paul riu.

— Também tenho certeza de que esse mesmo sem-teto tem uma giromba maior do que a tua — George provocou.

Eu o lancei um olhar de espanto.

— COMO VOCÊ SABE? — disse, horrorizada mas com um pingo de malícia.

Paul começou a ficar irritado.

— Ei, ei, ei, parou, bando de retardado — Ringo se meteu no meio — Hoje é um dia especial, não vamos arruinar. Certo, George? — ele lançou um olhar penetrante no menino.

— Tanto faz, eu só estou aqui pelo chocolate mesmo — ele arrancou a caixa da mão de Ringo e me entregou — O casal aqui tem que abrir isso logo, que daí eu roubo uns — ele disse.

Eu e Paul ficamos sem palavras. Ele só fez um sinal para que entrassem e rapidamente todos já tinham se acomodado na sala.

She's Leaving Home (PT-BR) - TERMINADAOnde histórias criam vida. Descubra agora