You Really Got a Hold On Me

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— Anna, você está bem? — acordei com Paul me dando tapinhas na bochecha.

Me ergui em um segundo. Dei uma olhada melhor ao meu redor e percebi que ainda estávamos no Cavern, porém na calçada. Não fazia ideia de como vim parar aqui. Lembro de ter tropeçado e alguém me ajudado, nada mais. Não tive nem tempo de olhar quem era.

Avistei George voltando com uma porção de batata frita, será que ele tinha ganhado o desafio? Ergui as sobrancelhas de surpresa.

— Eae, Anna — George falou enquanto pegava uma batata — Bebeu de mais, foi? Sortuda, tentei pedir umas duas vezes mas me negaram — ele bufou pelo nariz. — Porcaria de idade.

Paul estava preocupado, me perguntava o que tinha conhecido e por que eu saí de lá. Em primeiro lugar, nem eu sabia como. Segundo, mesmo se eu soubesse, não conseguiria nem olha-lo nos olhos para falar. Aquela cena ainda reprisava na minha cabeça.

Levantei, dizendo que estava perfeitamente bem enquanto limpava minha calça. Paul tentou me tocar, talvez para me consolar ou alguma coisa do tipo, mas esquivei. Não queria ele perto de mim.

George me ofereceu a última batatinha. Recusei, sentia que meu estômago estava revirado. Será que eu tinha vomitado? De qualquer jeito, ele abriu a boca e enfiou a pobrezinha goela abaixo.

Paul nos interrompeu, disse que era melhor irmos, já estava tarde e provavelmente uma bronca nos esperava em casa. Concordei e fui me despedir de George. Agradeci pela noite e dei um beijo em sua bochecha, seu corpo cheirava a bebida.

Quando estava me distanciando, ele segurou meu braço e sussurrou "espero que nos encontremos mais vezes, Anna" em um tom sedutor. Eu ignorei, não estava com paciência para isso, e fui embora para alcançar Paul, que aparentemente me deixara sozinha com ele.

Caminhávamos silenciosamente pela calçada. Os postes de luz eram o único brilho vindo das ruas, e o som dos nossos passos na calçada quebravam o silêncio da escuridão. O barulho dos grilos era a melhor coisa, me relaxava.

Uma vez ou outra víamos grupinhos de pessoas bem suspeitas em uns becos, mas não seria eu que os impediria de vagabundear tarde da noite.

Como previsto, Jim nos deu uma baita duma bronca quando chegamos. E ainda proibiu Paul de nunca mais chegar depois das 10. Eu só observava e tentava não rir.

Não fazia ideia de que horas eram, só disse boa noite e me deitei no sofá. Nem tive tempo de trocar de roupa, estava tão exausta que só me cobri e em poucos segundos caí no sono.

- - - - -

— POR FAVOR NÃO ME MACHUQUE. — eu berrava.

Uma figura preta se aproximava de mim. Ela era alta e fina. Seus longos braços tentavam me segurar. Eu não enxergava nada a minha volta. Eu estava sozinha e com medo.

— Por favor, não... — minha voz foi diminuindo. Eu soluçava de tanto chorar.

Ela me encurralou, seus braços me cercaram. Suas mãos alcançaram meu pescoço, estrangulando-me. Elas queimavam minha pele nua. A dor era insuportável. Eu tentava gritar mas não conseguia. Não tinha forças para usar a minha voz.

A criatura estava prestes a falar alguma coisa, quando Paul me acordou. Ele segurava meus ombros, sua cara era de preocupação.

— Por favor, não... — eu ainda repetia a cena na minha cabeça.

Paul me segurou firme.

— Ei, ei — nossos olhares se encontraram — Tá tudo bem — ele levou minha cabeça até seu peito. — Está tudo bem agora — a voz dele era tranquilizante.

She's Leaving Home (PT-BR) - TERMINADAOnde histórias criam vida. Descubra agora