O nervosismo tomou conta de mim na hora em que os ouvi entrando. A porta
ainda nem estava aberta quando eu descobri uma grande vantagem em contar a verdade a
eles dali a três anos. Mas já era tarde demais, pois nessa atura do campeonato o Renato já
deveria ter contado tudo aos pais dele.
- Marcus?
Era minha mãe entrando em casa.
- Tudo bem, filho? Você pode ajudar seu pai a pegar algumas coisas no carro?
Voltei para a sala carregando um enorme saco de laranjas.
- Mãe, onde eu ponho isto?
- Coloque na cozinha, filho.
- Meu pai gritou da garagem:
- Marcus? Me ajude a pegar o saco de batatas.
Carregando as batatas para a cozinha, perguntei à minha mãe se eles não haviam
exagerado na quantidade de coisas que haviam trazido. Ela me respondeu que ainda era
pouco, que na verdade tudo aquilo seria enviado para a creche na Segunda-feira.
Eles entraram, se acomodaram e, enquanto minha mãe fazia o tradicional café de
Domingo à tarde, fiquei pensando em qual seria a melhor forma de contar a eles. Seria
falando com os dois ou com apenas um deles? Mas também se fosse com apenas um, qual
deles seria? Minha mãe sempre foi de entender o problema dos outros, tanto que ela
participa de inúmeros projeto junto à comunidade. Quanto a meu pai, era difícil saber.
Nós pouco conversamos. Na verdade eu não sabia muita coisa dele.
Fiquei na sala com eles, esperando o momento certo para falar. Na verdade, eu me
sentia cada vez mais impaciente por não saber como começar. Ao mesmo tempo que
desfrutava toda a intimidade que uma família podia ter, eu também me sentia distante
deles em diversos assuntos.
O tempo foi passando, e quando o cuco marcou oito horas da noite tive a certeza
de que não poderia esperar mais. Minha mãe fazia tricô e meu pai quase dormia
assistindo à TV, quando me levantei e, próximo ao aparelho de som, falei:
- Pai, mãe, eu preciso falar com vocês.
Como sempre, minha mãe foi a primeira a responder:
- Pode falar, filho.
- Pai, mãe, não é assim que eu quero falar.
Quando eu disse isso, meu pai olhou para mim com um ar de preocupação e
perguntou:
- Aconteceu alguma coisa, filho?
Eu não respondi, e ele tornou a perguntar:
- Fala, filho! Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu, pai, ou melhor, vem acontecendo.
Assustados, os dois olharam para mim.
- Posso desligar a TV, pai?
Desliguei a TV e sentei no sofá menos quase de frente para eles. Meu pai não
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Eterno Amor (romance bissexual)
RomanceEterno Amor, fala de amor, de paixão e de liberdade. Reflexivo no final, acredito que sua leitura, indicada para todo segmento da sociedade venha contribuir de forma positiva para o fortalecimento do respeito a que todo ser humano tem direito.